Daniel Vaz de Carvalho [*]
"Os media ocidentais tornaram-se uma paródia de informações incorretas, desinformação e propaganda imperialista descarada. Ninguém em sã consciência pode levá-los a sério." -- Strategic Culture
1 – A propaganda
Democracia, direitos humanos, terrorismo, tudo isto é usado de acordo com os interesses hegemónicos. Os seus critérios têm que prevalecer sobre a realidade, sobre a verdade. Porém, os que nesta via se enredam não ficam imunes. A propaganda não ganha guerras e viver à margem da realidade impede que os próprios avaliem as consequências das suas ações. Desta forma, o ocidente mergulhou num caótico ciclo de crises mascarado com propaganda, como se esta as pudesse resolver.
Mesmo antes de
Para o justificar perante a opinião pública, “especialistas internacionais” tem por obrigação defender e justificar o que quer que o império faça. As suas narrativas não têm qualquer credibilidade: trata-se de um esbracejar inconsequente face à realidade, com opiniões a querer passar por factos.
A propaganda apresenta a Ucrânia
a combater pela democracia e pela independência recuperada em
“Comentadores” mantêm a absurda mentira de que o ocidente está “a defender a democracia”, apesar de tudo o que se sabe sobre a corrupção do clã de Kiev, repressão, mobilizações forçadas, arbitrariedades dos grupos nazis, proibição de todos os partidos políticos de oposição. Em compensação, dizem que a Rússia é um país totalitário, “repressivo a nível interno e implacável a nível externo”. Um totalitarismo, do qual não apresentam provas concretas, nem dizem que as suas leis repressivas seguem critérios há muito postos em prática nos EUA, nem mencionam que nos EUA há 2,3 milhões de pessoas presas, de longe o líder mundial, e 4,3 milhões em liberdade condicional, além de que em 2022, foram mortas pela polícia 1 183 pessoas.
Mas que “independência” tem a Ucrânia? A de obedecer ao guião posto em prática por Washington em 2014? Quando os partidos pró-russos tinham maioria e o Partido Comunista aumentava a votação. Propaga-se a ideia de que a Ucrânia tem o direito de escolher aliados e fazer parte da NATO. Talvez, se isso fosse uma escolha democrática e sem ingerência estrangeira, mas assumindo as consequências do que resultaria quanto à segurança dos vizinhos.
A Ucrânia não tem independência,
nem soberania. Ucrânia nem sequer é um Estado funcional: o ocidente tem a seu
cargo 70% das despesas do governo. É um Estado falido cujo futuro
foi destruído pelas estratégias do ocidente. Em
As estimativas de entregas dos EUA e da UE/NATO à Ucrânia variam entre 150 e 200 mil milhões de dólares, só no ano passado. Claro que há quem ganhe com a morte: os fabricantes de armas ocidentais tiveram um recorde de vendas de 400 mil milhões de dólares em 2022, prevendo-se este ano 450 mil milhões.
Centenas, mesmo milhares de milhões de dólares acabam nos bolsos de governantes e altos funcionários de Kiev. Para manter as aparências tem havido demissões por corrupção. Porém, o próprio Zelensky tem participações substanciais (formalmente transferidas para um sócio) em três empresas em paraísos fiscais e comprou moradias de luxo em várias partes do mundo por dezenas de milhões de dólares.
A guerra na Ucrânia perdeu claramente o apelo duma suposta cruzada pela “democracia”. Nos EUA, bandeiras amarelas e azuis desapareceram das janelas e dos carros. Foi errado afirmar que tínhamos (os EUA) algum interesse nacional naquele triste país. O governo orquestrou este fiasco sob todos os aspetos. A Ucrânia foi reduzida a um Estado falido e os americanos começaram a notar que o dinheiro que vai para a liderança neonazi e cleptocrática de Zelensky é dinheiro que falta para a população empobrecida, prestações sociais e infraestruturas.
Camuflando as intenções subjacentes à guerra, produziu-se o dogma de que se trata de uma agressão não provocada. Contudo, muitos antes, experientes analistas (como Paul Craig Roberts, Finniam Cunningam, Chris Hedges, Pablo Escobar, etc) passaram anos alertando que as ações ocidentais iriam provocar uma guerra com a Rússia.
A propaganda baseia-se na “invasão não provocada da Ucrânia". "Por quê? Porque eles sabem perfeitamente que foi provocada", disse Chomsky. O facto é que grandes potências nunca aceitarão ameaças de outras grandes potências nas suas fronteiras. Esse é um ponto-chave para entender os grandes conflitos, não apenas entre os EUA e a Rússia, mas também entre os EUA e a China – porém os EUA são os únicos que acumulam forças militares nas fronteiras dos que definem como seus inimigos.
A propaganda dos “especialistas” vai mais longe: Putin iniciou a guerra contra a Ucrânia por desejo de vingança (!), uma guerra para o regime russo consolidar o poder. Quanto a vingança, só se for por ter parado os crimes do grupos nazis contra a população do Donbass. Dizem que “quer impedir a modernização da Rússia” (!). Sabemos o que significa esta “modernização”: neoliberalismo e domínio das transacionais, a “modernização” das crises, crescentes desigualdades e pobreza. Nada dizem sobre a capacidade técnico-cientifica demonstrada pela força militar russa, nos mísseis hipersónicos, na energia nuclear, na substituição de importações, na forma como as sanções se mostraram ineficazes. Para a propaganda, na Rússia não existe Constituição, eleições, oposição e governos federados é um “regime” unipessoal, de alguém que, aliás, certa propaganda periodicamente diz que já morreu.
Este afastamento da realidade e de objetivos consistentes leva à descredibilização e conflitos de interesses. Nos EUA a maioria não quer continuar a financiar a Ucrânia, tendo a perceção do buraco financeiro que Washington acumula (33,5 milhões de milhões de dólares!). Claro que o império custa dinheiro: só desde o 2001 o custo das guerras, atinge mais de 8,8 milhões de milhões de dólares… Esta situação deu lugar a divergências não só no Congresso, mas também entre a CIA e a Agência de Inteligência de Defesa com reflexos nas políticas relativamente à Ucrânia e à China.
O clã de Kiev tem razões para estar inquieto – e, segundo consta, o chefe aumenta as doses de cocaína – à semelhança dos nazis e fascistas no final da guerra, temendo pelo julgamento do povo, serem responsabilizados pelos crimes cometidos e destruição do país.
A função principal de Zelensky é pedir dinheiro e persuadir países a apoia-lo. Mas a sua viagem a Nova Iorque foi um fracasso: o Congresso ignorou-o; de Biden só obteve promessas vagas; ao discursar na AG da ONU, metade dos delegados abandonou a sala. A entrada para a NATO e UE, não vai além de pensamento oco. Como consolo teve a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, incluindo “socialistas” que foram a Kiev saudar e apoiar um regime que proibiu partidos congéneres, prendeu seus militantes e transformou criminosos nazis em heróis nacionais. Que vergonha – mais uma da social-democracia!