segunda-feira, 17 de abril de 2023

Ministros de Relações Exteriores do G7 querem mostrar unidade, mundo vê divergências

A Reunião dos Ministros das Relações Exteriores do G7, que aconteceu de 16 a 18 de abril em Nagano, no Japão, serviu como uma prévia da cúpula do G7 marcada para maio. Em geral, o tom da reunião dos chanceleres provavelmente será semelhante ao da cúpula do G7. A declaração conjunta dos ministros das Relações Exteriores do G7, que reflete o tom principal da reunião, será divulgada em 18 de abril, mas os pontos-chave já vazaram por vários meios de comunicação estrangeiros, indicando que "as tensões sobre a China serão altas na ordem do dia" da reunião.

Global Times, editorial | # Traduzido em português do Brasil

Segundo relatos, no jantar de trabalho em 16 de abril, os ministros das Relações Exteriores dos países do G7 reafirmaram a "importância da paz e estabilidade no Estreito de Taiwan" e também afirmaram que manter a unidade entre o G7 é "extremamente importante" para abordar os vários desafios no Indo-Pacífico." Alguns analistas de mídia acreditam que a necessidade urgente de demonstrar a chamada "unidade" e a flagrante interferência na soberania da China reflete a possível ansiedade levantada pelo apelo de Macron para que a UE não se torne um "seguidor" de Washington sobre a questão de Taiwan.Há também analistas que acreditam que existe a possibilidade de surgirem rachaduras dentro do G7.

No geral, esta reunião dos chanceleres do G7 tem duas características principais. Em primeiro lugar, continua e intensifica a nova atmosfera ideológica da Guerra Fria do G7, impulsionando ainda mais uma mudança completa para o G7 de um clube de países ricos com foco na governança global e questões econômicas para uma ferramenta geopolítica que promove o confronto em bloco. Em segundo lugar, como anfitrião da presidência do G7 este ano, o Japão acrescentou um picante tempero japonês à tradicional fórmula americana da reunião do G7. Especificamente, isso inclui o foco em interferir na questão de Taiwan, exaltando a teoria da "ameaça da China" e buscando o apoio do G7 para seu plano de despejar águas residuais contaminadas por armas nucleares no mar.

Como único membro asiático do G7, toda vez que Tóquio sedia uma cúpula do G7, ela procurava afirmar ativamente sua "identidade ocidental" em solo asiático e, assim, ganhar uma presença mais forte. Enquanto o Japão está fortalecendo as funções de contenção da China do G7 sob a direção de Washington e tentando alcançar uma reunião política do sistema de aliança dos EUA perto da China, também está enchendo o grupo com seus próprios interesses egoístas. Isso não desempenhou nenhum papel positivo e deve ser condenado por todas as partes. É relatado que a Cúpula do G7 no Reino Unido em 2021 fez barulho pela primeira vez sobre a questão de Taiwan em uma declaração conjunta, que foi secretamente promovida pelo Japão sob o incentivo dos EUA. Desta vez, com o Japão sediando o G7, seu impulso de atrair forças externas para interferir no Estreito de Taiwan é ainda mais flagrante.

A AUTORIDADE MORAL DOS EUA ESTÁ MORTA E ENTERRADA

Sete democratas progressistas da Câmara dos Representantes assinaram uma carta ao procurador-geral Merrick Garland pedindo que o governo Biden retire as acusações contra Julian Assange e pare de buscar sua extradição.

Caitlin Johnstone* | Caitlin Johnstone.com | em Substack | # Traduzido em português do Brasil

É uma boa carta no que diz respeito a essas coisas. Ele lista os principais grupos de defesa da liberdade de imprensa e vigilantes dos direitos humanos que pediram a libertação de Assange, identifica corretamente as ameaças que este caso representa para as liberdades de imprensa em todo o mundo e evita infiltrar-se em qualquer uma das difamações clássicas contra Assange que normalmente funcionam. caminho para as objeções de alto nível à perseguição do fundador do WikiLeaks. É uma coisa inegavelmente boa que esta carta tenha acontecido.

Dito isso, gostaria de destacar esta parte da carta por um momento e destacar algumas partes para dar ênfase:

A acusação de Julian Assange por realizar atividades jornalísticas diminui muito a credibilidade dos Estados Unidos como defensor desses valores, minando a posição moral dos Estados Unidos no cenário mundial e efetivamente dando cobertura a governos autoritários que podem (e fazem) apontar para a acusação de Assange para rejeitar críticas baseadas em evidências de seus registros de direitos humanos e como um precedente que justifica a criminalização de reportagens sobre suas atividades. Líderes de democracias, grandes órgãos internacionais e parlamentares de todo o mundo se opõem ao julgamento de Assange. O ex-relator especial das Nações Unidas sobre tortura, Nils Melzer, e a comissária de direitos humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatović, se opuseram à extradição. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, pediu ao governo dos EUA que ponha fim à perseguição a Assange. Líderes de quase todas as grandes nações latino-americanas, incluindo o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente argentino Alberto Fernández pediram que as acusações fossem retiradas. Parlamentares de todo o mundo, incluindo Reino Unido, Alemanha e Austrália, pediram que Assange não fosse extraditado para os EUA.

Este clamor global contra o processo do governo dos EUA contra o Sr. Assange destacou os conflitos entre os valores declarados da liberdade de imprensa pelos Estados Unidos e sua busca pelo Sr. Assange. O Guardian escreveu: “Esta semana, os EUA se proclamaram o farol da democracia em um mundo cada vez mais autoritário. Se o Sr. Biden leva a sério a proteção da capacidade da mídia de responsabilizar os governos, ele deveria começar retirando as acusações feitas contra o Sr. Assange. Da mesma forma, o conselho editorial do Sydney Morning Herald declarou: “Em um momento em que o presidente dos EUA, Joe Biden, acaba de realizar uma cúpula pela democracia, parece contraditório ir tão longe para ganhar um caso que, se for bem-sucedido, limitará a liberdade de expressão.”

A POLÓNIA, A UE E O NEGÓCIO DOS CEREAIS UCRANIANOS PARA O SUL GLOBAL...

A proibição temporária da Polónia às importações agrícolas ucranianas prova que o negócio de grãos é uma farsa

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Os interesses políticos do partido governista na corrida para as próximas eleições no final deste ano tiveram precedência sobre tudo o mais, por isso a Polônia não se importou que esse movimento unilateral inadvertidamente aumentasse a credibilidade da crítica do Kremlin de que o acordo de grãos era uma farsa o tempo todo. e nunca teve a intenção de ajudar o Sul Global. Não é importante se eles são pressionados a reverter suas restrições temporárias antes do tempo ou não, já que o gato está fora do saco e o dano de soft power já foi causado.

A Comissão Europeia (CE) e Kiev estão furiosos com a Polónia por proibir temporariamente as importações agrícolas ucranianas neste fim de semana, a fim de proteger seu mercado interno e os interesses dos agricultores poloneses em meio ao dilúvio de produtos que chegam da vizinha ex-república soviética. A Hungria seguiu o exemplo um dia depois, mas já foi duramente criticada por esses dois, então sua mudança não foi nem de longe tão significativa quanto a da Polônia, que é considerada um dos principais aliados da Ucrânia.

Essa aspirante a hegemonia da Europa Central e Oriental (CEE) também é a força de vanguarda dos EUA e da OTAN para travar sua guerra por procuração em andamento contra a Rússia através da Ucrânia, de modo que o simbolismo da Polônia impondo unilateralmente restrições setoriais nas importações daquele país é extremamente significativo. Por si só, isso mostra que os laços entre esses dois membros de fato da confederação não são tão perfeitos quanto seus líderes os fizeram parecer durante última viagem de Zelensky a Varsóvia , mas também há mais do que isso.

Tendo em mente os papéis duplos da Polônia como o vassalo europeu mais importante dos EUA hoje em dia e seu status como o patrono europeu mais confiável da Ucrânia, ambos os quais contrabalançam decisivamente quaisquer teorias da conspiração sobre estar sob “influência russa”, não há mais como negar que o grão negócio é uma farsa. O Kremlin tem constantemente criticado este acordo como um estratagema destinado a reforçar os já enormes estoques de alimentos da UE, mas isso foi anteriormente descartado pelo Ocidente com a chamada “propaganda”.

ROSTOS E DESTINO DOS 'SOLDATS DE FORTUNE' FRANCESES NA UCRÂNIA

Juntamente com o equipamento militar, a Europa fornece bucha de canhão às Forças Armadas da Ucrânia. A França, famosa por sua Legião Estrangeira, está enviando ativamente seus militantes para lutar contra os russos nas linhas de frente do Donbass.

South Front | # Traduzido em português do Brasil

No início de agosto, o Ministério da Defesa da Federação Russa contava quase 5 mil mercenários na Ucrânia provenientes de países europeus. Então, desde fevereiro de 2022, pelo menos 187 soldados da fortuna vieram da França. Em agosto de 2022, apenas 49 deles permaneceram no país devastado pela guerra. Pelo menos 75 militantes franceses foram mortos e 63 outros fugiram da Ucrânia

Até agora, o Ministério das Relações Exteriores da França reconheceu oficialmente a morte de oito mercenários franceses da “Legião Estrangeira” das Forças Armadas da Ucrânia que foram mortos durante as batalhas nas linhas de frente ucranianas.

A morte do oitavo lutador francês na Ucrânia foi oficialmente confirmada em 2 de abril de 2023. O mercenário francês não identificado teria sido morto durante a batalha em Bakhmut.

Anteriormente, em março, o Ministério das Relações Exteriores da França confirmou a morte de outro combatente em Bakhmut. Segundo a mídia francesa, ele era Kevin D., que afirmava ser um carregador de maca. De acordo com fontes abertas, o mercenário era Kevin David de Angers. Ele teve 2 filhos. Em setembro de 2022, Kevin participou do assalto a Kupyansk, na região de Kharkiv, e foi acusado de torturar civis na cidade e arredores.

QUADROS (clicar na imagem para ampliar)

Em fevereiro de 2023, a mídia francesa noticiou a morte de um mercenário de 22 anos morto no Donbass. Andreas Gallozzi, que era membro da chamada Legião Internacional da Ucrânia, morreu em 16 de fevereiro após um bombardeio de artilharia contra um posto de controle de mercenários estrangeiros perto de Svatovo. Em conversa com o Le Monde, seu comandante disse que Gallozzi participou da ofensiva de setembro das Forças Armadas ucranianas. Antes de vir para a Ucrânia, Andreas serviu no 17º Regimento de Engenharia Aerotransportada das Forças Armadas Francesas em Montauban em 2020-2022.

Em junho de 2022, a estação de rádio francesa Europe 1 noticiou o primeiro mercenário francês morto na Ucrânia. Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores da França confirmou os relatórios. O falecido, o francês Wilfried Blériot, de 32 anos, era ligado a grupos de extrema direita franceses. Ele era de Bayeux, mas foi morto na região ucraniana de Kharkiv como resultado de um bombardeio.

Em novembro de 2022, foi confirmada a morte de Gaston Besson, mercenário estrangeiro e recrutador do Batalhão Nazista Ucraniano Azov.

Gaston Besson serviu como um dos principais recrutadores de combatentes estrangeiros para a Ucrânia. Sua unidade consistia principalmente de neonazistas europeus e era subordinada ao batalhão Azov. Besson teve uma importante experiência de combate. Em sua juventude, ele serviu como pára-quedista francês e membro das forças especiais. Então ele se tornou um mercenário. Ele declarou com orgulho que passou por duas guerras e três conflitos na Croácia, Bósnia, Birmânia, Laos, Suriname. Há informações de que durante o conflito nos Bálcãs, onde liderou uma unidade de 500 combatentes vindos da França, Inglaterra, Alemanha, Irlanda, Itália, Gaston ficou famoso por atrocidades contra a população civil sérvia.

Não há paz à vista. “Tenho medo de que tempos mais difíceis estejam chegando”

UM PONTO DE VISTA RUSSO

Não consigo adivinhar as datas em que a “velha paz” retornará e quando terminará a liderança colonial do bilhão de ouro. Nem tenho certeza de que viveremos para ver esse novo mundo. Receio que venham tempos ainda mais difíceis porque o chamado bilhão de ouro lutará até o fim e por todos os meios para manter sua hegemonia. Foi assim que Yevgeny Primakov, um dos políticos russos mais jovens e progressistas da atualidade, respondeu à pergunta de “Novosti” sobre o momento em que espera o retorno do “mundo à moda antiga”.

Global Research, em South Front | # Traduzido em português do Brasil

Primakov "o mais jovem" é hoje o chefe da Rosotrudnichestvo, a Agência Federal Russa para Assuntos da CEI, compatriotas no exterior e cooperação humanitária internacional. Ele veio a Belgrado com a ocasião de marcar o aniversário da Casa Russa na metrópole sérvia. Como antes, ele ficou feliz em falar pela Večernje Novosti.

Dragan Vujicic (DV): Como você vê as chances de paz em Moscou hoje?

Yevgeni Primakov (YP):  Em primeiro lugar, gostaria de ver a paz entrar em vigor imediatamente, e não conheço ninguém na liderança da Rússia que seja a favor da guerra. No início da Operação Militar Especial, nosso presidente declarou seus objetivos: entre outros, a desnazificação da Ucrânia em prol da paz. E é por isso que nossas tropas estão lutando pela paz hoje. Infelizmente, as chances da paz reinar em breve não são muito altas. Nossa vitória no campo de batalha aumentará as chances. 

DV:  O mundo mudou fundamentalmente nesses mais de 400 dias de guerra?

YP:  Primeiro, eu não diria que esses 400 dias mudaram o mundo. Essa mudança aconteceu antes. Alertamos o Ocidente há pelo menos 16 anos sobre o que estava acontecendo e sobre a mudança em toda a lógica das relações internacionais. Dissemos ao “ocidente” e aos EUA para ler e entender as palavras de nosso presidente. Vladmir Vladmirovich apontou claramente que a expansão constante da OTAN é um perigo para a segurança nacional da Rússia e, em Munique, ele descreveu a todos os interesses da Rússia no campo da segurança.

DV:  E o que aconteceu então?

YP:  Os americanos simplesmente declararam que esse discurso era a retórica mais agressiva e perigosa até então. Anos depois, em dezembro de 2021, a Rússia propôs um conjunto de condições para nossa convivência nas relações com as potências ocidentais. Entre outras coisas, eles falaram sobre garantias juridicamente vinculativas entre os dois lados e a retirada das armas da OTAN de nossas fronteiras. O Ocidente nos disse Não – em todos os aspectos!

A LENTA ARTE DA ‘GUERRA’ DE TODO O GOVERNO -- Alastair Crooke

A simples sobrevivência pode se tornar mais premente do que abordar as reflexões especulativas de Macron sobre a UE se tornar uma Terceira Força, escreve Alastair Crooke.

Alastair Crooke* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

O Washington Post nos diz que a excursão do presidente Macron à China criou um 'rebuliço' europeu . Assim parece. Embora, aparentemente, sua recomendação geoestratégica de que a Europa se mantenha equidistante tanto do gigante dos EUA quanto do colosso da China não seja tão radical assim. No entanto, quaisquer que sejam as motivações subjacentes de Macron, seus comentários parecem ter tocado nos nervos. Ele é acusado de algo próximo a 'traição'. A traição da América curiosamente – ao invés de uma traição dos europeus comuns.

Talvez a irritação reflita nosso amor habitual pelo conforto, normalidade e um desejo de "não balançar o barco". Esse viés de normalidade mantém as pessoas congeladas em um estado de status quo , como se alguma voz interior se intrometesse para dizer: 'as coisas vão ficar bem de alguma forma. Isso vai passar e as coisas voltarão a ser como eram. “Tudo deve mudar, para que tudo permaneça o mesmo”, na famosa citação proferida por Tancredi, sobrinho querido do príncipe Fabrizio Salina em O Leopardo .

Por outro lado, Malcom Kyeyune, escrevendo da Suécia, detecta uma mudança mais profunda em curso – uma agonia contorcendo-se dentro do atlantismo europeu:

“A febre da guerra que varreu a Europa no verão de 2022 tornou a discussão impossível. Denúncias rituais de “Putinistas” e até supostos espiões russos tornaram-se comuns nas mídias sociais, e baquear o imenso poder do Ocidente e da OTAN tornou-se obrigatório. Novamente, houve uma enorme pressão para não perceber as coisas :

“A única posição aceitável era maximalista: sugerir que um acordo de paz provavelmente envolveria chegar a algum tipo de compromisso marcava você como um “leal a Putin” e “agente russo”.

“Mas, mais uma vez, a febre está começando a baixar. Poucos ainda postam sobre a Ucrânia nas redes sociais; as pessoas em geral preferem fingir que nada está acontecendo. As batidas no peito desapareceram, substituídas por um silêncio sombrio e amargo. As pessoas não estão prontas para admitir que as sanções foram um fracasso e que o Ocidente exagerou, mas muitos sabem que essas coisas são verdadeiras e que as consequências econômicas e políticas dessas falhas estão apenas começando a ser sentidas.”

Macron está captando essas 'vibrações'? Ou seja, o auto-engano, pelo qual sentimos a falta de lógica de vivermos nossas vidas cotidianas com 'nuvens escuras' cada vez mais próximas, mas nunca questionando por que a Europa está sendo desindustrializada; por que sua indústria está se mudando para os EUA ou China; ou por que os europeus precisam importar Gás Natural Líquido a três ou quatro vezes o preço atual.

Portugal | OLHA O PASSARINHO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Portugal está em suicídio lento. Tanto que o canário da mina já morreu. Jaz gélido e inerte no chão da gaiola. Se há barómetro que atesta com fidedignidade a qualidade civilizacional é a protecção das crianças e, claro, a respectiva educação. Os menores são os mais frágeis entre os frágeis e defendê-los é o primeiro dever de uma sociedade. Ademais, não o fazer é também hipotecar o futuro, uma atitude para-suicidária. Entre hiper-medicar miúdos (porque são activos e exigentes - são crianças) e abandoná-los aos ecrãs, os exemplos abundam. Mas, observando a nossa escola pública, o monitorar dos gases tóxicos revela que já se passou o vermelho. O canário morreu. Agora, vários directores escolares alertaram para as dificuldades dos alunos em aprender novas matérias, especialmente os mais novos e os mais carenciados, porque na gestão covid perderam-se "aprendizagens essenciais que bloqueiam as aprendizagens seguintes". "Não ter tido aulas fez com que as consequências fossem arrasadoras", acrescentaram. Arrasadoras, sublinhe-se. De resto, a opinião geral é que o Plano de Recuperação das Aprendizagens (PRA) do governo precisa de um grande prolongamento. No mínimo. Também se concluiu que os atrasos que se multiplicam devem-se ainda à gritante falta de professores (e não às greves). Coisa que só se resolve, óbvio, quando a profissão for valorizada e protegida.

Ou seja, Portugal colocou no prego décadas e décadas, fabricou uma ou duas gerações de frágeis que nunca deixarão de o ser, mesmo quando forem cuspidos para um mercado de trabalho agreste. E, repita-se tantas vezes quanto as necessárias, fê-lo com consciência que não se justificaria tamanho golpe à cabeça do país. Desde março de 2020 que se sabe que a residual mortalidade deste Coronavirus não impunha medidas drásticas. Várias pessoas o afirmaram - muitos silenciados -, inclusive cientistas de renome. Março. E não setembro ou abril de 2021, por mais que alguns colaboracionistas queiram agora passar por faróis. As medidas adoptadas (como demonstram escândalos como o Lockdown Files e quejandos) em nada se relacionaram com Saúde Pública, mas com politiquices e seus agentes. Visco.

Como também se costuma dizer, com alguma propriedade, em política aquilo que parece é. Quais foram dos principais resultados das medidas covid? Como hoje se constata (embora, de novo, fosse previsível desde o início), a destruição do SNS (aquele que, supostamente, se pretendia salvar) e a implosão da escola pública. Seriam esses os efeitos pretendidos? Se anda como um pato, grasna como um pato e parece um pato, é um pato. Tudo indica que um dos desígnios desta gestão da covid era atacar sem dó os Serviços Públicos, deixando-os cada vez mais fracos e como meras soluções de recurso apenas para os desfavorecidos (que, qualquer dia, nem isso). Aliás, quando se olha para a TAP a mesma conclusão se pode retirar.

Valorizem-se actos e não palavras: António Costa e as suas equipas estão no terreno com uma missão e uma missão apenas - destruir o Estado Social, por mais que propagandeiem o oposto. E por isso lhes é permitido, concomitantemente, encherem os seus próprios bolsos e disseminar o fartar vilanagem. Tudo isso é considerado efeitos colaterais. Ou ganhos secundários. Até à dissolução final. Piu piu.

*Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

Portugal | PRESIDENTE LULA… PS COMPREENSIVO, PCP APOIA, DIREITA CRITICA

Declarações controversas do Presidente brasileiro sobre a guerra na Ucrânia forçam socialistas a equilibrismo argumentativo.

Afirmações do Presidente Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia, feitas na China e depois dos Emirados Árabes Unidos, desencadearam em Portugal uma míni tempestade política, com o PSD a exigir ao Governo que se demarque, a Iniciativa Liberal a dizer que o Parlamento português já não o pode receber no 25 de Abril e o PS a comentar que não concorda mas compreende a posição do chefe do Estado brasileiro.

"É preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz", "é preciso que a UE comece a falar em paz", "a Europa e os EUA continuam a contribuir para a continuação da guerra", "a decisão da guerra foi tomada pelos dois países [Ucrânia e Rússia]", "a paz interessa a todo o mundo e a guerra por enquanto só interessa aos dois [Putin e Zelensky]".

Estas foram algumas das frases de Lula que levaram a oposição à direita a atacar o Governo e o PS. "O Governo português - enquanto órgão de soberania responsável pela condução da política externa -, respeitando por inteiro a soberania do Brasil, através do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, não pode deixar de se demarcar, pelas vias diplomáticas adequadas mas também publicamente, da afirmação de que a UE, a NATO e os Estados Unidos estão a fomentar e a estimular a guerra", afirmou o eurodeputado Paulo Rangel, vice-presidente do PSD. "Com a mesma franqueza e, até, desassombro com que o Presidente do Brasil fala da cumplicidade e intervenção da UE e procura suavizar ou omitir a responsabilidade do regime de Putin, o primeiro-ministro António Costa deverá afirmar a posição de Portugal a favor do direito internacional, da integridade territorial da soberania ucraniana e da paz."

Já a Iniciativa Liberal aproveitou o caso para, através de uma declaração no Twitter de Rui Rocha, líder do partido, considerar que o Parlamento português já não está em condições de receber o líder brasileiro no 25 de Abril. A Assembleia da República [AR] que convidou Zelensky para discursar em 21 de abril de 2022 não pode receber um aliado de Putin como Lula no 25 de Abril. E o Presidente da República que atribuiu a Ordem da Liberdade a Zelensky não pode estar confortável com a presença de um aliado de Putin como Lula na AR no 25 de Abril", escreveu Rui Rocha.

O Chega, pelo seu lado, explorou o episódio para fazer oposição...ao PSD. "É ultrajante ver um partido que deveria liderar o centro-direita dizer que saúda a presença de Lula da Silva no dia 25 de Abril, em Portugal, no dia da conquista democrática", disse André Ventura.

Com tudo isto, o PS, forçado por por razões diplomáticas a demarcar-se de Lula mas sem o atacar, reafirmou a sua posição de apoio à Ucrânia e de condenação da Rússia. Salientou porém que o Presidente do Brasil fez deve ser enaltecido, como por exemplo o Presidente Macron, pelo que representa de "busca pela paz", uma "preocupação legítima de Portugal, dos portugueses [e] dos cidadãos do mundo, disse a dirigente nacional do PS responsável pelo pelouro das relações internacionais, a deputada Jamila Madeira.

João Pedro Henriques | Diário de Notícias

Portugal | O EMBARAÇO - no país da UE em que os adulantes da guerra serram fileiras


Henrique Monteiro | Henricartoon

* Título parcialmente alterado por PG

Entregue à extrema-direita: O ÓDIO VISCERAL ISRAELITA E SUAS TENDÊNCIAS NAZIS

Na calada da noite | Invasões militares de Israel em casas palestinas

Quase todas as noites, entre meia-noite e 5 da manhã, o exército israelense invade casas palestinas na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental.

Al Jazeera – texto e vídeos em inglês | # Traduzido em português do Brasil

Armados até os dentes e muitas vezes mascarados, os soldados chegam em grupos de 10 a mais de 100 e forçam a entrada nas casas, às vezes arrombando a porta.

Todos os membros da família - crianças a idosos - são acordados e mantidos sob a mira de uma arma enquanto os soldados destroem suas casas e os revistam, interrogam, espancam e fotografam, entre outras coisas.

Palestinos foram mortos ou feridos durante essas operações militares.

Os ataques noturnos israelenses deixam as famílias palestinas - especialmente as crianças - traumatizadas.

A Al Jazeera conversou com quatro palestinos sobre suas experiências com invasões de domicílios e detenções militares.

Em 17 de abril, Dia dos Prisioneiros Palestinos, aqui estão suas histórias:

VER NO ORIGINAL aqui em Al Jazeera TEXTO E IMAGENS, DECLARAÇÕES EM VÍDEO, ETC.

SUDÃO | COMBATES CONTINUAM E AUMENTA NÚMERO DE MORTES

Os confrontos violentos entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) no Sudão começaram no sábado e já causaram a morte de pelo menos 97 pessoas. Presidentes do Quénia, Sudão do Sul e Djibuti vão mediar o conflito.

Subiu para pelo menos 97 o número de mortos nos confrontos entre o exército e os paramilitares, segundo a atualização feita pelo Sindicato dos Médicos do Sudão nas primeiras horas desta segunda-feira (17.04). 

Um número que não inclui todas as baixas, já que muitas pessoas não conseguem chegar aos hospitais no meio dos confrontos, esclareceu o sindicato.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os hospitais na capital, Cartum, onde vivem cerca de seis milhões de pessoas, estão sobrecarregados. Pelo menos 1.126 pessoas foram feridas, disse a organização neste domingo.

Entre os mortos no sábado estavam três funcionários do Programa Alimentar Mundial (PAM), que teve de  interromper a sua missão de ajuda devido às mortes.

Corredores humanitários

No domingo (16.04), milhares de pessoas foram retiradas de centros e instalações na capital através de corredores humanitários criados na cidade, numa breve pausa de três horas nos combates.

Um repórter local, citado pela agência de notícias Associated Press, disse que os intensos combates continuaram depois do cessar-fogo temporário: "Os confrontos só pararam cerca de três a quatro horas e foram retomados ao amanhecer."

"Agora, as forças paramilitares controlam a base militar de Merowe, no norte do Sudão, e também uma base aérea no sul de Cartum. Também controlam alguns locais próximos do comando geral do exército na capital", relatou.

Não está claro quem lidera agora a luta pelo poder, segundo relatos dos media locais, que noticiariam que os combates em torno do comando geral do exército sudanês na capital se tinham intensificado.

O confronto entre o exército e os paramilitares começou inesperadamente no sábado de manhã na capital. As forças paramilitares reivindicaram ataques ao aeroporto no norte da cidade e o palácio presidencial.

Apelos ao diálogo e cessar-fogo

Perante a violência que eclodiu no fim de semana, o ex-primeiro-ministro sudanês Abdalla Hamdok apelou ao diálogo: "A paz continua a ser a única opção disponível para o povo sudanês para evitar entrar numa guerra civil."

Os acontecimentos desencadearam receios a nível mundial de uma guerra civil no país de cerca de 46 milhões de habitantes.Também suscitaram apelos da comunidade internacional para um cessar-fogo imediato.

"Ambos os lados devem parar os combates e evitar mais derramamento de sangue", escreveu a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, na rede social Twitter.

Os chefes da diplomacia dos EUA e Reino Unido, reunidos num encontro do G7 no Japão, apelaram à cessação imediata da violência. "Há uma forte preocupação partilhada sobre os combates, a violência no Sudão, a ameaça que representa para os civis, para a nação sudanesa e até potencialmente para a região", disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

A Espanha anunciou o encerramento temporário da sua embaixada em Cartum por falta de condições de segurança.

À medida que a situação se agrava, o Conselho de Segurança da ONU apelou a todas as partes em conflito que parassem os combates e iniciassem conversações para pôr fim à crise.

A União Africana (UA) anunciou que o seu líder, Moussa Faki Mahamat, estava a caminho do Sudão para negociar um cessar-fogo. Também os presidentes do Quénia, William Ruto, Sudão do Sul, Salva Kiir, e Djibuti, Ismail Omar Guelé, viajarão em breve para o Sudão para tentar mediar o conflito armado entre o Exército e as paramilitares.

Deutsche Welle com agências

Angola | ANTIGO BRAÇO DIREITO DE NZITA TIAGO -- Artur Queiroz

“Na FLEC Qualquer Dia um Homem É uma la”

Artur Queiroz*, Luanda                                         MEMÓRIAS 3

Engenheiro agrónomo Sebastião Yongo abre o livro dos delinquentes

Engenheiro agrónomo de formação, Sebastião Yongo foi um dos mais altos dirigentes da FLEC: “durante muitos anos fui o oficial de ligação entre o topo e as bases militares no terreno. Recebia instruções de Nzita Tiago e levava-as aos comandantes, para serem cumpridas”. Sebastião Yongo foi capturado, pelas Forças Armadas Angolanas. Hoje é um homem livre e trabalha num ambicioso projecto agrícola na aldeia do Yabi. Ele garante que vai inundar Angola de abacaxi, banana e citrinos: “vamos produzir fruta biológica”. A guerra para este técnico é apenas uma amarga recordação. Agora quer viver a paz e a liberdade.

Jornal de Angola – Foi capturado em combate ou abandonou a FLEC porque estava cansado da guerra?

Sebastião Yongo - Caí numa emboscada e fui capturado pelas Forças Armadas Angolanas no dia 26 de Março de 2012, próximo da fronteira com a República Democrática do Congo (RDC). 

JA - Estava há muito tempo na FLEC?

SY - Entrei na FLEC no dia 8 de Agosto de 1974. Nesse dia abandonei a cidade de Cabinda e fui para as matas. Durante a minha militância vivi muito tempo na República Democrática de Congo, onde também me formei em agronomia. Em 1979, fui para a República Popular do Congo onde permaneci até ao ano de 1997, altura em que regressei a Kinshasa. Paralelamente à minha actividade política na direcção da FLEC criei uma fazenda com três mil palmeiras e comecei a dedicar-me à venda de coconote e óleo de palma. 

JA - Agora vive em Cabinda, sente-se bem em casa?

SY - Sinto-me feliz e em paz. Tenho boas condições de vida e digo aos meus irmãos que ainda estão nas matas e apostam na guerrilha, que nada se pode obter sem o diálogo. Aproveito esta oportunidade que o Jornal de Angola me dá, para fazer um pedido ao Executivo: Estenda as mãos aos combatentes da FLEC que desejam regressar a Angola voluntariamente. A esmagadora maioria é gente de bem que anda a ser enganada há muitos anos. A propaganda incide no ódio contra o governo. Os combatentes vivem num grande sofrimento, isoladas do mundo, acreditam em tudo o que lhes dizem.

JA - Quem anda a enganar os combatentes da FLEC?

SY - Infelizmente, são dirigentes com responsabilidades. Cada combatente para eles dá alto rendimento. É por isso que a FLEC está tão dividida. Qualquer dia um homem é uma ala.

JA - Entre os que enganam os combatentes estão os chamados intelectuais que vivem em Cabinda, como os padres Raul Tati e Jorge Congo?

SY - Esses estão viciados na extorsão e na intriga. É gente perigosa, porque há na FLEC quem os oiça e siga os seus conselhos. Chegámos a um ponto em que todos mandam. Mas não quero falar de quem só sabe viver da extorsão. São delinquentes que se apresentam como grandes senhores.

JA - Eles tiveram algum papel na assinatura do cessar-fogo unilateral?

SY - Os delinquentes só têm influência na marginalidade. Em 2010, o senhor António Nzita, filho do presidente Nzita Tiago, teve um encontro com o Presidente da República, engenheiro José Eduardo dos Santos, a quem manifestou o interesse no diálogo. Depois desse encontro, ele falou connosco e nós acolhemos as suas ideias com muita satisfação. Mandatámos o senhor José Luís Vera e imediatamente rubricámos um cessar-fogo em Brazzaville.

Angola | Matadores de Sonhos e Carrascos da Liberdade – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda 

Karipande (Mukumbi Munhau) é uma comuna do Alto Zambeze, ali onde a gunga lambe as crias e a chita corre livre pelas chanas. Ao fim da tarde cheira a mel e as cantáridas cruzam o céu no seu voo louco e vertiginoso. O seu último voo de ferro em brasa. No Dia 14 de Abril de 1968 guerrilheiros do MPLA atacaram o quartel da tropa portuguesa e ocuparam-no. O combate foi duro e mortal. A meio da refrega tombou o Comandante José Mendes de Carvalho (Hoji ia Henda). O seu camarada Rui Cardoso do Matos (Maio) prosseguiu a acção até à vitória.

Pouco tempo antes, o Comandante Hoji ia Henda escreveu estas palavras: “Da miséria do nosso povo, fui transportado para a luz através da luta e sinto quão duro mas também quão saboroso é avançar. Avançar para que nem as balas do inimigo, nem a morte mo impeçam de ser imortal. Nada mais me fará recuar”. As balas e a morte levaram o “Filho querido do Povo Angolano e combatente heróico do MPLA” como foi distinguido pelo Comité Director do movimento e pelo comando do Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), em Agosto de 1968. Mas as balas e a morte também fizeram dele imortal.

Rui de Matos (Comandante Maio), no primeiro aniversário da sua morte em combate, escreveu este poema que depois o guerrilheiro Dudu musicou:

PROCURO UM LEÃO

Ando à procura de um leão

Que não seja muito grande

Que seja terrível na luta

Que o temam e o amem.

Quero fazer o retrato de um leão

De olhar doce

De sorriso franco

Um leão alegre

Sem reservas.

Um leão imenso

No seu amor.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Procuro um leão

Um leão generoso

Que divide o seu pão

E que dá a vida.

Procuro um leão

Duro e implacável

Com os seus inimigos...

Esse leão

Doce e Humano

Amigo e simples.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Ai Angola!

Ai Angola!...

Um ano passou…

De quanto tempo precisas

Para gerares outro igual?

Um ano já passou…

Ai Angola!

Ando à procura dum leão

Que sorria da derrota

Com tanta fé na Vitória.

Procuro um leão

Que seja temerário

Um leão amado

Um leão temido.

Chamar-lhe-ei

Hoji ia Henda.

Hei-de procurá-lo

Na Terra

Procurá-lo no mar

Procurá-lo nos rios

Procurá-lo nas chanas

Hei-de encontrá-lo em Angola

Farei o seu retrato

Chamar-lhe-ei Hoji ia Henda.

Frente Leste, Abril de 1969

Rui de Matos (Comandante Maio)

Angola | “LEMBRANÇA” DAS TRAGÉDIAS DA GUERRA -- Artur Queiroz

António Sango Denunciou os que Pagam para Matar

Artur Queiroz*, Luanda         MEMÓRIAS 2

Antigo Vice-Ministro da FLEC conta como o dinheiro fez correr sangue inocente

António Luís Sango tinha como nome de guerra “Lembrança”. Nasceu na aldeia de Cochiloango, município de Cacongo. Entrou para a FLEC em 8 de Fevereiro de 1977. É enfermeiro de profissão. Foi vice-ministro da Saúde da FLEC e viveu grande parte da sua vida junto dos guerrilheiros. Em Agosto de 2011 trocou a guerra pela paz. Como membro da direcção da FLEC participou em reuniões importantes com os “intelectuais” da cidade (MPLABANDA). Esta organização foi extinta pelo Tribunal de Cabinda por se dedicar a actividades ilegais. O seu porta-voz era Raul Danda, empregado dos franceses da ELF/TOTAL e deputado da UNITA. Os padres Raul Tati e Jorge Congo eram mentores e dinamizadores dessas actividades. Em entrevista ao Jornal de Angola, no mês de JUkho de 2012, contou com pormenores uma reunião onde os “mpalabandistas” encomendaram a morte de inocentes. Um relato arrepiante!

Jornal de Angola - A paz em Cabinda é para durar?

António Luís Sango - Se os intelectuais que vivem na cidade de Cabinda quiserem, vamos ter paz para sempre. O problema é que muitos deles, só pensam no mal e querem a guerra, custe o que custar. Estão tão cegos que ainda não perceberam que os homens armados da FLEC são poucos e quase todos velhos. Há muito que a juventude rejeita a guerra. A Paz do Luena, em 2002, provou a todos que o diálogo tem mais força que as armas. Os jovens perceberam isso melhor que ninguém.

JA - O que tem contra aqueles a que chama intelectuais da cidade de Cabinda?

ALS – Eu não tenho nada contra ninguém. Mas eles têm contra mim e todos os que andavam nas matas. Quando chegou a hora de assinar o cessar-fogo eles opuseram-se e usaram argumentos ofensivos. Diziam que nós somos analfabetos, não sabemos falar e muito menos negociar. Eles é que têm de decidir. Foi assim que provocaram as grandes cisões na FLEC. Todos os que querem negociar com o Executivo na base da autonomia, eles põem-lhes logo o rótulo de traidores. Nós a sofrer nas matas e eles à boa vida na cidade e nós é que somos os traidores. Alguns são funcionários do Estado.

JA - Viveu muitos anos nas matas, como conheceu os intelectuais?

ALS - Em Agosto de 2009 saí das matas do Maiombe e fui para Ponta Negra. Como era vice-ministro e da direcção da FLEC participei em muitas reuniões com eles. Nunca me caiu bem a sua arrogância. E muito menos a facilidade com que eles falavam em matar civis. Em 13 de Agosto de 2009 participei numa reunião, no Hotel Makoka, em Ponta Negra, com Ivo Macaia e o senhor Capita, que trabalhava na clínica da Chevron em Cabinda. Eles insistiam que era preciso fazer operações militares porque havia muito silêncio à volta da FLEC. Eu sabia que nas matas as coisas estavam muito mal e ninguém queria combater. Mas Gabriel Augusto Nhemba “Pirilampo” acabou por se comprometer com operações militares.

JA - Qual foi a sua posição sobre o recomeço das operações militares?

ALS - Informei-os sobre a péssima situação dos combatentes nas matas. Eles no fim da reunião distribuíram cinco mil kwanzas, cerca de 20.000 francos CFA, por mim, pelo Rafael Mabiala “Pacífico”, e pelo Félix Ngonda Puati, comandante da região militar de Cacongo. Voltamos a encontrar-nos em casa do “Pirilampo” no bairro Songololo. Voltámos a reunir com o senhor Capita e o Ivo Macaia, no Hotel Makoka. Conhecemo-nos muito bem. Em 2010 aconteceu aquela loucura do ataque à delegação desportiva do Togo e aos jornalistas que a acompanhavam. Os intelectuais queriam sangue. Quando se aperceberam das negociações do presidente Alexandre Tati com o governo, foram imediatamente a Ponta Negra sabotar a paz.

JA - Eles explicam porque defendem a guerra na província de Cabinda?

ALS - Dizem que a autonomia é uma traição e é preciso fazer a guerra pela independência. Consideram-se muito inteligentes mas não evoluíram nada. Nem sequer percebem que já não existem condições para fazer a guerra. Faltam armas e faltam combatentes. Já ninguém adere à FLEC para combater de armas na mão. Só se forem eles para o combate, o que eu duvido. Não vão deixar os seus bons empregos e negócios em Cabinda para se meterem na Mata Grande. 

JA - Houve discordâncias quanto ao ataque à caravana desportiva do Togo?

ALS - Houve muitas discordâncias e para mim foi a maior derrota que a FLEC sofreu. Internacionalmente todos repudiaram aquela loucura. E internamente houve um grande repúdio, mesmo dos combatentes mais antigos. Mas em 2010 aconteceram mais erros e que são da responsabilidade dos mplabandistas. Por exemplo, o assassinato do senhor Olímpio Pongo.

JA - Pode explicar o que aconteceu?

ALS - No mês de Outubro de 2010 o senhor Capita foi a Ponta Negra e entregou dinheiro ao “Pirilampo” para ele atacar os trabalhadores civis da empresa PGP, que fazia prospecções para a Sonangol. Em 8 de Novembro o grupo do “Pirilampo” atacou uma viatura da empresa, na área de Tando Colombo. Morreu o tenente Valentim e o motorista, senhor Olímpio Pongo. Foi uma tremenda tragédia, porque Olímpio Pongo era primo do senhor Capita, o homem que deu o dinheiro para a operação. Na guerra, matar o inimigo, é relativamente indiferente. Mas atacar uma viatura civil, ao serviço de uma empresa civil e matar um primo, não é assim tão indiferente. O primo do senhor Capita era um civil. Não tinha que morrer naquela estúpida operação.

JA - Foi um caso isolado?

ALS - Infelizmente, não. Os mpalabandistas só querem a guerra. Em Dezembro de 2010, o professor Belchior Lanzo Tarti, mal saiu da cadeia, foi ter connosco a Ponta Negra. Marcámos uma reunião para o Hotel Makoka e estiveram presentes mais de 50 membros da FLEC. Queríamos saber o que lhe aconteceu. O Belchior disse ao “Pirilampo” que era necessário quebrar o silêncio que pesava sobre a FLEC e realizar acções contra pessoas isoladas, de raça branca, de preferência portugueses. Os itinerários escolhidos foram Dinge-Inhuca-Buco Zau e Bitchequete-Massabi. 

JA - Foi feita alguma acção?

ALS - Foram feitas acções, mas nenhuma contra civis. O dinheiro entregue pelo professor Belchior serviu para uma grande operação contra as FAA, na aldeia de Vito Novo, na qual morreram cinco militares, entre os quais um coronel e um major.

JA - O comandante “Pirilampo” obedecia às ordens dos intelectuais?

ALS - Infelizmente para ele, sim. O professor Belchior dava instruções para tirar os combatentes de umas bases para outras e o “Pirilampo” aceitava. O comandante Batalha foi transferido com a sua gente, numa carrinha de caixa aberta, alugada em Cabinda pelo professor e enviada durante a noite para a sua base. Penso que foram para a Mata Grande, guiados pelo João Massanga “Homem de Guerra” que conhecia a palmo toda a região. Mas o “Pirilampo” teve um fim triste. O seu quartel-general foi tomado de assalto pelas FAA no dia 1 de Abril de 2011 e ele acabou por morrer em combate um mês depois. Os intelectuais dizem que os analfabetos das matas não têm nada que negociar com o governo porque eles é que sabem. Mas se a FLEC hoje não tem um único homem a combater em Cabinda é muito por culpa deles, que não sabem nada da arte militar.

JA - Alexandre Tati é a favor da guerra?

ALS - O presidente decretou o cessar-fogo unilateral e penso que não volta para a guerra. Os que querem a guerra são os que ficaram com Nzita Tiago. O Stephane Barros está em Lisboa, penso que tem documentos portugueses e é protegido pelo Governo Português. É um radical que só pensa em guerra. Vejam bem. O professor Belchior quer nas estradas de Cabinda acções contra civis brancos, de preferência portugueses. O Stephane Barros defende a mesma linha. E vive em Lisboa sob a protecção do Governo Português, que anda a mandar trabalhadores portugueses para Angola onde a ala dos intelectuais da FLEC os quer matar. Angola com amigos destes, não precisa de inimigos. A FLEC do Nzita Tiago em Lisboa tem todo o apoio do mundo.

JA - Essas facilidades não são mais em Paris?

ALS - Paris e Lisboa são a mesma coisa. O Mingas é cidadão francês e trabalha para uma empresa pública francesa. Foi preso por estar implicado naquela loucura do ataque à equipa de futebol do Togo. Um dia destes foi libertado porque diz que nada teve a ver com a operação, nem sequer participou na preparação da acção. Se o tribunal francês quiser, arranjo-lhe várias testemunhas que provam o contrário. Ele esteve pessoalmente no terreno a preparar o ataque. As autoridades francesas sabem que é assim, mas não querem assumir que um seu cidadão nacional cometeu um acto terrorista contra desportistas e jornalistas em território angolano. 

JA - Qual é a sua actividade actual?

ALS - Com a graça de Deus vivo em paz e estou a fazer um estágio profissional. Depois vou trabalhar num hospital público. A reconstrução nacional espera por mim e eu tenho a obrigação de dar o máximo. Perdi muito tempo com pessoas que só querem matar e destruir. 

*Jornalista

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