quarta-feira, 19 de março de 2025

Massacres em Gaza e no Paraíso – Artur Queiroz

<> Artur Queiroz*, Luanda ---

A “stora” Joana Bocarra era tão austera como a Matemática que nos ensinava competentemente. Nessa altura era um rapaz feliz por ter aprendido que o mundo é dos resistentes e não dos sobreviventes. Por isso não largava o sorriso que ganhei por ter sobrevivido à guerra no Norte de Angola e resistir aos citadinos luandenses sendo um pobre refugiado do mato. A senhora professora embirrava com a minha bonomia dizendo azeda: “muito riso pouco ciso”. Mulher inteligente e premonitória. Descobriu antes de mim, que juízo é coisa que nunca tive e já não vou a tempo de ter. 

Numa tentativa, falhada, de me reconciliar com a cientista dos números, um dia, no final de uma aula que me deixou completamente baratinado, disse-lhe que de todas as coisas tristes a mais triste é esta: Podia ter sido. A minha vida acontece mesmo. Os guerreiros da UPA não me mataram. As milícias do Ferreira Lima não me mataram. Tenho direito ao meu sorriso. Sou Schiller. Sou Beethoven. O meu hino nacional será sempre o da alegria. 

Pressenti no olhar da “stora” Joana Bocarra um sentimento de pena. Lástima. Coitado. A guerra deu-lhe a volta à cabeça. 

A Faixa de Gaza tem hospitais em ruínas. Não há medicamentos nem material cirúrgico. Não há médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde. Todas as escolas, sobretudo as da ONU, foram destruídas à bomba pelos nazis de Telavive. Poucas casas estão de pé. Bombas de grande potência, fornecidas pela Casa dos Brancos, destruíram centenas de prédios. Uma trégua permitiu troca de prisioneiros. Deixou respirar os sobreviventes. Trump mandou recomeçar os massacres na Palestina. O último bombardeamento fez 400 mortos e mais de 1.000 feridos. Esta é a hora da resistência. Como dizia o meu amigo palestino khalil, a luta do povo é invencível.

  

Para arrebanhar dólares que fazem falta à indústria bélica, Trump resolveu descapitalizar as relíquias da Guerra Fria: Voz da América, Rádio Europa Livre, Rádio Ásia Livre, Radio Televisión Martí (arma dos gusanos contra Cuba). Elon Musk diz que esses Media estão cheios de esquerdistas que ninguém ouve! Sorte dos angolanos. Os sicários da UNITA, agentes do derrotado regime de apartheid sul-africano, são muito à esquerda. Rosado de Carvalho já sabia do corte e anunciou publicamente que os seus patrões não têm armas. Só lhes restam umas vozes do dono, como ele. Pelo menos dá para rir. O rapaz vende-se, não importa a quem. Não é esquisito com a cor do dinheiro.

Os jovens que começaram comigo na profissão, sabem que entrevistas só são válidas presencialmente. Porque na entrevista há três linguagens: Falada, escrita e gestual. Todas entram no produto final. O senhor Edilson Pimenta, alto funcionário do Banco Nacional de Angola, foi entrevistado pela TPA sobre a Semana Global do Dinheiro. Informou que os jovens participantes estão a ser ensinados para não se deixarem ludibriar em golpes financeiros via internet.

 Eu vi. Afirmou isto sem se rir, portanto não estava a protagonizar uma brincadeira de mau gosto. A juventude angolana anda a nadar em dinheiro e não pode entregar o ouro ao primeiro bandido que lhe apareça no mundo informático. Zungueiras, roboteiros, mal empregados e desempregados estão salvos. Ninguém lhes vai sacar o kumbu à má fila, via internet. São reis do petróleo. 

O governo é para nós mais do que uma mãe. E eu, que sou jovem de espírito, agradeço muito as lições da Semana Global do Dinheiro. Nunca fui roubado na internet mas se há governo, sou vítima. Roubam-me impiedosamente! A partir de agora a criadagem ministerial já não me engana. Sei o que é dinheiro. Sei guardar o dinheiro. Sei investir em copos e fundos de garrafas. Sou um caga milhões como o pai do governador de Luanda, que está prestes a inaugurar a última peça do saneamento básico da capital. Coitadinha da cólera, tem os dias contados.  

Boas notícias para a Ucrânia. A partir de agora, a carne para canhão não é apenas ucraniana. Amanhã desembarcam na linha da frente tropas francesas comandadas por Macron, os lanceiros britânicos sob o comando de  Keir Starmer, o generalato da União Europeia representado por  Úrsula von der Leyen, António Costa e Kaja Kallas, Os lusitanos de Marcelo Rebelo de Sousa e o seu pajem Monte Descolorido, os espanholitos comandados por Pedro Sánchez, o cojonudo. (não confundir com cornudo, por favor). A Casa dos Brancos fornece as cordas para se enforcarem. Os russos estão lixados!

Cristo morreu Marx também e eu não estou a sentir-me nada bem.

Pior fiquei quando ouvi o patrão da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis anunciar que vão ser dadas licenças de exploração de “ólho” e “petrólho” nas províncias Cuando, Cubango e Cunene.

Um chefe militar do regime racista de Pretória, Coronel Ian Breytenbach, escreveu um livro intitulado “A Guerra no Paraíso”. Denuncia os massacres da UNITA e das tropas invasoras sul-africanas para roubarem o marfim dos elefantes e rinocerontes. O paraíso era o Cuando Cubango, “último reduto da savana africana”. A guerra no paraíso hoje é mesmo do Executivo contra Angola e o Povo Angolano. Daqui a uns tempos, chegam milhões de turistas para verem os campos petrolíferos. Começam no Planalto de Malanje e acabam nas imensas anharas do Sul. Nos rios da região vai correr “petrólho”.

Os pastores e camponeses, as comunidades nómadas, já aprenderam a guardar suas fortunas petrolíferas durante a Semana Global do Dinheiro. Entretanto Júlio Bessa, líder do Partido Cidadania, já decidiu: “Jonas Savimbi é nosso herói e pai fundador da Nação Angolana, como Agostinho Neto e Holden Roberto”.  Este já começou a corrida para um retumbante zero vírgula zero eleitoral. Boa sorte.

* Jornalista

 

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