Carvalho da Silva* | Jornal
de Notícias | opinião
Um esclarecimento prévio aos
leitores para que não interpretem mal o título. Não venho, de forma alguma,
defender a dissolução do Parlamento, nem acompanhar a claque de Pedro Santana
Lopes e muito menos gerar um movimento que lhe faça concorrência. Apenas
partilhar reflexão sobre o contexto, os objetivos e possíveis desenvolvimentos
políticos associados à romaria que a Direita, incluindo a sua extrema, vem
fazendo ao palácio de Belém, gritando "estamos prontos". Este grito
significa apenas ânsia desesperada de aceder ao poder.
Aos desesperados da Direita não
importa se o PSD chega como suporte de uma alternativa, ou se tem de levar
consigo o lixo político que nega o regime democrático e renega a Constituição
da República. Sobre esta matéria as declarações de Montenegro são meros
exercícios de retórica para esconder aquela certeza. Entretanto, o chefe do
chiqueiro político, à saída de Belém, assegura: "o presidente da República
não será obstáculo a qualquer tipo de participação governamental por parte do
Chega". As máquinas da lavagem do personagem vão trabalhando a todo o
vapor, com o objetivo de o tornar pessoa respeitável e acomodável numa
hipotética maioria de Direita.
Percorrendo as propostas
políticas da Direita não se descobre uma, que seja coerente e sustentada, para
se criar um perfil da economia que acrescente mais valor no que produzirmos.
Todos os dias pregam que tudo pode continuar na mesma, bastando haver
"mais crescimento económico". Todavia, sem essa mudança o
desenvolvimento é uma miragem. Agarraram-se aos disparates e à prepotência do
Governo na gestão da TAP, mas escondem o criminoso processo de privatização que
fizeram. E onde se situa a Direita quando se discutem melhorias da qualidade do
emprego e de salários? Situa-se no campo oposto a esta demanda, o que significa
perpetuar a pobreza e a falta de profissionais qualificados no setor público e
em subsetores do privado.
O país tem um Governo com maioria
absoluta, o que lhe daria - com um programa consistente e um Governo competente
- margem para secundarizar os estados de alma do presidente da República. Mas,
o Partido Socialista não conseguiu tratar a ressaca da maioria absoluta e o seu
Governo tem fraca qualidade e plena ausência de brilho. Isso tem facilitado
condições de manobra a Marcelo Rebelo de Sousa, que conseguiu fazer com que o
primeiro-ministro pareça um aluno carente, em permanente estado de necessidade
da confirmação do seu talento por parte do professor. Para alimentar essa
carência, o professor ora o aplaude, ora lhe dá reprimendas.
Refém nesse enredo, António Costa
é mais um ministro a "dizer coisas", dia após dia, muitas vezes sem
aprofundamento, e até com pouco rigor. Daí resultam parcas respostas aos
problemas com que as pessoas se debatem e quase nada para as transformações de
que o país precisa.
O primeiro-ministro não pode
andar a mudar de agulha de um dia para o outro manipulando fundamentações. Isso
corrói a sua credibilidade e impede-o de valorizar decisões com significado
para as pessoas, como o recente aumento das pensões. A viragem necessária exige
muito mais que a distribuição de uns trocos vindos das folgas orçamentais. Os
problemas dos portugueses não se resolvem com decisões políticas de ocasião
ditadas por marketing eleitoral, mas sim com políticas estruturadas e objetivos
estratégicos.
*Investigador e professor
universitário