sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Angola | Recuperadores de Activos Confiscaram MPLA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O serviço de recuperação de activos confiscou o MPLA aos militantes e entregou o partido a João Lourenço, seus amigos e ajudantes. A recente reunião extraordinária do Comité Central é a prova dessa tragédia. Os propagandistas dos novos donos escreveram que o líder puxou as orelhas e mostrou o cartão vermelho aos militantes e dirigentes que anunciaram a intenção de se candidatarem à liderança no próximo congresso. 

João Lourenço é o dono do MPLA. Que ninguém se atreva a reverter o confisco. Os anteriores líderes do partido foram despojados pelo serviço de recuperação de activos. Eduarda Rodrigues e Pita Grós entregaram o “activo recuperado” a João Lourenço. Não pensem que ele vai sair da liderança sem garantir um kaxiko bajulador no seu lugar. 

O MPLA é um bem de João Lourenço como a fazenda Matogrosso. O apito do árbitro jamais soará para começar um jogo onde outros queiram reaver o activo recuperado. O MPLA tem dono e senhor, deste 2017. Vai ser o mesmo depois de 2027. Esqueçam o activo confiscado.

O mínimo que se pede ao dono do MPLA é que faça um esforço para respeitar todos os militantes e dirigentes, não apenas os que lhe batem palmas e o adulam. Ainda João Lourenço era amigo e vizinho de Samakuva e já o Comandante Dino Matross se batia de armas na mão contra o colonialismo português. Ainda João Lourenço era um aspirante a “faplinha” e já Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó) defendia as populações dos musseques de arma na mão, contra os esquadrões da morte, em 1974. Ainda João Lourenço não sabia o que era História e já o General Higino Carneiro escrevia, nos campos de batalha contra invasores estrangeiros, páginas da História de Angola Contemporânea.

João Lourenço foi escolhido por José Eduardo dos Santos e o Bureau Político para líder do MPLA e cabeça de lista do partido nas eleições de 2017. Nem uma voz se levantou a contestar. Todos aceitaram disciplinadamente a decisão da direcção do partido. Ninguém andou a escrever calúnias contra ele, em textos produzidos por autores inventados no Palácio da Cidade Alta e na sede do partido confiscado aos militantes. Até agora só a UNITA do seu amigo Samakuva pediu a demissão do Presidente da República. Mais ninguém. Dirigentes e militantes do MPLA querem que acabe o seu mandato, em 2027, com dignidade e muito sucesso.

Os treinadores medíocres e os maus dirigentes fazem grandes clubes descer de divisão, mesmo quando têm excelentes jogadores e grande apoio dos adeptos e sócios. O que se espera de João Lourenço e a sua equipa dirigente é que entregue o MPLA na primeira divisão e, como sempre, campeão. 

Há alguns anos escrevi o texto que hoje vos mando. Só para lembrar:

“Novo Regime Tem a Marca da Vingança

O MPLA perdeu as eleições nos círculos eleitorais de Luanda e Cabinda porque os partidos da Oposição tiveram mais votos e mais mandatos. Mas a maioria conseguida pelo partido nas assembleias de voto a nível nacional serviu para eleger o Presidente da República e uma maioria de deputados no Parlamento, que garante estabilidade política até final da legislatura. O novo mapa eleitoral exige muita prudência, unidade à prova de bala e sobretudo inteligência. Mas está tudo virado do avesso!

Nos actos eleitorais anteriores, o MPA pôde dar-se ao luxo de incluir nas suas listas, candidatos sem grande qualidade. As suas maiorias absolutíssimas permitiram confiar tarefas governativas complexas a diletantes e aprendizes de feiticeiro. Atribuiu responsabilidades políticas a acomodados, que acamparam na Assembleia Nacional desde as primeiras eleições multipartidárias e se sentaram à mesa do Orçamento Geral do Estado, desde que nasceram. Hoje é muito diferente.

O Presidente João Lourenço está nas grandes decisões políticas e partidárias desde as primeiras eleições multipartidárias. Experiência não lhe falta. Conhece bem os dirigentes do MPLA de todos os escalões. Sobretudo os do Comité Central e do Bureau Político. O que lhe falta, vai certamente adquirir. Da prática é que nascem as ideias justas!  

Os seguidores e apoiantes de João Lourenço, aqueles que ele escolheu para o ajudarem na governação, não precisam de esfarrapar as vestes ou correrem a maratona ao ritmo de uma corrida de 100 metros, para que ele tenha o carisma do Presidente José Eduardo dos Santos. Porque essa categoria só lhe pode ser dada pelos angolanos, se assim o entenderem. Não é carismático quem quer. 

Os colaboradores do Presidente João Lourenço também não podem querer que ele tenha um currículo tão rico como o de José Eduardo dos Santos. Isso não se encomenda às agências de comunicação, não se produz nas fábricas de propaganda. O homem que lidera Angola rumo ao progresso, tem até ao ano de 2027 para ganhar um lugar de honra no coração dos angolanos. Os eleitores deram-lhe uma década para ser alguém que conte na comunidade internacional. Dois mandatos constitucionais para se guindar ao estatuto de imprescindível. Para já é o melhor de todos os militantes do MPLA e tem a confiança da grande maioria dos angolanos. 

O Presidente João Lourenço só tem sucesso se aqueles que escolheu para o Executivo ou para cargos de grande responsabilidade política, económica e social forem capazes de respeitar os princípios programáticos do MPLA e a sua riquíssima História, desde a fundação. Angola não nasceu no dia em que tomaram posse. E o partido só conquistou retumbantes vitórias porque as sucessivas direcções foram capazes de garantir a unidade nacional: Um só Povo, uma só Nação.

Alguns dias após a tomada de posse do Presidente João Lourenço em 2017 o ambiente político mudou radicalmente. Um observador menos atento seria levado a concluir que o MPLA perdeu as eleições em toda a linha. Membros do Executivo foram mais além do que iriam os partidos da Oposição. Nem sequer faltou uma pindérica caça às bruxas, mediatizada atabalhoadamente pelos órgãos do sector público da comunicação social. E a festança continua desde então. Os deputados do MPLA salvam a honra do convento e mantêm o decoro que se exige a políticos responsáveis.

O estilo dos pasquins privados apoderou-se do sector público da comunicação social de uma forma avassaladora. Jornal de Angola, TPA ou RNA nem gaguejam! Atacam tudo o que mexe e tenha a ver com o Presidente José Eduardo dos Santos. Os seus filhos andam na boca do mundo. Os que com ele colaboraram de uma forma leal, inteligente e disciplinada, todos os que deram o melhor que tinham por Angola e o Povo Angolano, são tratados como lixo pelos novos senhores do Poder. 

A UNITA não se atrevia a ir tão longe. Todos os partidos teriam pudor em destratar de uma forma repugnante aquelas e aqueles que no passado recente deram o seu melhor ao serviço da causa pública.

Os ataques soezes de que José Eduardo dos Santos e seus colaboradores mais próximos são vítimas assemelham-se, antes do mais, a punhaladas nas costas do MPLA. E se todos os angolanos têm uma dívida de gratidão para com os que dirigiram o país desde a Independência Nacional até hoje, os militantes do MPLA não podem ficar indiferentes a estes golpes traiçoeiros contra o partido que foi, é e será vanguarda do Povo Angolano na luta pela democracia e a liberdade. 

Legítima defesa! Temos o direito, mas também o dever, de defender o MPLA mas também a honra de cada um. Os “jornalistas” do novo regime, um hibrido de savimbismo e mobutismo, desencadeiam pressões intoleráveis sobre o Poder Judicial. Sobre os dirigentes do MPLA que não bajulam o líder. Sobre os profissionais que sabem o que é ética e deontologia. Cumprem o dever de cuidado. O MPLA não pode comer desta mixórdia. Se o fizer, morre intoxicado pelo jornalismo de sarjeta”. 

* Jornalista

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