domingo, 4 de maio de 2025

Javardices no Quintal – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Começo de conversa. Sou radicalmente contra um Dia da Liberdade de Imprensa porque ai de nós se aceitarmos um minuto sem liberdade seja do que for. Além disso a efeméride induz em erro. Os preguiçosos, os inúteis, os diletantes, os jornalistas não praticantes, os simpatizantes de Jornalismo pensam que só basta um dia para ficarmos todos contentes e beijarmos as mãos aos donos do poder económico, como fazem reverencialmente os detentores do poder político. No audiovisual, o Dia da Liberdade de Imprensa é todos os segundos até à eternidade. Nos jornais é à palavra e à linha. Mas já estou de acordo com o Dia da Santa Ifigénia (21 de Setembro), protectora dos que nunca fizeram ninho. E negra!

Liberdade de Imprensa é uma forma de estar na profissão, dentro das fronteiras da honra e da dignidade. Com a certeza de que começa e acaba em cada profissional. Hoje como ontem, a pior forma de censura é aquela que me coíbe de escrever o que penso. Produzir a mensagem informativa à vontade do dono, não vá ele castigar-me e o salário não cai, pontualmente, no final de cada mês. Notícias, reportagens e entrevistas albardadas à vontade dos donos.

Os poderes ensaiaram muita forma de censura. Por fim descobriram a fórmula certa. Bombardeamentos informativos! Falsas notícias e manipulações servidas com notícias verdadeiras. Chanceladas por jornalistas. Valem o mesmo: Nada. E o espectáculo continua até falir o último banco. Pendurarem o último banqueiro. Aí acaba a corrupção, a exploração de quem trabalha e o roubo que pode ir até às formas violentas de latrocínio. A Liberdade não precisa de ser repartida por quintais.

Ângela Quintal é directora para África do Comité de Protecção dos Jornalistas. Quem é? Quem a elegeu? Não sei responder. Mas sei várias coisas. Não foi eleita pelos jornalistas. Não é paga pelos jornalistas. Sei que vive na África do Sul. Para nos provar que merece um átomo de credibilidade, agradeço que publique no Novo Jornal, pelo menos um texto no qual condenou o regime de apartheid. Denunciou a guerra do regime racista de Pretória contra Angola. Se opôs à ocupação ilegal da Namíbia pela África do Sul. Um texto no qual tenha condenado o racismo como política de Estado. Só valem textos escritos e publicados até ao dia da Batalha do Cuito Cuanavale (23 de Março 1988).

Comité de Protecção dos Jornalistas (CPJ). Uma treta que nos chegou do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) e com financiamentos de origem muito, muito, duvidosa. Esta maquineta é contra a criminalização dos abusos de liberdade de imprensa. Defende que difamação e outros crimes contra a honra e o bom nome de pessoas e instituições não são crimes. Devem ser castigados com multas tipo estacionamento proibido. 

Os Media publicam discursos de ódio? Para o CPJ tudo bem. Mais uma multa por estacionamento proibido. Racismo e xenofobia nos Media? Para o CPJ não há problema. Mais uma multa. Crime é um conduzir bêbado, se o condutor não for jornalista.  

O fundador do CPJ é Michael Massing, escritor norte-americano. Também foi editor da “Columbia Journalism Review”, uma referência no quintal da Ângela abusadora e juridicamente analfabeta. Esta karkamana abusadora insultou gravemente todos os jornalistas angolanos ao dizer no Novo Jornal: “Angola é recordista absoluta no uso da criminalização do jornalismo”. 

Nem um protesto das organizações angolanas dos jornalistas. Muito menos da tutela governamental. Regressámos ao tempo da árvore das patacas. Um qualquer colono analfabeto desembarcava em Luanda ou no Lobito e ficava logo muito acima dos angolanos na escala social, abanando a árvore das patacas. Vem uma karkamana qualquer, diz que em Angola o Jornalismo é crime e todos aceitam. Porque a energúmena é branca? Porque é karkamana? Porque é desavergonhada? Porque é abusadora? Não sei responder. Ma protesto contra a alimária mentirosa. Em Angola Jornalismo não é crime. 

O jornalista Diogo Paixão, meu amigo, escreve no Novo Jornal, a propósito do Dia da Liberdade de Imprensa, que temos “uma imprensa ‘amarrada’ aos ditames do poder político, como acontece na generalidade dos países africanos”. Também defende que existe “excessivo controlo dos meios de comunicação social pelo Estado”. Com esta parte concordo. 

Na “amarração” concordo mas é preciso ir mais longe. Felizmente, em África os Media ainda são correias de transmissão do poder político democraticamente eleito. No ocidente alargado e particularmente no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), o poder político anda à trela do poder económico sem rosto e tudo obedece aos ditames dos mercados, até as notícias. Coitados dos jornalistas. Não sabem que fazer dessa liberdade estonteante.

Meu caro Diogo Paixão, tens razão. Os custos das gráficas são muito elevados. O negócio de sujar papel dá milhões mas está em crise profunda, comatosa. O empresário angolano Álvaro Sobrinho comprou a Printer, uma grande empresa gráfica portuguesa. Faliu. A Lisgráfica, gigantesca gráfica portuguesa, também faliu. A nossa Damer resiste. Porque não tem concorrência e os clientes pagam a factura que lhes é apresentada. Em vez de falir, vão à falência os jornais sem nervo financeiro.

Sabes que mais? Se a Damer imprimir todos os jornais e revistas de Angola nem ocupa 50 por cento da capacidade instalada! Com pouco trabalho também vai à falência. O centro de produção da Cuca da Empresa Edições Novembro pede reformas há pelo menos cinco anos. Estão feitas? Espero que sim. A nossa MAN tem capacidade para imprimir todas as publicações da empresa e ainda sobra 40 por cento de capacidade instalada para outros clientes. 

A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA) emitiu um comunicado sobre o Dia da Liberdade de Imprensa e pede uma reflexão profunda sobre o sector. Ganhou o prémio da melhor intervenção ao lembrar que os Conselhos de Redacção ainda são a melhor forma de enfrentar o poder desmedido dos patrões públicos e privados. Não existem nos nossos Media!

O comunicado do ministro da tutela é uma javardice. O do MPLA merece este destaque: “O Bureau Político face ao actual contexto sócio-político e económico do País, aproveita a ocasião para exortar toda a classe Jornalística nacional para o proveito responsável da Liberdade de imprensa, pautado pela ética e deontologia profissional, tendo sempre como bússola a Constituição da República de Angola e a Lei”.

Os Media em Angola são aquilo que os jornalistas quiserem. Não assobiem para o lado!

* Jornalista

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