Marco Serronha* | Diário de Notícias | opinião
Vivemos numa Europa que parece velha e cansada, cheia de história gloriosa, que parece, de vez em quando, ressurgir com dinâmicas novas, mas cujos impactos tendem a esmorecer. Tal como Garcia Márquez descreveu os últimos dias de Simón Bolívar, aproveito o título desta sua obra magistral para descrever um continente que não irá morrer, como o velho general, mas que não consegue encontrar um futuro, nem parece conseguir resolver as incongruências do seu passado.
A Europa vai entrar em 2025 com
problemas críticos para o seu futuro, que conhece as possíveis soluções, mas
que tem dificuldade em decidir e, especialmente,
Os extremismos e radicalismos políticos que proliferam na Europa, e noutros lados, cavalgam um descontentamento com os sistemas políticos vigentes, que não conseguem agradar à grande maioria, por incapacidade de corresponder às expectativas que foram criadas nas últimas dezenas de anos.
A falta de crescimento económico, uma deficiente gestão da emigração, questões sociais, fazem-nos recordar o que aconteceu há cerca de 100 anos, onde as autocracias, que resultaram de descontentamentos diversos, geriram uma parte do espaço europeu e conduziram ao desastre que foi a segunda guerra mundial.
A democracia liberal não é um direito divino, nem um dado adquirido, precisa de ser cuidada e defendida, e objeto de melhoria continua.
A União Europeia, que como bloco económico é a terceira potência global, necessita de conseguir gerir os seus desafios geoeconómicos, onde se incluem a guerra da Ucrânia, a pressão económica crescente da China, assim como a nova liderança dos Estados Unidos que, com a ameaça de aumentar as tarifas sobre as exportações europeias, pode pôr em risco o relacionamento transatlântico.
Mesmo quando toma boas decisões, a burocracia da UE, pulverizada em múltiplas organizações, dificulta a boa e atempada aplicação das medidas decididas. Necessita, assim, criar uma rede europeia de segurança económica, mais ágil e assertiva na implementação das decisões da UE e dos seus Estados-membros.
Nos desafios geopolíticos e geoestratégicos, o fundamental, e primordial, é reconhecer os desafios e ameaças à sua Segurança e Defesa que, a não serem devidamente geridos, irão colocar em causa as condições para um desenvolvimento sustentável, com coesão económica e social e autonomia política. Só com esse reconhecimento é possível aplicar as necessárias medidas na revitalização, imediata, da base industrial de Defesa europeia e fazer o imprescindível investimento nas capacidades de Defesa das Forças Armadas dos seus países.
Para tudo isto parece haver recursos, mas, sobre vontade política e entendimento mútuo, parece haver dúvidas.
São tempos difíceis que exigem vontades fortes.
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