domingo, 29 de janeiro de 2023

QUE OS NAZIS PAREM DE ATENTAR CONTRA A DIGNIDADE DE TODA A HUMANIDADE!

“Angola acaba de perder a oportunidade de, em nome da paz, dissuadir a hegemonia unipolar no sentido de não injectar mais armamentos que agora podem conduzir à catástrofe nuclear, a única forma de não serem mais derrotados”…https://frenteantiimperialista.org/medianoche-nuclear-martinho-junior/   

CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Martinho Júnior, Luanda

Combater o nazismo é recorrente para todos os que respeitem a Carta das Nações Unidas e não só uma obrigação para os 4 signatários da Declaração das 4 Nações, assinada em Moscovo a 30 de Outubro de 1943 ainda a IIª Guerra Mundial estava em curso!

Quando os estados individualmente assinam seu compromisso com a Carta da ONU, é para a honrar, substancialmente honrar com determinação em relação às ideologias e práticas nazis, mesmo que alguma das 4 Nações signatárias (actuais membros do Conselho de Segurança), venha a acobertar essas ideologias e essas práticas, como acontece hoje com todas as evidências com os Estados Unidos e o Reino Unido “providenciando” uma hegemonia unipolar que usa a força eminentemente anglo-saxónica!…

São essencialmente os anglo-saxónicos que disseminam as ideologias e práticas de conspiração neonazis, esquecendo da raiz do seu próprio papel na IIª Guerra Mundial, quando reconheciam que todo o peso da “desnazificação” recaía sobre a União Soviética!

É o que nos indica sem margem para dúvidas (num condensado com raízes histórias), os artigos 106 e 107, do Capítulo XVII, no que toca às Disposições Transitórias sobre Segurança:

“Artigo 106. Antes da entrada em vigor dos acordos especiais a que se refere o artigo 43, que, a juízo do Conselho de Segurança, o habilitem ao exercício de suas funções previstas no artigo 42, as partes na Declaração das Quatro Nações, assinada em Moscou, a 30 de outubro de 1943, e a França, deverão, de acordo com as disposições do parágrafo 5 daquela Declaração, consultar-se entre si e, sempre que a ocasião o exija, com outros membros das Nações Unidas a fim de ser levada a efeito, em nome da Organização, qualquer ação conjunta que se torne necessária à manutenção da paz e da segurança internacionais.

Artigo 107. Nada na presente Carta invalidará ou impedirá qualquer ação que, em relação a um Estado inimigo de qualquer dos signatários da presente Carta durante a Segunda Guerra Mundial, for levada a efeito ou autorizada em consequência da dita guerra, pelos governos responsáveis por tal ação.”

REPÓRTER COM SORTE E OS BONS AMIGOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Repórter com sorte sou eu. Um dia fui ao Longonjo reportar exorcismos do senhor padre da vila. O homem era o terror de diabos, diabinhos e diabretes que se instalavam na alma de pessoas simples, humildes, crédulas e com algum poder financeiro porque cada exorcismo custava os olhos da cara. A sua “médium”, uma senhora gorda, com as banhas ondulando sempre que dava um passo, entrou na igreja farejando almas danadas. Parou junto de mim e do repórter fotográfico, estremeceu, apontou para nós e desatou aos gritos: Porco sujo! Porco sujo! Porco sujo!

No templo levantou-se um clamor e centenas de dedos apontavam para nós: Porco sujo, porco sujo! Dei o sinal de alarme e fugimos dali a sete pés. Por sorte, o carro estava mo adro da igreja e conseguimos escapar do linchamento. Repórteres com sorte é isto.

O semanário Sul, do senhor Ginjeira, dono da fábrica de conservas Atlântico, na Baía Farta, descobriu Nossa Senhora nos canaviais de açúcar entre Benguela e Lobito. O repórter, Costa Santos, todas as semanas reportava pormenores das aparições. 

Um dia estava a beber um copinho (coisa leve…) na Restinga e descobri que a Nossa Senhora era uma secretária tradutora do CFB. Um grupo de boémios resolveu fazer essa brincadeira. A senhora, de madrugada, envolta num lençol branco e com uma vela acesa na mão, colocava-se no meio das canas-de-açúcar, na zona de Damba Maria. Quem fora de horas circulava na estrada Benguela-Lobito via o milagre. Essa descoberta confirmou o meu título der repórter com sorte.

Hoje mais do que nunca posso considerar-me um sortudo. Quando era miúdo, no tempo dos aguaceiros diluvianos, a força da água rasgava regos nas encostas onde estavam plantados os paus de café. O meu pai tratava imediatamente de tapar essas fissuras com pedra miúda. Depois com um maço pesado, as pedrinhas eram compactadas. É assim que começam as “ravinas”. E é assim que não progridem. Repórter com sorte.

Em Angola as “ravinas” chegam a abismos porque ninguém ganha dinheiro a colocar pedrinhas nos regos formados pelos aguaceiros. Quando a coisa está mesmo muito profunda e ameaça casas, casebres e tugúrios então resolve-se o problema. Mas aí já custa milhões e chovem as comissões. Estão a perceber? Sorte do repórter saber estas coisas.

Marrocos é primeiro país africano a enviar tanques a Kiev. Esqueçam o Sahara Ocidental!

Jennifer Holleis | Deutsche Welle

A decisão marroquina de enviar tanques para a Ucrânia, revelada pela imprensa, é tida como uma mudança na política externa do país. E Marrocos não o faz só por acreditar na causa ucraniana.

Marrocos foi recentemente alvo de muitas críticas por parte do Parlamento Europeu pelo facto de, no início de janeiro, a Justiça marroquina ter condenado dois jornalistas, Omar Radi e Soulaimane Raissouni, a seis e cinco anos de prisão, respetivamente.

Os jornalistas alegam que foram processados por causa das críticas que fazem às autoridades marroquinas. Em resposta, membros do Parlamento Europeu exortaram Marrocos a "respeitar a liberdade de expressão e de imprensa".

A relação da União Europeia (EU) com Marrocos já estava tensa após o escândalo de corrupção que abalou o Parlamento Europeu, em dezembro. Membros do organismo europeu foram acusados de aceitar subornos do Catar e de Marrocos - acusações que têm sido repetidamente negadas por ambos os países. O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Nasser Bourita, queixou-se de "assédio" por parte dos europeus.

As atuais tensões com o Parlamento Europeu colocaram Marrocos numa "situação difícil face aos europeus", confirmou Isabelle Werenfels, membro do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

O potencial agrícola da África pode contribuir para acabar com a fome no mundo

A África pode alimentar os famintos de hoje e ser o celeiro do mundo. Tem esse potencial. Infelizmente, não se pode comer potencial.

The África Report | # Traduzido em português do Brasil

O potencial, apoiado por políticas favoráveis, um ambiente de negócios propício e tecnologias inovadoras, é o que cria colheitas, alimentos nutritivos na mesa e riqueza em toda a vasta cadeia de valor da agricultura.

A transformação da produção de alimentos da África é fundamental para alcançar a Fome Zero — um dos principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

A Declaração de Malabo de 2014 da União Africana comprometeu os estados africanos a acabar com a fome até 2025 por meio de “crescimento agrícola acelerado e transformação para prosperidade compartilhada e melhores meios de subsistência”.

Avanço rápido para sete anos depois. Há um impulso real por trás das aspirações da África de se alimentar, em vez de depender de importações insustentáveis ​​de alimentos . Os países estão dando passos gigantescos.

Por exemplo, técnicas agrícolas inovadoras, incluindo novas sementes de variedades de trigo e milho resistentes ao calor e à seca, estão impulsionando drasticamente a produção agrícola. Eles estão mudando vidas e beneficiando mais de 80 milhões de pessoas.

A GUERRA NA UCRÂNIA PARA MANTER A UNIÃO EUROPEIA SOB TUTELA

Thierry Meyssan*

É difícil admitir, mas os Anglo-Saxões não o escondem. Parafraseando uma citação célebre do primeiro Secretário Geral da Aliança, A OTAN foi concebida para « conservar a Rússia fora, os Americanos dentro e a União Europeia sob tutela ». Não há nenhuma outra interpretação possível sobre a continuação das inúteis « sanções » contra Moscovo e dos vãos combates mortíferos na Ucrânia.

Faz já um ano que o Exército russo entrou na Ucrânia para aplicar a Resolução 2202 do Conselho de Segurança. Rejeitando este motivo, a OTAN considera, pelo contrário, que a Rússia invadiu a Ucrânia para a anexar. Nos quatro “oblasts”, os referendos de adesão à Federação da Rússia parecem confirmar a interpretação da OTAN, salvo que a História da Novorossia confirma a explicação da Rússia. As duas narrativas desenrolam-se em paralelo, sem jamais se tocarem.

Pela minha parte, tendo editado um boletim diário durante a guerra do Kosovo [1], recordo-me que a narrativa da OTAN à época era contestada por todas os agências de imprensa dos Balcãs, sem que eu tivesse meio de saber quem tinha razão. Dois dias após o fim do conflito, jornalistas dos países membros da Aliança Atlântica puderam ir até lá e constatar que haviam sido enganados. As agências de notícias regionais tinham razão. A OTAN não tinha parado de mentir. Mais tarde, quando eu era membro do governo líbio, a OTAN, que tinha um mandato do Conselho de Segurança para proteger a população, alterou-o a fim de derrubar a Jamahiriya Árabe Líbia, matando 120. 000 pessoas que ela era suposta proteger. Estas experiências mostram-nos que o Ocidente mente sem vergonha para encobrir as suas acções.

Hoje em dia a OTAN garante-nos que não está em guerra, uma vez que não colocou homens na Ucrânia. Ora, assistimos por um lado a gigantescas transferências de armas para a Ucrânia, para que os nacionalistas integralistas ucranianos [2], treinados pela OTAN, resistam a Moscovo (Moscou-br) e, por outro lado, a uma guerra económica, também ela sem precedentes, para destruir a economia russa. Tendo em conta a amplitude desta guerra por interpostos Ucranianos, o confronto entre a OTAN e a Rússia parece possível a qualquer instante.

Uma nova Guerra Mundial é, no entanto, altamente improvável, pelo menos a curto prazo: no entanto, os actos contradizem já a narrativa da OTAN.

A guerra continua e prossegue sem parar. Não que os dois campos estejam em paridade, mas porque a OTAN não quer enfrentar a Rússia. Vimos isso, há três meses, durante a Cimeira (Cúpula-br) do G20, em Bali. Com o acordo da Rússia, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, interveio nos debates por vídeo, desde Kiev. Ele pediu a exclusão da Rússia do G20, como acontecera com o G8 depois da adesão da Crimeia à Federação da Rússia. Para sua grande surpresa e dos membros da OTAN presentes na Cimeira, os Estados Unidos e o Reino Unido não o apoiaram [3]. Washington e Londres acordaram que havia uma linha a não ultrapassar. E por um bom motivo: as modernas armas russas são muito superiores às da OTAN, cuja tecnologia data dos anos 90. Em caso de confronto, não há qualquer dúvida que a Rússia certamente sofreria bastante, mas que ela iria esmagar os Ocidentais em poucos dias.

É à luz deste acontecimento que devemos reler aquilo que se passa à frente dos nossos olhos.

O afluxo de armas para a Ucrânia não passa de um engodo : a maioria dos materiais enviados não chega ao campo de batalha. Já havíamos anunciado que eles estariam a ser enviados para desencadear uma outra guerra no Sahel [4], o que o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, publicamente confirmou, atestando que muitas armas destinadas à Ucrânia estavam já em mãos dos jiadistas africanos [5]. Além disso, constituir um arsenal do género manta de retalhos, ao adicionar armas de idades e calibres diferentes, não serve para nada. Ninguém tem logística suficiente para abastecer os combatentes com munições múltiplas. Deve-se concluir, portanto, que estas armas não são dadas à Ucrânia para que ela vença.

O New York Times deu o alerta explicando que os fabricantes ocidentais da Defesa não conseguiam produzir armas e munições em quantidade suficiente. Os stocks (estoques-br) estão já esgotados e os exércitos ocidentais são forçados a dar o material que é indispensável à sua própria defesa. Isso foi confirmado pelo Secretário da Marinha dos EUA, Carlos Del Toro, que chamou a atenção face ao actual despojamento dos exércitos americanos [6]. Ele precisou que se o complexo militar-industrial dos EUA não conseguisse, em seis meses, produzir mais armas do que a Rússia, o exército dos EUA não mais seria capaz de cumprir a sua missão.

Primeira observação : mesmo que os políticos dos EUA queiram desencadear o Armagedom, eles não dispõem dos meios para o fazer nos próximos seis meses e não os terão provavelmente, de qualquer forma, no futuro próximo.

BANDERA, NAZI DA UCRÂNIA E CAMPEÃO DO OCIDENTE

Stepan Bandera, nazi ucraniano, combatente com Hitler e assassino em massa de dezenas de milhares de judeus e resistentes comunistas, está a tornar-se cada vez mais o herói dos “democratas” do Ocidente. Quando não o esquece, a imprensa falsifica a sua história, transformando o carrasco num nacionalista glorioso; de qualquer modo não era ele, em 1945, um agente americano? O que demonstra que existe um paraíso para os nazis.

Annie Lacroix-Riz *

A guerra na Ucrânia foi lançada pela Rússia após oito anos de agressão ucraniano-ocidental (2014-2022) contra a população de língua russa do Leste Ucraniano. As suas 14.000 mortes, na sua maioria civis, tinham interessado tão pouco os nossos principais meios de comunicação social como os do Iraque, Sérvia, Afeganistão e Síria, atacados desde 1991 pelos Estados Unidos na sua busca global de controlo do petróleo e gás e de outras matérias-primas, sob a cobertura da NATO sujeita a comando único norte-americano desde a sua fundação (1950). A coligação ocidental, que desde o início ridicularizou o objectivo oficial russo de “desnazificação” anunciado em Fevereiro de 2022 - em conformidade com os “princípios políticos” consagrados no Protocolo da Conferência de Potsdam (1 de Agosto de 1945) - afirma estar a agir contra a Rússia em nome da “democracia” (o novo nome do “Mundo Livre” da era soviética). À medida que a guerra se prolongava, o “Ocidente” fez evoluir o conceito de “democracia” e “encobriu” a veneração do Estado ucraniano “aliado” pelos seus criminosos de guerra e de antes da guerra. Assim, erige o nazi ucraniano Stepan Bandera (1909-1959) em arauto da “independência ucraniana”: uma ligeira falha que lhe perdoa tal como perdoa à “democracia” ucraniana pós-Maidan a promoção de agrupamentos nazis e os espancamentos que o bilionário Zelenski, digno sucessor do bilionário Poroshenko, administra ao povo ucraniano: destruição do código do trabalho, dos horários aos salários, e a proibição dos partidos e jornais da oposição, exigida pelos “investidores” norte-americanos.

Bandera só se tornou um “herói nacional” depois da “Revolução Laranja” americana de 2004, e especialmente depois do golpe de Estado de Maidan organizado por Washington em Fevereiro de 2014 contra um intolerável governo ucraniano, legal mas pró-russo. A sua orquestradora, a Secretária de Estado Adjunta para os Assuntos Políticos, Victoria Nuland, uma madona neoconservadora do National Endowment for Democracy (CIA) e russofóbica (e sinófóba) compulsiva, está à frente do seu posto ucraniano desde 1993, sob gestão democrata e republicana (excluindo a presidência Trump). Confessou em 13 de Dezembro de 2013 perante o National Press Club, numa conferência financiada pelo grupo petrolífero Chevron, e depois em 15 de Janeiro de 2014 perante a Comissão de Política Externa do Senado, que o governo americano tinha, desde a queda da URSS, “gasto cinco mil milhões de dólares” para conseguir o triunfo da “democracia” na Ucrânia e que a Chevron tinha em 5 de Novembro do ano anterior assinado um acordo para um investimento de dez mil milhões de dólares em sondagens que acabariam com a “dependência do país em relação à Rússia” . A Sra. Nuland, cantineira dos putschistas de Maidan, fabricou desde então os governos ucranianos e presidiu, com o resto do aparelho de Estado, ao rearmamento da Ucrânia até aos dentes, que Washington integrou de facto nas operações da NATO desde Julho de 2021.

A intimidade dos EUA com o nazismo ucraniano em geral precedeu a queda da URSS. O seu interesse na caverna Ali Baba ucraniana, como o de todos os imperialismos, nunca cessou desde a “abertura” da Rússia czarista, que lhe tinha cedido a sua economia moderna e concentrada, da banca às matérias-primas. Como o Reich ocupou por muito tempo a frente da cena ucraniana, especialmente desde a Primeira Guerra Mundial, os bancos americanos acompanharam os do Reich no período entre guerras. Mas no papel secundário então ditado pela primazia alemã.

Porque o Reich, a primeira potência a reconhecer a Rússia em 1922, tinha vantagem na Rússia soviética, tratada como pária pela “comunidade internacional” imperialista. Mesmo na Ucrânia, que tinha arrancado em 1918 (até à sua derrota em Novembro) à Rússia, assediada entre 1918 a 1920 em todas as frentes por catorze potências imperialistas, e que os bolcheviques reconquistaram após 1920. Ao reconhecer o Estado soviético, Berlim recuperou a sua capacidade de incomodar, “com a cobertura” do Vaticano: auxiliar do Reich desde o final do século XIX e ainda mais depois de 1914, a Cúria encarregou o clero católico alemão de levar a cabo a espionagem militar preparatória para o novo assalto projectado.

MUNIÇÕES SUJAS NUMA GUERRA SUJA

O canhão de 120mm dos tanques Leopard 2, a serem fornecidos ao regime nazi da Ucrânia, poderá utilizar munições de urânio empobrecido (depleted uranium). 

Se isso se verificar o destino daquele pobre país será semelhante ao do Iraque e da Juguslávia, até hoje poluídos por resíduos e pós radioativos com efeitos teratogénicos.

Os crimes do imperialismo e dos seus vassalos europeus seguem em contínuo.

Resistir.info

"JOGOS OLÍMPICOS" DO RACISMO NOS EUA É SECULAR E SISTEMÁTICO

A história não se repete, mas rima

José Mendes* | Diário de Notícias | opinião

Nos Estados Unidos há uma espécie de jogos olímpicos policiais, que consistem em espancar cidadãos de cor escura. Este ano, foi a equipa de Memphis, constituída por cinco agentes da autoridade, que protagonizou o espancamento do jovem negro Tyron Nichols, causando-lhe a morte. Não há tradição de o acontecimento ser objeto de transmissão televisiva, mas uma câmara de vídeo pendurada num poste de iluminação pública estragou o secretismo daquele que é um dos mais mal guardados segredos da nação americana: a violência policial de motivação racial. No final desta semana, as pessoas vieram para a rua em várias cidades para, de novo, protestar. Ao ler a notícia e ver o vídeo, a minha mente recuou 31 anos.

Abril de 1992. Bem no centro da América, na cidade de Brookings do estado de North Dakota, senti uma rabanada de vento gelado do norte, seguramente oriundo do Canadá. O meu treino diário estava completo e a noite aproximava-se, pelo que me dirigi para o "dorm" da SDSU, a Universidade Estadual que, juntamente com uma estação próxima de rastreamento de satélites, me havia atraído para fazer parte da investigação do meu doutoramento. Pelo caminho, alguém me avisou, num inglês indígena, nem sempre percetível, que estavam a pegar fogo à América!

Quando liguei a televisão, lá estava. Multidões em grandes cidades como Los Angeles, São Francisco, Las Vegas, Atlanta e Nova Iorque pegavam fogo a tudo. As ruas e as montras eram destruídas por hordas de pessoas, numa mescla de protesto, de roubo e de violência que assustavam só de ver. A situação foi resolvida com intervenção militar, deixando para trás 59 mortos, mais de dois mil feridos e prejuízos de um bilião de dólares.

A razão de tudo aquilo tinha sido a absolvição dos quatro polícias brancos que, um ano antes, tinham espancado um condutor negro, de nome Rodney King. No dia do acontecimento, o jovem de 25 anos, que estaria em liberdade condicional, conduzia um automóvel, com dois amigos, alegadamente alcoolizados. Deu-se a perseguição até à detenção, após o que a equipa policial, com o homem no chão e indefeso, iniciou o ritual de murros, pontapés e bastonadas que só está ao alcance dos mais motivados racistas. Tal como em 2023, a cena não deveria ter sido registada, mas uma câmara de vídeo inoportuna filmou o feito e a gravação tornou-se pública.

O julgamento de King foi repetido um ano depois e dois dos quatro agentes foram condenados. Num processo separado, a cidade de Los Angeles foi obrigada a entregar uma indemnização de 3,8 milhões de dólares.

Apesar da força e dos méritos da democracia americana, há um substrato racial, sobretudo nos estados do sul, que se esconde, mas que emerge demasiadas vezes. Remete historicamente para os séculos da escravatura, inventada pela Europa, praticada em África e exportada para a América. Em pleno século XXI, nenhum de nós esperaria que existisse em organismos coletivos e públicos, como as polícias. O advogado de King foi muito enfático quando afirmou o seguinte: "Finalmente, conseguimos filmar o Monstro do Lago Ness".

Confirma-se a frase atribuída a Mark Twain: "A História não se repete, mas rima". Assim foi com Rodney King, em 1991; e com Tyron Nichols, em 2023.

*Professor catedrático

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