BAPTISTA-BASTOS – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião
As sondagens são a perpétua transacção que regista os conflitos sociais e os debates que se operam entre os políticos e nós próprios. Há racionalidade nos resultados apresentados? Aparentemente, o óbvio deixa de o ser. E o imprevisível representa o equilíbrio frágil próprio dos funcionamentos paradoxais. Quem diria que o PS de Sócrates estaria à frente do PSD de Passos, no curto espaço de meia dúzia de dias? Mas esta oscilação, mistura instável dos sentimentos que movem os cidadãos, tem muito que ver com a "mensagem", no sentido que lhe atribui Armand Mattelart (La globalisation de la surveilance, La Découverte, 2007).
Não é só "dizer"; é fazer com que o que se "diz" seja fixado uma vez por todas. A verdade constitui mais uma procura incansável do que um dado filosófico adquirido. Sabemos que esse conceito está cada vez mais arredado não só da política como dos outros sectores da sociedade portuguesa. Sócrates tem mentido, mas Passos Coelho não está isento do feio pecado. Desnecessário enumerar. Devemos admitir, com a complacência do inevitável, ser assim governados?
O presidente do PSD teve todas as possibilidades de um triunfo rápido, por admissível. Boa aparência, frase bem boleada, voz convincente. O seu adversário mais próximo estava desgastado por escândalos, aldrabices infantis, omissões lacunares, decisões políticas absolu- tamente deploráveis, ideologia de direita, e arrogância displicente pelo facto de se presumir sozinho em campo. Acresce que o partido parecia de rojo a seus pés. Nem sequer relembro o último congresso para me apoiar no irrefutável.
Enquanto, no PS, as hordas estavam disciplinadas e dispostas a bater-se com o montante contra tudo o que se lhes opusesse, o PSD expunha as fragilidades resultantes das lutas de facções, os ressentimentos e as batalhas de interesses. Nada disto, num e noutro partido, tem que ver connosco, e com Portugal. Nós e Portugal somos outra coisa. Neste momento, quando as sondagens fazem estremecer o PSD, a intriga, a conspiração, a maquinação e o conluio lavram, entre os "companheiros" de Passos, e o que entendem ser a sua política errática e inconsequente. Sócrates, para o PS, é a nódoa difícil de apagar. Passos, no PSD, é o homem a abater.
A monotonia da vida partidária revela um estado de menoridade que nos afasta dos nossos elementares deveres cívicos. O atoleiro em que fomos envolvidos não permite nenhuma hipótese de ideias novas: à esquerda e à direita é tudo velho, rançoso, e intrínseco ao sistema dominante. Criou-se essa monstruosa mistificação dos "partidos do arco do poder", como inevitabilidade sem argumentação contrária. Perguntamos: que são, em rigor, o PS, o PSD e o CDS; e para que servem Sócrates, Passos e Portas? Ou, melhor: a quem servem?
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