Pedro Tadeu | Diário de Notícias, opinião
O novo secretário-geral da NATO, o holandês Mark Rutte, parece ser ainda mais irresponsável que o anterior e classifica como inimigos perigosos, para além da Rússia, a China, o Irão e a Coreia do Norte, preparando assim as nossas cabecinhas para a Terceira Guerra Mundial.
A presidente da Comissão Europeia secunda Rutte no protesto contra o envolvimento de tropas da Coreia do Norte na guerra, em Kursk, que é território russo e não ucraniano. Von der Leyen acha que essa é uma “escalada significativa da guerra” e uma “ameaça à paz mundial”.
Se for verdade (já nem sei...) ela até terá razão, mas Von der Leyen e Josep Borrel contradizem-se, porque aplaudem, entusiasmados, a ideia de permitir que mísseis da NATO possam ser utilizados para bombardear locais russos o que, no campeonato das ameaças à paz mundial, me parece evidente ir muito mais à frente do que a “ameaça norte-coreana” à Ucrânia.
Entretanto o Washington Post garantia ontem que Joe Biden, a menos de dois meses de deixar a Presidência dos Estados Unidos da América, decidira autorizar a utilização pela Ucrânia de mísseis norte-americanos para atingir alvos na Rússia, nomeadamente na Região de Kursk.
Vladimir Putin já dissera, a 13 de setembro, interpretar essa hipótese desta forma: “Isso significará que os países da NATO, os Estados Unidos da América e os Estados europeus estarão em guerra com a Rússia”... Achamos todos que isto é só retórica?!
Também ontem soubemos da distribuição pelo Governo sueco de um manual: “Se a guerra chegar” explica ao povo ignaro o que é essencial ter em casa, como serão difundidos os alertas de ataque e como identificar abrigos subterrâneos. O manual avisa: em caso de guerra todos os suecos, dos 16 aos 70 anos, podem ser chamados para o Serviço Militar. A Finlândia, a Dinamarca e a Noruega estão a fazer um trabalho semelhante.
Só falta mesmo vermos a repetição de uma tristemente famosa campanha do Governo britânico, em 1980, ainda na Guerra Fria, a Protect and Survive. Essa propaganda aconselhava as pessoas a telefonarem para a polícia caso vissem uma explosão nuclear, pedia a colocação de fita adesiva nas janelas para impedir a propagação de estilhaços, aconselhava a tapar os ouvidos e a fechar os olhos no momento da explosão, fomentava a construção de abrigos nos quintais, lembrava que se devia evitar a chuva radioativa e ordenava que se embrulhassem os parentes mortos em sacos de polietileno antes de os enterrar, assinalando devidamente o local da sepultura... Uma macabra e patética inutilidade face a um ataque nuclear.
Nessa época, apesar da “ameaça comunista”, muitos ingleses protestaram por se estar a popularizar a ideia de que era possível sobreviver a uma guerra nuclear, o que tornava mais fácil a sua aceitação pela opinião pública e, portanto, aumentava as probabilidades de um cataclismo atómico mundial.
Essa campanha, em 1980, foi cancelada. Nos nossos dias, anestesiados, nem reagimos contra a demência dos nossos líderes e, alguns, até aplaudem.
Irão as autoridades, daqui a uns tempos, dar-nos uma enxada para cavarmos um abrigo nuclear? Ou, quiçá, a nossa própria sepultura?...
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