quinta-feira, 24 de abril de 2025

A lenta morte da eutanásia no Parlamento. O longo adeus a Francisco

Lia Pereira, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

À espera de regulamentação desde 2023, a lei da eutanásia está por estes dias mais perto da morte. Na terça-feira, o Tribunal Constitucional chumbou-a, declarando a inconstitucionalidade de três normas. Ontem, a AD pronunciou-se, considerando que “o Governo fez bem” em não regulamentar a lei. Mas não revelou o que PSD e CDS tencionam fazer relativamente ao tema, caso voltem a ser Governo, após 18 de maio. Terá de ser “o novo Parlamento” a deliberar sobre a matéria, afirmou o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, após o Conselho de Ministros.

O novo impasse foi lamentado pelos partidos de esquerda e pela Iniciativa Liberal, que acreditam que a eutanásia corresponde à vontade “da maioria dos portugueses” e que é possível mudar a lei para corrigir a inconstitucionalidade.

Independentemente de como se posicione face a esta questão, vale a pena ouvir Luísa Sobral, cantora-compositora que acaba de publicar o primeiro romance, falar sobre a experiência de fazer voluntariado numa unidade de cuidados paliativos. Em entrevista no podcast Posto Emissor, a artista partilha histórias pessoais sobre o poder da música na gestão das emoções de doentes terminais e defende: “Enquanto não tivermos bons cuidados paliativos, não faz sentido estar a discutir a eutanásia. Tem de haver duas opções: o doente poder partir, se quiser, ou poder ficar, mas sem dor e em paz”.

Entretanto, no Vaticano, os fiéis continuam a despedir-se do Papa Francisco. A trasladação de Jorge Maria Bergoglio para a Basílica de São Pedro decorreu esta quarta-feira sob o aplauso de milhares de fiéis. O caixão de madeira onde repousa o Santo Papa, que pediu um funeral simples, foi transportado ao som de canto gregoriano, e vai permanecer aberto durante o velório. O funeral é no próximo sábado, às 9h00 da manhã, hora de Portugal Continental. Quanto ao sucessor de Francisco, as casas de apostas já mexem, com o italiano Pietro Parolin e o filipino Luis Antonio Tagle como favoritos.

Em Portugal, os três dias de luto nacional declarados pela morte do Papa levaram o Governo a cancelar toda a “agenda festiva” e a adiar as celebrações do 25 de Abril. A bandeira será colocada a meia haste e pede-se “reserva” nas celebrações, neste período de “consternação e homenagem”. No Parlamento, mantém-se a sessão solene do 25 de Abril, mas por todo o país várias autarquias cancelaram já concertos e outros espetáculos. No Vaticano, o luto dura nove dias, até ao início do conclave que determinará quem sucede a Francisco.

Com novo hino e sem direito a perguntas dos jornalistas, André Ventura apresentou esta quarta-feira o programa eleitoral do Chega para as legislativas de maio. Ao longo de hora e meia, o foco recaiu sobre as medidas que visam os migrantes, como limitar o seu acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou agravar penas e agilizar deportações em caso de crimes, promessa a que chamou “Lei Manu”, em referência ao jovem de 19 anos morto em Braga. O jornalista Hélio Carvalho esteve na apresentação no Hotel Marriott, em Lisboa, e elenca as propostas do partido de André Ventura, que voltou a garantir que quer vencer as eleições “para salvar Portugal do sistema”, pedindo a Luís Montenegro que “saia da frente” para esse efeito. Hoje, o líder do Chega e o Primeiro-ministro defrontam-se num debate na SIC.

OUTRAS NOTÍCIAS

Ucrânia Pelo menos nove pessoas morreram e 63 ficaram feridas num ataque com mísseis russos contra Kiev, esta madrugada. Entre os 42 hospitalizados, seis são crianças.

Sismo Um sismo de 6.2 foi sentido na Turquia. Mais de 150 pessoas ficaram feridas ao tentar saltar dos edifícios onde estavam, mas não há registo de mortos.

Martim Moniz A PSP vai fazer uma nova avaliação de risco sobre as manifestações marcadas para o 25 de Abril, com “objetivos distintos e antagónicos”. A decisão surge um dia após o Expresso ter noticiado a concentração de grupos de extrema-direita no Martim Moniz, zona de Lisboa que é casa de uma grande comunidade imigrante indostânica.

Partos sob rodas No domingo de Páscoa, uma bebé de nome Maria nasceu na A1, a bordo de uma ambulância a caminho de Coimbra. Este ano, houve pelo menos mais 21 casos semelhantes, apurou o Expresso.

Taça O Benfica venceu o Tirsense por 4-0 na Luz e vai defrontar o Sporting na final da Taça de Portugal. Esta é a primeira vez desde 1996 que os dois clubes se encontram na final desta competição.

Conclave Com novo conclave à vista, Rossend Domènech, correspondente do Expresso em Roma, recorda a longa-metragem do ano passado e explica o que é ficção e o que é realidade no filme protagonizado por Ralph Fiennes, premiado com o Óscar de Melhor Argumento Adaptado.

FRASES

“Do ponto de vista dos princípios e dos valores, estamos exatamente nas mesmas circunstâncias”, Luís Montenegro, primeiro-ministro e líder do PSD, comparando-se a Francisco Sá Carneiro e Aníbal Cavaco Silva, no lançamento de um livro com textos de Sá Carneiro, apresentado por Cavaco Silva

“Não é por decreto, nem à força que isto [o fim das touradas] se resolve. As tradições só podem ser resolvidas por quem as cria. O povo que as criou é que vai acabar com elas. É uma questão de tempo”, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, no debate com Inês Sousa Real, do PAN, na CNN

“A adolescência não mudou radicalmente. Também não mudou a incompreensão entre géneros, a insegurança da puberdade e da descoberta da sexualidade, a que se acrescentou o empoderamento das raparigas. Mas é um enorme atrevimento partir do princípio que está a ser como sempre foi quando nem sequer temos condições para compreender o que está a ser”, Daniel Oliveira, no Expresso.

PODCASTS

A História Repete-se Henrique Monteiro e Lourenço Pereira Coutinho conversam sobre as primeiras eleições democráticas em Portugal, a 25 de abril de 1975. Quase seis milhões de pessoas votaram.

Antes Pelo Contrário Daniel Oliveira e Francisco Mendes da Silva comentam o chumbo da lei da eutanásia pelo Tribunal Constitucional.

O QUE ANDO A OUVIR

‘O Peso do Meu Coração’, Castello Branco com A Garota Não

Ele tem nome de cidade portuguesa, mas nasceu no Rio de Janeiro. Ela veio ao mundo em Setúbal e escolheu para nome artístico uma brincadeira com a mais famosa canção carioca (“A garota não!”, respondia Cátia quando fazia versões em bares e lhe pediam que cantasse o clássico ‘Garota de Ipanema’). Este ano, juntaram-se para uma nova versão de ‘O Peso do Meu Coração’, que Castello Branco, músico brasileiro habituado aos palcos portugueses, gravara pela primeira vez em 2017.

Ágil na voz e nas palavras, A Garota Não, que este ano deverá lançar o sucessor do aclamado “2 de Maio”, conta tudo: “O Castello fez a convocatória e eu compareci. A canção já existia - é um pulmão, um ribeiro manso, uma beleza - e nesta revisitação que ele está a fazer do seu trabalho chamou amigos para partilhar lugares. Eu entrei nesta. Que seja boa companhia, que nenhum coração deve andar pesado.”

Faço destas as minhas palavras e desejo-lhe uma excelente véspera de feriado. Continue a acompanhar-nos no Expresso, na SIC, na BLITZ e na Tribuna.

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