sábado, 21 de maio de 2011

Proíbem concentrações no final de semana: protestos continuam e alastram pela Europa





Diário Liberdade - Dezenas de milhares de pessoas somaram-se à luta por uma mudança política e social nas cidades espanholas e também em Paris, Dublin, Lisboa e Berlim. Outras capitais europeias se somarão nesta sexta-feira.

O movimento, que está acampado na Porta do Sol da capital Madri, cumpriu nesta quinta-feira o quinto dia consecutivo de protestos, desafiando proibições e conseguindo milhares de pessoas se somarem à luta por uma mudança política e social no Estado espanhol e na Europa.

Os manifestantes, "unidos por uma vocação de mudança" – alguns defendem uma "refundação do sistema democrático", enquanto outros pedem uma "revolução", uma "mudança de sistema" – estão decididos a permanecer nas praças desafiando uma nova proibição da Junta Eleitoral Central para as concentrações previstas sábado e domingo, devido à jornada eleitoral municipal do dia 22, resenhou Telam.

Entretanto, em Madri, a decisão já está feita, os acampados, que pela noite tiveram que suspender a assembleia em função da chuva, já contam com mais de 90.500 assinaturas de apoio ao protesto, enquanto no Facebook mais de 203 mil pessoas "curtiram" a "Democracia Já". Também em Barcelona, mais de 50 mil cidadãos se envolveram massivamente a favor do protesto com suas assinaturas.

Inicialmente batizado como "Movimento dos Indignados" ou "Movimento do 15-M", nome dado em função do dia que começaram os protestos convocados pela plataforma "Democracia real já", avançou cada dia mais nesta semana.

A maioria está composta por jovens estudantes e desempregados ou empregados precarizados que gritam por estarem cansados de serem tratados como mercadorias políticas, e resistem serem rotulados sob alguma etiqueta política, rejeitando siglas partidárias e sindicais.

"Toma a praça" é seu novo lema e tem páginas web (http://tomalaplaza.net) onde se expressam abertamente e comunicam suas decisões.

A eles se somaram desempregados, trabalhadores da educação, da saúde, profissionais autônomos e precarizados que se consideram vítimas de uma crise econômica que eles não provocaram.

Pouco a pouco o protesto passa pelo rechaço da classe política em geral, e principalmente os dois grandes partidos espanhóis, o social liberal PSOE e o de extrema direita PP.

Frente as eleições, muitas assembleias coincidiram que cada um deverá fazer o que lhe disser sua consciência, votar ou não, ou em branco, ou aos partidos menores, mas não há posição comum.

Como proposta concreta, na Porta do Sol assembleia votou nesta quinta-feira o requerimento de mudança na lei eleitoral para instituir uma "circunscrição única", proposta contraditória que significaria uma centralização política contrária aos direitos nacionais das nações submetidas pelo atual regime monárquico espanhol. Essa proposta, surgida em Madri, já foi rejeitada por alguns acampamentos, como o de Compostela, capital da Galiza.

O programa que está tentando canalizar as reivindicações dos "indignados" tem mais de vinte pontos que devem ser consensualizados, por isso o intenso trabalho da assembleia, que até agora não concluiu uma tabela reivindicativa definitiva.

Entre as diversas propostas em pauta, encontra-se uma lei de responsabilidade política contra os corruptos (como a Ficha Limpa no Brasil), a regulação dos alugueis de habitações, espaços dignos de moradia com baixo custo, até votar entre a atual monarquia parlamentar imposta por Franco e a reinstauração de uma III República. Não temos notícia de que a defesa do elementar direito de autodeterminação das nações peninsulares sob domínio espanhol esteja sendo incorporado às reivindicações das diferentes assembleias.

As assembleias debatem esses pontos nos acampamentos que se instalaram em numerosas cidades do Estado espanhol, mais de 50, entre elas, Barcelona, Sevilha, Bilbao, Granada, Valência, Zaragoza, Vigo, León, Logroño e Murcia.

A discussão e a mobilização social também conseguiu ultrapassar as fronteiras, chegando mais além na Europa. Na quarta-feira a chamada "Spanish Revolution" chegou a Londres, Paris, Dublin, Lisboa e México, onde os espanhóis manifestaram-se em frente às embaixadas de seu país.




Através do Twitter e do grupo de Facebook "Democracia real ya", a rebelião estendeu-se nesta quinta-feira a Berlim, e também foram convocadas manifestações em frente à Embaixada da Espanha em Paris e na Praça de Maio de Buenos Aires. Todos os jovens de Roma, Bruxelas, Birmingham e Edimburgo também foram chamados ao protesto.

O protesto dos indignados, surgido de forma espontânea, apropriou-se da campanha política das eleições municipais de domingo, em que o partido governante PSOE tentará reverter as pesquisas que prognosticam uma derrocada eleitoral frente o direitista PP.

Neste contexto, o presidente do governo do Estado espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, afirmou hoje que "há que escutar" o movimento 15-M porque "há razões para que expressem esse descontentamento e essa crítica", mas remarcou que "os países tem meios democráticos" para fazê-lo. Também Cayo Lara e Izquierda Unida lançam mensagens de apoio aos acampamentos.

Na mesma linha, o líder do PP, Mariano Rajoy, disse hoje que "a regra do jogo da democracia" consiste em "retirar os governos que não estão à altura" com "o voto livre, valente e decidido".

Por sua vez, a presidenta da Comunidade de Madri, Esperanza Aguirre, do PP, que acredita que a esquerda está tentando "manipular" este movimento contra seu partido, assegurou hoje que "a democracia pode ser o pior sistema, mas é o melhor dos conhecidos para derrotar os governos que se saem mal ou muito mal".

Esta tese da ala mais dura do PP, que vê uma nova teoria da conspiração diante das eleições, está se vendo refletir nos meios de comunicação afins aos conservadores, como El Mundo, ABC, La Razón, Libertad Digital e La Gaceta, entre outros.

Os manifestantes, no entanto, trabalham intensamente para contra-atacar este tipo de informação que "manipulam" o caráter deste protesto espontâneo, que cada vez tem mais adeptos.

Concentrações continuam também na Galiza

Na Galiza, onde as mobilizações partiram da mimetização com a convocatória espanhola, continuam sucedendo-se importantes concentrações de adesão à iniciativa mobilizadora surgida no dia 15 de maio. Centenas manifestaram-se nesta quinta-feira nas cidades de Vigo, Corunha, Compostela, Ferrol e Ponte Vedra.

Tal como Izquierda Unida e o PSOE a nível espanhol, e com a jornada de eleições à vista, o BNG saltou ao palco midiático galego expressando o seu apoio às concentrações, através de seu candidato à prefeitura da Corunha, e provocando uma polêmica interna no seio do Movimento 15M, contrário à participação de siglas políticas nas suas iniciativas.

Contudo, a maior manifestação convocada nesta quinta-feira na Galiza decorreu em Ferrol, às 20 horas, e não tinha relação com as convocatórias do Movimento 15M: mais de 5.000 operários e operárias navais marcharam pelas ruas da cidade industrial galega contra a ameaça de perda de milhares de postos de trabalho no setor... mais uma expressão da crise sistêmica que alastra na Europa capitalista.

Com informações de La Radio del Sur.

Foto 1: Madri (Espanha). Foto 2: Ponte Vedra (Galiza)

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