segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Portugal | O Chega e a imigração

António José Gouveia* | Jornal de Notícias | opinião

O ano de 2023 terminou com números de imigração ilegal que não eram vistos desde 2016. Quase 270 mil pessoas entraram em território europeu fora da lei, arriscando a vida para o fazer. Certas forças políticas, como o Chega, alimentam a perceção de que todos eles tiram partido do bem-estar social dos países. Um discurso utilizado maliciosamente porque encontram uma forma fácil de provocar medo e obter votos. Foi o que aconteceu na convenção do partido de André Ventura, onde foram ditas falsidades sobre o real contributo dos estrangeiros. Uma delas tem a ver com a Segurança Social. Segundo o Chega, os imigrantes estão a beneficiar dos pagamentos feitos pelos nossos pais e avós, recebendo chorudas ajudas da Segurança Social. É exatamente o contrário, pois a diferença entre as suas contribuições e benefícios é bastante positiva para o Estado: os últimos dados de 2022 referem um saldo de 1,6 mil milhões de euros. A questão da imigração deve ser abordada - nisso o Chega tem razão -, mas com rigor e sem preconceitos, até porque Portugal está condenado ao envelhecimento. E se não fosse a chegada de estrangeiros, a inversão da tendência da natalidade não seria possível, conforme os últimos dados do INE.

A questão aqui é exatamente o preconceito que o Chega tem em relação aos imigrantes, levando para a opinião pública números e situações que são mentiras, como, por exemplo, que Portugal tem um milhão de imigrantes e que grande parte deles têm pensões de 330 euros ou recebem subsídios de mais de mil euros. Pelo contrário, com os seus descontos para a Segurança Social, estão agora a ajudar a pagar as reformas dos nossos idosos, conforme refere o Relatório Estatístico Anual 2023 sobre os Indicadores de Integração de Imigrantes: “A população estrangeira residente em Portugal continua a ter um papel importante para contrabalançar as contas do sistema de Segurança Social”.

O Chega tem sabido explorar o medo daqueles que sofreram com a crise económica para apontar o estrangeiro como a ameaça real. E o mais grave é que pode arrastar os partidos da direita tradicional para esta dinâmica. É um discurso de ódio que, muito provavelmente, só serve para ganhar votos e carrega emocionalmente uma questão que deve ser acordada entre a direita e a esquerda.

* Editor-executivo

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