terça-feira, 14 de maio de 2024

"Drama sem fim". Cheias voltam a deixar o sul do Brasil em sobressalto

Os rios no sul do Brasil subiram novamente esta segunda-feira, à medida que os esforços de resgate dos sobreviventes das cheias se intensificaram e o presidente Lula da Silva admitiu que as autoridades não estavam "preparadas" para um desastre de tal magnitude.

Mais de 600 mil pessoas foram deslocadas por fortes chuvas, inundações e deslizamentos de terra que devastaram o sul do estado do Rio Grande do Sul há cerca de duas semanas.

Pelo menos 147 pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas no dilúvio, e as equipas de resgate procuraram na segunda-feira em barcos e jet-skis 127 pessoas dadas como desaparecidas.

Centenas de cidades e vilas e parte da capital regional, Porto Alegre – uma movimentada cidade de 1,4 milhão de habitantes – estão submersas há dias, com ruas transformadas em cursos de água.

“É uma catástrofe para a qual não estávamos preparados”, disse Lula em videoconferência com o ministro da Finanças, Fernando Haddad, e com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

O estado permaneceu paralisado na segunda-feira, com cerca de 360 mil alunos fora da escola, o aeroporto internacional fechado e inúmeras estradas e pontes intransitáveis.

Muitas quintas também ficaram submersas numa região que fornece mais de dois terços do arroz consumido no Brasil. O governo federal disse que importaria 200 mil toneladas de arroz para garantir o abastecimento e evitar a especulação de preços.

Cerca de 80 mil pessoas encontraram refúgio em escolas, clubes desportivos e outros edifícios transformados em abrigos improvisados.

Fenómenos extremos agravados pelas alterações climáticas

As inundações são o mais recente fenómeno extremo climático a atingir o Brasil, após incêndios florestais recordes, ondas de calor sem precedentes e secas.

O governo e os especialistas atribuíram a culpa ao fenómeno climático El Niño, agravado pelas alterações climáticas.

As chuvas diminuíram na segunda-feira, mas novas chuvas no fim de semana fizeram os rios transbordarem novamente.

“Não é o momento de regressar às casas nas zonas de risco”, apelou Leite aos residentes das áreas afetadas na segunda-feira.

"Drama sem fim"

Lula adiou uma visita de Estado ao Chile para se concentrar no desastre e disse que visitaria a região pela terceira vez na quarta-feira.

O presidente também anunciou que iria propor a suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul ao estado por um período de três anos. O plano precisa de aprovação do Congresso.

O Guaíba, estuário que faz fronteira com Porto Alegre e que transborda quando seu nível atinge três metros (cerca de 9,8 pés), atingiu uma máxima histórica de 5,3 metros na semana passada e está a subir novamente após recuar brevemente.

Autoridades municipais ergueram uma barreira de sacos de areia no centro da cidade para tentar manter o dilúvio longe de uma estação de bombeamento de água que abastece vários bairros da capital.

Em Canoas, periferia de Porto Alegre, os moradores resgatavam todos os pertences que podiam de suas casas.

"Inundou em outubro e agora novamente. Desta vez perdi tudo", disse à AFP o pedreiro Alcedir Alves, de 58 anos.

Leite disse que as famílias mais afetadas receberão o equivalente a cerca de 400 dólares (cerca de 370 euros) para “reconstruirem as suas vidas”.

O governo federal do Brasil prometeu na semana passada cerca de 10 mil milhões de euros para a reconstrução.

“Estamos a viver o rescaldo de um drama sem fim aqui no Rio Grande do Sul”, disse o vice-governador Gabriel Souza à emissora Globo nesta segunda-feira.

Em Porto Alegre, os trabalhadores humanitários continuaram a entregar alimentos, água potável, medicamentos e roupas – muitos dos quais doados – aos residentes deslocados.

Esta é “a maior operação logística da história do estado”, disse Leite.

Entre os gravemente afetados estão cerca de 80 comunidades indígenas, segundo o Conselho Indigenista Missionário do Brasil.

O governo disse ter entregado cestas básicas e água potável para 240 famílias indígenas no Vale do Taquari.

As fortes chuvas também levaram à inundação do rio Uruguai, que flui entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai.

As autoridades argentinas disseram que cerca de 600 pessoas tiveram que ser retiradas na cidade ribeirinha de Concordia e que as enchentes provavelmente aumentarão ainda mais.

Florian Plaucheur, AFP | Jornal de Notícias | Imagens: Nelson Almeida/ AFP

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