Quanto maior a selvageria em Gaza, mais frágil será a posição de Tel Aviv. Como no Vietname em 1968, o 7/10 mostrou que a ocupação é insustentável, fez da Palestina símbolo da luta decolonial e já corroi o projeto dos Ocidente para o mundo árabe
Tony Karon e Daniel Levy para The Nation | em Outras Palavras| Tradução: Maurício Ayer | Imagem: Mahmud Hams (AFP) | # Publicado em português do Brasil
Pode parecer absurdo sugerir que um bando heterogêneo de homens armados, em número de poucas dezenas de milhares, sitiados e com muito pouco acesso a armamentos avançados, seja páreo para um dos exércitos mais poderosos do mundo, apoiado e armado pelos Estados Unidos. E ainda assim, um número crescente de analistas estratégicos do establishment alertam que Israel poderá perder esta guerra contra os palestinos, apesar da violência cataclísmica que lançou após o ataque liderado pelo Hamas a Israel, em 7 de outubro. E ao provocar o ataque israelita, o Hamas pode estar dando materialidade a muitos dos seus próprios objetivos políticos.
Tanto Israel como o Hamas parecem querer redefinir os termos da disputa política para uma posição distinta do status quo anterior a 7 de outubro, mas para a de 1948. Não é claro o que virá depois, mas não haverá como voltar ao estado anterior.
O ataque surpresa neutralizou as instalações militares israelitas, arrombando os portões da maior prisão ao ar livre do mundo e provocando uma violência horrível em que cerca de 1.200 israelenses, pelo menos 845 deles civis, foram mortos. A chocante facilidade com que o Hamas rompeu as linhas israelenses em torno da Faixa de Gaza trouxe para muitos a memória da Ofensiva de Tet de 1968 [episódio da Guerra do Vietnã, em que o exército vietcongue atacou de surpresa instalações estadunidenses]. Não literalmente – existem grandes diferenças entre uma guerra expedicionária dos EUA numa terra distante e a guerra de Israel para defender uma ocupação interna, travada por um exército de cidadãos motivado por um sentimento de perigo existencial. A utilidade da analogia reside na lógica política que molda uma ofensiva insurgente.