segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Missangas e Fraudes Eleitorais -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Primeiro mandaram para África espelhos e missangas. Em troca levavam ouro e diamantes. Depois mandaram homens armados abençoados e protegidos pela Cruz de Cristo. Dilataram impérios até perder de vista. Em troca levaram escravos além do ouro e diamantes. Sempre que fabricavam novas armas, experimentavam-nas sobre os africanos. Chibatas, espadas, espingardas de carregar pela boca, canhões, metralhadoras, aviões que despejavam bombas. Assim garantiram décadas de guerra com seus cortejos de mortes e destruições.

Nos anos 50 surgiram os primeiros gritos de independência. Eles tremeram mas não caíram. Arranjaram outras formas de saquear as riquezas e escravizarem os africanos. Rapidamente reduziram as independências a um hino, uma bandeira e um criado no lugar dos governadores. Os angolanos chegaram tarde mas com argumentos imbatíveis. Armas na mão, iguais às dos ocupantes! MPLA e FNLA fizeram as despesas da Luta Armada de Libertação Nacional. Os regimes fantoches de África tremeram. O ditador Mobutu nem podia ouvir falar de “Monsieur Neto”, porque garantiu aos seus compatriotas que a vitória é certa. Certíssima.

Em 11 de Novembro de 1975 ficou provado que a vitória é mesmo certa. O estado terrorista mais perigoso do mundo recorreu a todas as suas armas para destruir a República Popular de Angola. De Pretória a Kinshasa, de Adis Abeba a Abidjan, todos se mobilizaram para derrubar Agostinho Neto e o MPLA. O Presidente faleceu e foi substituído por José Eduardo dos Santos que comandou vitoriosamente a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Derrotou o regime de apartheid da África do Sul. Libertou a Namíbia. Libertou Nelson Mandela. Ajudou a maioria negra sul-africana a tomar o poder.

A África Austral estava libertada! Então eles mandaram-nos a democracia representativa e a economia de mercado. Mas não brincaram em serviço. No pacote eleitoral vinha a invocação da fraude, caso os seus serventes perdessem. Foi assim em 1992, quando o MPLA ganhou as primeiras eleições multipartidárias com maioria absoluta. O sistema eleitoral estava blindado contra a fraude mas a UNITA e Jonas Savimbi recusaram os resultados. Até a ONU mandou peritos procurarem a tal fraude que não existia. A fraude era Savimbi!  

Eleições na Guiné Bissau. Se perdem os serventes deles é fraude. Eleições em Moçambique. Se perde o sipaio deles é fraude. As colónias portuguesas, que mostraram ao mundo o caminho da luta armada para a libertação do colonialismo, vivem há décadas esse drama. Sempre que os eleitores vão às mesas de voto, se ganha o MPLA há fraude. Se ganha a FRELIMO há fraude. A Guiné Bissau só tem mancarra e caju. Nada de petróleo e gás. A fraude conta pouco.

 

Donald Trump sabe como isso se faz. Então decidiu aplicar nos EUA o mesmo truque. A golpada ficou fora de controlo e os seus apoiantes assaltaram o Congresso. Jair Bolsonaro seguiu o mesmo caminho. Perdeu as eleições, invocou fraude e os seus apoiantes invadiram as instituições do poder em Brasília. Em Portugal houve batota grossa, evidentíssima, para varrer a esquerda do poder. Arranjaram 50 deputados de extrema-direita, para a partir dessa plataforma nunca mais terem de se preocupar com políticas sociais. Atiraram ao  lixo  o estado democrático e de direito.

Em França também houve fraude. A esquerda ganhou as eleições e Macron governa com a extrema-direita como manda a Internacional Fascista. Em Inglaterra aquilo já é só fraude. Conservadores e Trabalhistas são o mesmo produto com rótulo diferente. Na União Europeia é só fraude. A Internacional Fascista, bolada por Trump, triunfou em toda a linha.

Em Moçambique ainda contam os votos das eleições de 9 de Outubro. Um candidato, Venâncio Mondlane, trânsfuga da FRELIMO e da RENAMO (é obra desenganada!) já diz que ganhou. O seu advogado, Elvino Dias, tinha “provas da fraude” que ia apresentar à justiça eleitoral. Ainda se contam os votos e eles cheios de pressa invocando a fraude com provas e tudo! O candidato nem espera que a Comissão Nacional de Eleições diga quem ganhou.

Na sexta-feira, às 23 horas e 20 minutos, Elvino Dias e o mandatário do PODEMOS, Paulo Guame, foram mortos a tiro no centro de Maputo. A Embaixada dos EUA meteu logo o nariz no caso. Os portugueses igualmente pela voz do matraquilho que faz de ministro dos negócios com os estrangeiros. Em Angola, Handeka/Movimento Cívico Mudei emitiu um comunicado onde fala de “mortes encomendadas para silenciar adversários políticos”. Estes já sabem tudo. No comunicado garantem que “o candidato presidencial Venâncio Mondlade, do PODEMOS, preparava-se para apresentar provas que consideram ser irrefutáveis da fraude eleitoral por intermédio do advogado Elvino Dias”.

O líder do partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), Albino Forquilha, diz que Elvino Dias e Paulo Guame foram assassinados pela FRELIMO. Citando o líder político: “Os assassinos são pessoas do nosso sistema, comandados pela Frente de Libertação de Moçambique FRELIMO”. Não faz a coisa por menos. O próprio Venâncio Mondlane disse que “mais de 33 milhões de moçambicanos sabem que a FRELIMO é um partido de assassinos, ladrões, burladores e corruptos”. Conheço boas pessoas que se fossem da FRELIMO davam um  tiro na tola ao desbocado candidato. 

Os angolanos do Movimento Cívico Mudei, o Forquilha e o Venâncio Mondlane já sabem quem cometeu o crime. Está tudo resolvido. Mas a FRELIMO não tem interesse nenhum no crime. Vai à frente na contagem dos votos e está no poder. A RENAMO perdeu muito nestas eleições por culpa dos trânsfugas como Mondlane. E temos a maka do dinheiro. Quando terminou a campanha eleitoral sobrou muito kumbu e há uma disputa acesa pela posse do dinheiro sobrante. Conheço artistas que são capazes de matar a mãe por um décimo do dinheiro que sobrou da caça aos votos do Venâncio e do PODEMOS! Conclusão. Eleições dão sempre fraude. E o dinheiro que sobra dá makas mundiais que acabam aos tiros. 

Emergência. Os deputados angolanos têm de aprovar legislação que puna duramente as invocações de fraude eleitoral sem provas. Há que banir os políticos e partidos que se substituem às autoridades competentes e à justiça eleitoral durante e após as eleições. Em 2022 a UNITA ganhou nos círculos de Luanda, Cabinda e Zaire. Mesmo assim invocou e continua a invocar fraude. Os partidos têm de pagar pesadas multas quando se comportam assim. Haja coragem para acabar com o descrédito do sistema eleitoral. Antes que um dia tudo acabe aos tiros. Têm a palavra os deputados. Até 2027 a nova legislação deve estar em vigor.

*Jornalista

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