Artur Queiroz*, Luanda
Na Academia Militar do Lobito acabou mais um curso de oficiais. A cerimónia de final do curso estava muito concorrida, sobretudo com familiares das e dos cadetes. Eu estava lá porque o meu afilhado era um dos garbosos finalistas. A meu lado um casal babado. O seu filhote estava começando uma carreira militar. Quando a formatura passou à nossa frente reparei que um cadete levava o passo trocado. Era o único. A senhora a meu lado disse embevecida ao marido: - O nosso filho é um génio. Vê como ele é o único com o passo certo!
Qualquer semelhança entre este episódio e a política externa do Presidente João Lourenço é pura coincidência. A União Africana está contra o “ocidente alargado”. Namíbia, África do Sul, Zimbabwe, Tanzânia, Moçambique, Botswana, para só falar dos países da região também não aceitam as manobras dos EUA e seu “ocidente alargado”. Face a este quadro, o Presidente João Lourenço decidiu marchar ao contrário. Só mesmo os protectorados e os estados genocidas (colonialistas) acompanham a condenação da Federação Russa.
Quando alguém está com o passo trocado nada melhor do que ajudá-lo a acertar. Vou recuar ao dia 26 de Fevereiro de 1885, data em que terminaram os trabalhos da criminosa Conferência de Berlim, onde as potências coloniais e imperialistas ditaram o maior genocídio da História da Humanidade. Mais de mil mosaicos culturais e regiões milenares foram esmagados. Milhões de seres humanos vendidos, traficados, mortos.
Na conferência dos genocidas participaram Áustria, Hungria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grã Bretanha, Itália, Holanda, Portugal, Rússia, Espanha, Suécia, Noruega, Turquia e Estados Unidos da América. Dos participantes, França, Alemanha, Grã-Bretanha e Portugal ocupavam praticamente todo o continente africano. Estamos a falar do “ocidente alargado”.
No final de um dos mais terríveis crimes contra a Humanidade o rei dos belgas, Leopoldo II, ficou com o Estado Livre do Congo (Congo Belga hoje República Democrática do Congo) como sua propriedade pessoal. A Grã-Bretanha abocanhou uma faixa que ia do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, até ao Egipto. Tomem nota dos países transformados em colónias britânicas: Egipto, Sudão, Uganda, Quénia, África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe, Botsuana, Nigéria e Gana. Londres é uma das capitais do “ocidente alargado”.
A França foi contemplada com as terras ao sul do Saara, quase toda a África Ocidental, da Mauritânia ao Chade, mais o Gabão e a hoje República Popular do Congo. Paris é a capital elegante do “ocidente alargado” mas tem as vestes de alta-costura manchadas com o sangue de milhões de africanos. E os crimes continuam. Mas Burkina Faso e Mali já se libertaram dos assassinos neocolonialistas.
Portugal ficou com Moçambique
mais Angola com a sua “dependência” São Tomé e Príncipe. Mais tarde abocanhou a
Guiné-Bissau. Cabo Verde nunca esteve