Artur Queiroz*, Luanda
O Asdrúbal era corneteiro na banda de música do RIL (Regimento de Infantaria de Luanda) também conhecido por RI20 mas até me tremem as mãos quando escrevo estas duas letras e dois números. Como se sabe, esta escola superior é que fornece os grandes nomes da Academia Angolana de Letras. Vou directo ao assunto. Na tropa tirou a carta e graças a uns empenhos foi admitido como motorista dos machimbombos municipais. Fazia a linha 10 para a Ilha. Um dia estava à espera de passageiros quando viu sair da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, uma menina lindíssima. Foi tiro e queda.
A beldade logo recebeu o nome de Santinha e o Asdrúbal manobrou junto da família para amigar com ela. Um dia foi ao Puto em licença graciosa e quando votou trazia uma mulher branca. Santinha foi despachada de novo para a Ilha.
Numa festa a Nossa Senhora do Cabo fui à farra do Marítimo onde sandes de chouriço não virava paio. Tocou aquela música da diva Ângela Maria: Será que eu sou feia? Não é não senhor! Então eu sou linda? Vosso é um amor! Me digam então por que razão eu vivo só sem ter um bem. Você tem o destino da lua que a todos encanta e não é de ninguém.
Bem agarradinhos para não cair, disse à Santinha que era muito bonita e ela encostou ainda mais. Logo ali fizemos compromisso. Foi então que soube tudo. O Asdrúbal batia na Santinha desalmadamente! Ai é? Engendrei logo uma emboscada ao corneteiro nachimbombista. Ele ia tomar café na esplanada da Bracarense, na Maianga. Combinei com a minha amiga Nandi uma operação de desagravo.
A Nandi alinhava em todos os meus projectos. Apareceu como Nossa Senhora nos canaviais da Damba Maria, entre Benguela e o Lobito. Aquilo até deu reportagem no jornal “Sul” assinada pelo Santos Costa. Os factos milagrosos foram confirmados pelo bispo de Benguela, que tinha estudado com o Ernesto Lara Filho na escola de regentes agrícolas em Coimbra.
Eu tinha uma fisga e era grande atirador com essa arma de abater passarinhos. Guardei-a de recordação dos bons velhos tempos da adolescência no Bindo. Arranjei umas pedrinhas pontiagudas de brita, fiz uns treinos e avançou a operação.
A Nandi meteu uma mini-saia
curtinha e sentou-se numa mesa da esplanada, encostada à parede O Asdrúbal
chegou com ares de engatatão, viu aquele pernão à mostra e sentou-se
Estiquei os elásticos da fisga e disparei. A pedra bateu na cabeça do Asdrúbal, de lado. Ninguém viu. Mas ele caiu de borco, sangrando. Um criado de mesa, o Horácio Roque, mais tarde banqueiro falido, foi socorrê-lo. Grande burburinho. A Nandi foi ajudar. Eu saí do meu posto e fui fingir que ajudava o ferido. Quando teve alta, como perdeu um nadinha de massa encefálica, tinha um braço morto, a perna esquerda disparava para a frente, a cabeça estava sempre a espantar moscas. O bicho ficou fora de combate e nunca mais conduziu machimbombo nem agrediu damas.
De repente senti um baque. E se a Santinha me enganou? A Primeira-Dama de Angola, Doutora Ana Dias Lourenço, apareceu nos cumprimentos do fim-de-ano com hematomas num olho e no lábio. Foi agredida? Nunca. Sua excelência foi submetida a procedimentos estéticos de harmonização facial com ácido hialuronico.
A turma do chefe Miala mandou dizer que “o uso do ácido hialuronico é comum em procedimentos estéticos para suavizar linhas de expressão, preencher olheiras e proporcionar um aspecto mais rejuvenescido”. Felizmente não há nenhum Asdrúbal nos hematomas da Primeira-Dama. As aparências iludem e o fogo de vista é uma ilusão. Ácido hialuronico em vez de murros! Minganaste Santinha? Fizeste de mim um criminoso? Agora estou à pega com o Pita Grós. Mas serei indultado em homenagem aos 50 anos da Independência Nacional. Eu fico mais barato do que a Net Nahara.
O Instituto Nacional de Estatística, instituição prestimosa, acaba de informar que “a situação económica de Angola e das famílias agravou-se nos últimos doze meses”. Eu já sabia. Todos os dias as mamãs zungueiras me informam que está tudo malé, malé, malé! Grandes economistas. E não gastam um centavo ao Estado nos seus estudos. Há serviços públicos que não passam de fogo nas vistas e ilusões de optica.
O jornal “Expansão”, do alto das suas ilusões e fogos nas vistas, descobriu que o sector público da Comunicação Social custou cerca de 70 milhões de dólares por ano, nos últimos cinco anos. Uns bagos de jinguba. Meninos, isso é quanto nos custa a UNITA ou um ajuste directo que demora uns segundos a assinar.
Nunca se esqueçam. Sem a TPA não ouvíamos o Duda dizer à ministra da Saúde que tem um vestido muito bonito. Ou a Kieza Silvestre mastigando as palavras, abafando as vogais, proclamar ante a embasbacada audiência: “ A senhora ministra tem um vestido maravilhoso!” Querem melhor brinquedoteca do que a TPA? Ingratos.
Sem o investimento do Estado no
sector público da Comunicação Social não tínhamos Adebayo Vunge a garatujar no
Jornal de Angola, os momentos que marcaram
Momento de 2024 marcante para Adebayo Vunge foi o choro da Primeira-Dama, quando ouviu relatos das sevícias sofridas por crianças violadas. As lágrimas do ano! E depois veio o momento sideral: A visita de Joe Biden a Angola. O resto é conversa.
Sem os momentos do Adebayo Vunge estávamos perdidos. Só nos restava a droga ou a prostituição. Feliz Ano Novo para mim que ando à rasca.
* Jornalista
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