Pedro Tadeu
Temos a guerra na Ucrânia com, de um lado, o presidente Vladimir Zelensky a voltar aos Estados Unidos da América com um plano para, jura ele, vencer a guerra, desde que os líderes políticos, atuais ou futuros, da nação mais poderosa do mundo o autorizem a lançar mísseis fornecidos pela NATO contra território russo.
Temos Moscovo a anunciar que preparou as instalações do complexo nuclear de Nova Zemlya, no Ártico, para fazer testes com bombas atómicas, os primeiros desde 1990, depois de o presidente Vladimir Putin ter declarado que, para ele, se os norte-americanos autorizarem os ucranianos a explodir os tais mísseis em território russo, tal significará que os países da NATO (incluindo, portanto, Portugal) terão entrado em guerra com a Rússia.
Temos a guerra contra a Palestina (43 mil mortos, já documentados, desde o dia 7 de outubro, após o ataque terrorista do Hamas) a escalar para um provável conflito de Exércitos no Líbano onde, entretanto, já morreram mais de 700 pessoas. Contam-se pelo menos 50 crianças entre as vítimas de ataques aéreos israelitas. No norte de Israel há 60 mil pessoas que fugiram de suas casas por causa das bombas que vêm do Líbano.
Aqui aconteceu o distópico episódio da morte enviada por comando remoto contra uma população indiscriminada, através do acionamento de explosivos em pagers e walkie-talkies sabotados no seu fabrico. Este ataque, atribuído pela imprensa a Israel, provocou 32 mortes e três mil feridos, e entre as vítimas estão muitos civis e trabalhadores de serviços sociais e de saúde que utilizam este tipo de aparelhos.
Temos o Exército israelita e as forças do Hezbollah a disparem rockets uns contra os outros e toda a gente prevê uma invasão do Líbano por Israel, nas zonas dominadas pela força xiita, o que provavelmente vai acicatar retaliações do Irão e de vários grupos anti-israelitas que operam na região.
Temos um navio com bandeira portuguesa, pertencente a um armador alemão, que carrega e transporta explosivos cujo destino final, depois de umas voltas, será Israel, associando o nosso país, aos olhos de uma parte do mundo, ao genocídio que o Governo de Benjamin Netanyahu está a cometer na Faixa de Gaza.
Oficialmente o Governo de Luís Montenegro, por um lado, lembra que proibiu a exportação de armamento para aquele país, mas, por outro lado, contenta-se em dizer que retirar a bandeira portuguesa a esse navio “é matéria juridicamente complexa”, o equivalente contemporâneo ao bíblico “lavo daí as minhas mãos”.
Temos, portanto, quer queira ou não queira, Portugal a envolver-se, por um lado, com uma eminente guerra nuclear que ameaça destruir a civilização e, por outro lado, a comprometer-se com um aparente apoio a um Governo responsável pelo maior crime contra a Humanidade cometido no século XXI.
Como podemos continuar passivos perante este, literalmente, fim do mundo?... E que tal ir para a rua gritar?
* Jornalista
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