Artur Queiroz*, Luanda
O Brukutu Estiloso hoje é historiador. Mas no início dos tempos antigos esse meu amigo queria morrer de amor. Eu escrevia umas rábulas pretensamente humorísticas que vendia a um artista da boate Tamar. Entregava a mercadoria, recebia, bebia uns pares de copos, assistia ao “show” e desandava, sempre mal acompanhado.
Uma vez levei o meu amigo Brukutu
e ele apaixonou-se fulminantemente por uma bailarina da casa. Aquilo pegou
namoro e acabou
A Milú era uma menina rica, bonita e inteligente. O Brukutu também era muito inteligente, mas razoavelmente pobre. Quanto à boniteza não me pronuncio. As festas da passagem de ano no Aeroclube de Angola eram de arromba, mas a entrada caríssima. Vendi umas quantas crónicas e guardei o dinheiro. Caprichei nas rábulas e recebi a dobrar tipo subsídio de Natal.
Com o dinheiro aforrado comprei bilhete para o réveillon. Estava bebendo ao balcão e oiço um grito: Kitó! Feliz ano novo! Era o Brukutu e estava acompanhado da Milú. Levaram-me para a mesa deles, que na verdade era do pai da menina, um ricaço de Luanda. O meu amigo e a bela tinham pegado namoro. O tipo às tantas era mesmo bonito.
O ano não começou bem. Uns dias depois da festança, o Brukutu procurou-me. Estava devastado. A Milú trocou-o por um tropozoide, verdadeiro tenente da tropa de ocupação. Entrou em depressão, cortou relações com a Filosofia e jurou que ia matar-se. Não faças isso, Brukutu! O falhanço no primeiro suicídio tirou-lhe a coragem de cortar de novo os pulsos.
No Bungo existia o matadouro municipal de Luanda e o infeliz foi para lá. Pediu audiência ao director e suplicou-lhe o favor de mandar matá-lo na sala dos bois. Quero morrer! Quero morrer aqui no matadouro!
O bom homem disse que sim mas à socapa mandou vir uma ambulância e o Brukutu foi internado no hospital do Rosales, exclusivo para grandes malucos. Saiu de lá alguns meses depois. Venceu o desgosto de amor com tanto sucesso que hoje é historiador ainda que moralmente esteja a cair de podre. E a idade também não perdoa aos octogenários.
Coitado do Luís Nunes! Ainda ninguém lhe disse que hoje o matadouro é na sede do Governo Provincial de Luanda. Nomear um governador ou governadora para Luanda é verdadeiramente uma condenação à morte. O patrão do Grupo OMATAPALO (e outras miudezas presidenciais) foi despachado para no matadouro, donde nunca ninguém saiu politicamente vivo.
Mau sinal. João Lourenço já nomeia para o matadouro, aquele que é o seu mais eficaz parceiro. Um verdadeiro multiplicador de fortunas, sem recorrer à recuperação de activos do Pita Grós e da Eduarda Rodrigues. O Presidente da República já não tem mão-de-obra. Foi obrigado a tirar da Califórnia Africana um empresário de sucesso para governar Luanda ingovernável. É o fim da picada. Ou então é o golpe do baú. Querem sacar-lhe à borla, as posições accionistas nos diversos empreendimentos milionários. Coitado do Luís Nunes!
O próximo movimento vai ser nomear a filha do Sipaio da Jamba para vice-presidente da República. Assim controla mais de perto o filho de enfermeiro e a nossa Evita. O papá dá-lhe um conselho de amigo: Não tenhas medo da farda. Como deu ao Manuel Homem, um trágico acidente de percurso. Senhor Presidente Miala, o Ministério do Interior não é um circo.
O General Laborinho avisou que a polícia não distribui chocolates e rebuçados. No matadouro de Luanda ainda dá para fazer uns números circenses. Mas com as polícias não se brinca. Cuidado com as fardas e as armas! Cuidado com as imitações. Espero que Manuel Homem um dia destes não apareça no Palácio da Cidade Alta com uma corda ao pescoço, implorando ao chefe Miala que o enforque. Laborinho foi escorraçado, Manuel Homem acaba enforcado. Coisa tétrica. Hoje não estou nos meus dias.
* Jornalista
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