Miguel Guedes* Jornal de Notícias | opinião
Último dia antes do sábado de
reflexão final. Triste sina a daqueles que votaram antes do tempo - no contraponto
da indecisão que ainda teima em abalar 15 a 20% dos eleitores - impossibilitados, por
decisão individual, de votar sem a ponderação desta última semana de campanha.
Perderam os derradeiros jogos florais mas ganharam em convicção. Valentes
e certeiros. Tudo o que se passa nas últimas horas de campanha é o desenrolar
do aperto, respostas reactivas e nervosas aos números das sondagens que,
sabemos bem, valem o que valem mas afligem. O Chega invadiu o recreio e
desfaz-se em contradições, a AD sente-se vitoriosa apesar das “red flags”
vermelhas e históricas que agitou nos últimos dias, o PS reapresentou António
Costa pouco antes do final do filme, IL/BE/ CDU/PAN/Livre tentam ganhar
relevância na interpretação do melhor papel secundário. Está a chegar uma noite
de eleições que será de Oscars e de futebol português em aperto de calendário.
Um domingo gordo que se precipitará para uma segunda-feira de balanços finais.
Nunca a interpretação foi tão
permanente, nunca o juízo foi tão valorado, nunca a amplificação das tendências
foi tão vasta. Nunca houve, também, comentário político tão alinhado e
desequilibrado. Em 2023, contas feitas ao espectro de comentário político nas
televisões portuguesas, a Direita vence por números esmagadores: 37 contra 25
comentadores. Mulheres são apenas 24%. Aos domingos, Paulo Portas e Marques
Mendes em canal aberto. Nesta campanha eleitoral, como qualquer zapping atento
torna perceptível, à excepção do agora habitual equilíbrio da RTP, cerca de 80%
dos comentadores são de Direita. Se tempos houve (por exemplo, em 2016) em que
a Esquerda conseguia alguma paridade nas televisões, o contexto actual é de uma
assimetria evidente que mina a pluralidade, a democracia e um julgamento de
equilíbrio. Raramente há contraditório, há tiro ao alvo.
Olhar para o espectro da
indecisão ajuda a adensar as dúvidas sobre as soluções governativas. Depois da
dinamitação das sondagens que previam um empate técnico (ou até a vitória do
PSD) e deram de caras com um choque de realidade numa maioria absoluta do PS em
2022, ninguém arrisca acreditar em prognósticos. Todo
este jogo, entre parágrafos e notícias antecipadamente escritas, atirou a
política para um campo minado onde ninguém aposta num cenário de estabilidade
mesmo após a ida às urnas. A reedição da velha “geringonça” foi e será, ainda
assim, a referência mais provável para quem almeja tempos de estabilidade.
Agora, com alguém que nela acredita, ao contrário de António Costa. Aí, Pedro
Nuno Santos convence por convicção e peso da História. Era ele, de facto, o
“primeiro-ministro da geringonça” de Costa.
* Músico e jurista
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