CP - LUSA
Lisboa, 27 mai (Lusa) - O general Garcia dos Santos considerou que o julgamento sobre a peça de teatro acerca da filha do último diretor da PIDE dá a "sensação de que estamos a andar para trás", lamentando a falta de interesse sobre o assunto.
Garcia dos Santos falava hoje à agência Lusa à saída da audiência do julgamento, em Lisboa, de dois ex-diretores do Teatro D. Maria II e da autora da adaptação do livro "A Filha Rebelde", sobre a filha do último diretor da PIDE-DGS, acusados de difamação por dois familiares de Silva Pais.
Garcia dos Santos considerou que "devia ter sido dada mais projeção em termos de publicidade ao que se está a passar (julgamento do caso "Filha Rebelde") relativamente ao assunto a que este julgamento diz respeito", por achar que "estas coisas devem ser do conhecimento público e tratadas de uma maneira diferente do que me pareceu que foi hoje", uma vez que a sala estava praticamente vazia.
"Muitas coisas que estão a vir a público nos últimos tempos dão a sensação de que estamos a andar para trás, lamento-o e tenho esperança de que o país não vá mesmo para trás", afirmou, referindo-se à falta de interesse por este julgamento.
Na barra do tribunal estão os dois antigos diretores do Teatro Nacional D. Maria II, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheiro, e a autora da adaptação do livro de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz, "A Filha Rebelde", levada à cena em 2007, com encenação de Helena Pimenta.
A acusação recai sobre Margarida Fonseca Santos, Carlos Fragateiro e José Manuel Castanheira, acusados de difamação e ofensa à memória do último diretor da PIDE, Silva Pais.
Os queixosos, sobrinhos de Silva Pais, falecido em janeiro de 1981, pedem uma indemnização de 30.000 euros.
Questionado pela Lusa sobre se considera necessário haver um novo 25 de abril, Garcia dos Santos -- major que juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho constituiu um dos cérebros da revolução de 1974 -- respondeu que não.
"Nem pensar. Acho é que há determinadas coisas que deviam acontecer e não acontecem no nosso país. Por exemplo, acho que as pessoas que são responsáveis, que cometem disparates e coisas que não são corretas deviam ser responsabilizadas", disse.
O que eu quero dizer com isto em "termos muito corriqueiros é que deviam rolar cabeças e não rolam", preconizou.
Argumentando que quando exerceu funções de responsabilidade e tinha pessoas sobre a sua alçada sempre que cometiam asneiras "à primeira vez avisava-as, à segunda talvez ainda talvez avisasse mas à terceira já saltava a cabeça em cima dos ombros".
"E é pena que isto não aconteça, porque isto nada tem a ver com democracia. (...) Democracia exige mais disciplina e mais responsabilidade e se não for assim o exemplo que dão essas pessoas que cometem disparates e não são castigadas é muito mau, porque os outros dizem se aquele faz porque é que não hei-de fazer também, se aquele rouba porque não hei-de roubar também, e isto pode ser uma situação imparável e é uma pena que isto esteja a acontecer no nosso país", concluiu, sem especificar a quem se referia.
Sem comentários:
Enviar um comentário