domingo, 1 de maio de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 09




MARTINHO JÚNIOR

A MORTE DO ARTISTA

Todos os dias vão acontecendo casos que põem a nu o elevado grau de mercenarismo que como um vírus afectou o “sistema” (?) da saúde em Angola, o que confirma que na sua essência a saúde está longe de ser um direito fundamental que é preciso respeitar, muito em especial quando há situações graves evidentes.

Recorrer à saúde em situações graves, é muitas vezes “a morte do artista”, por que os vendilhões do templo não estão sequer coibidos de serem cúmplices da morte.

A Ordem dos Médicos, por seu turno, deveria de há muito assumir uma atitude crítica de acordo com a deontologia e as mais elementares filosofias em prol da preservação da vida e do respeito que o homem, enquanto ser individual, como entidade de vivência social, começando por providenciar as normas que deveriam reger o “sistema” de saúde em cada município e comuna do país, de forma a depois fiscalizar os erros, as incorrecções e sobretudo as cumplicidades que existem em benefício da morte!

A cumplicidade em benefício da morte não será crime em Angola?

Como uma clínica capaz até de promover “Jornadas científicas na qualificação e capacitação dos profissionais da saúde” (http://www.jornadasmultiperfil.com/index.html) não atendeu, conforme a notícia, este caso que abaixo se ilustra?

Como é que uma clínica que até é reconhecida na sua acção pelo Pravda da Rússia (http://port.pravda.ru/news/busines/06-09-2010/30348-clinica-0/) e faz tão esmerada propaganda na Internet indicia assumir mercenarismo em cumplicidade com a morte?

Quando eu tenho posto em causa a lógica capitalista e tanto do que ela promove, quando eu ponho em causa o aumento do fosso das desigualdades em Angola, quanto rasto de sangue e de morte isso não implica?

Este caso que é outro caso a estudar nas suas implicações humanas e sociais, interessa-me sobretudo avaliar com ele, ao seguir a pista da vítima logo a seguir ao crime, quanto o “socialismo democrático” não terá sido afinal pasto de abertos e velados processos de capitalismo por vezes do capitalismo mais selvagem, do mais egoísta, do mais subversivo à verdade, em benefício de castas que tendem a enquistar-se em prejuízo de todo o Povo Angolano, castas que se tornaram subservientes a poderes de manipulação que chegam de fora e tendem com seu exemplo preverso a ferir o espírito de unidade nacional tão necessário.

As castas que se assumem deste modo enveredam por um caminho que não ilustra o sentido da vida por parte do MPLA, do movimento de libertação, ao porem em causa o “socialismo democrático”, ao desvirtuá-lo e ao aumentar as suas indefinições ou a sua intrínseca precariedade e vulnerabilidade!

A implementação do fosso de desigualdades e a formação de castas em Angola, que consequências está a trazer para o “sistema” (?) da saúde no país e sobretudo para os seus utentes que somos nós, nós Povo Angolano?

Aconteceu agora na Clínica Multiperfil, conforme a notícia publicada no jornal O País (e também difundida pela Angonotícias), o trânsito do actor Manuel Trindade e como ele foi “atendido” enquanto lá esteve…

Em relação a este caso não conheço a família, não investiguei os “dossiers” clínicos, não auscultei os médicos, nem lhes “sondei a alma”, mas as notícias não indiciam a tal de cumplicidade com a morte?

É surpreendente verificar os indícios de como a cumplicidade com a morte é assumida de ânimo tão leve e duma forma tão aberta, tão explícita, conhecendo-se de antemão que este caso é ilustrativo de como funciona esse “sistema”: todos os doentes, mesmo apresentando ferimentos graves, que não pagarem à cabeça o valor estipulado pela “clínica” a que recorrem, são pura e simplesmente “recambiados” para um Hospital de recurso, normalmente um “Hospital do Estado”, ainda que possam sofrer consequências com essa trasladação, indo parar, quantas e quantas vezes, ao Hospital Militar Principal das Forças Armadas Angolanas…

O Hospital Militar Principal tem sido muitas vezes sobrecarregado pelos “despejos”, não tendo mãos a medir e, com a diminuição drástica dos orçamentos a que tem sido ultimamente submetido, face às enxurradas de doentes, não tem muitas vezes “chegado para as encomendas”.

Por outro lado, o HMP era um prestigiado hospital que centralizava capacidades que o colocavam como um dos pilares do conhecimento científico do ramo em Angola, mas agora em que clínicas como a Multiperfil se assumem da maneira que é patenteada e propagandeada, quanto estará ele a ser esvaziado desse conhecimento e desses incentivos, precisamente quando as Faculdades de Medicina de várias Universidades se servem dele para as práticas do ramo?

Quanto isso está a pesar nos orçamentos de uns e de outros?

Quem beneficia deste tipo de “sistemas” e de procedimentos?

Quem é prejudicado por eles?

Porquê?

Martinho Júnior - 01 de Maio de 2011

Ciúme provoca morte de actor de programa da Zimbo

A jovem Paula da Conceição Pacheco, 27 anos, acusada de provocar os ferimentos que causaram a morte do esposo Manuel Trindade das Neves, 30 anos, actor de televisão, entregou-se voluntariamente na tarde desta quarta-feira, 27, ao Comando da Divisão da Samba da Polícia Nacional, depois de ter permanecido mais de 24 horas desaparecida.

Esperança dos Santos, mãe do malogrado, contou a O PAÍS que a acusada espetou uma faca de serra no abdómen do seu filho, na manhã de Sábado, 16, por ele ter passado a noite fora de casa. O casal faria no próximo dia 26 de Maio seis meses desde que decidiram viver juntos.

Viviam em constante conflito e as coisas se complicaram na noite do dia 15, porque a esposa suspeitava que o seu Trindade a havia deixado em casa dos seus  pais com o intuito de procurar a sua amante. Para não ser perturbado pela sua companheira, ele terá deixado o seu telemóvel no mesmo local.

Inconformada com a situação e esperançosa que as suas suspeitas condiziam com a realidade, Paula Pacheco regressou à sua residência e notou que o esposo não havia passado por lá, porque as coisas estavam conforme deixara.

“Ela ligou para mim para questionar se o meu filho tinha passado a noite em minha casa. Contou que estava a receber mensagem de uma jovem que dizia ser namorada dele e que passaram a noite junto”, declarou a mãe do malogrado.

Uma fonte próxima da vítima contou a este jornal que quando o casal  se encontrou, a companheira, bastante furiosa, arremessou todos os objectos contundentes que tinha ao seu alcance.

Atendendo ao seu porte físico e ao da agressora, Manuel Trindade ainda tentou evitar e procurou sair ileso do local, mas não  escapou da ponta afiada da faca de serra.

Depois de ver o seu companheiro a perder as forças, devido ao golpe que havia atingido o abdómen, a acusada telefonou à sogra para contar o sucedido. A mãe do jovem pensando que se tratava de um ferimento ligeiro sugeriu a ela mesma que ganhasse coragem para levar o próprio esposo ao hospital mais próximo.

Os gritos de socorro da esposa foram atendidos por um dos vizinhos que os levou à clínica Multiperfil, por ser a mais próxima de casa.  No local, em pânico, Paula Pacheco voltou a contactar a sua sogra que ao notar que a mesma falava com uma tonalidade fora do normal, pediu-a que passasse o telefone ao actor da série cómica Makamba Hotel.

“Cheguei ainda a questionar ao meu filho porque razão ele deixou que as coisas atingissem este ponto”, desabafou a senhora Esperança.

Esperança dos Santos só  acreditou que o filho corria o risco de morrer quando recebeu a informação de uma amiga que ele estava gravemente ferido. A senhora conta que como  a tabela de preço  da clínica Multiperfil estipulava três mil dólares se fizer uma cirurgia daquela envergadura, os familiares do paciente, impossibilitados de pagar, se viram obrigados a transferi-lo para outra unidade hospitalar
.
“Aconselhei naquele instante a minha nora a ir a casa descansar, enquanto o levava para o posto de saúde da FAPA, depois de ter recebido os primeiros socorros na Multiperfil”, contou.

Sinais de melhoria e morte  
 
A equipa médica de serviço no Posto de Saúde da FAPA concluiu que o melhor seria  transferi-lo para o Hospital Militar, por ter constatado que a ferida tinha oito centímetros e a faca perfurou o intestino grosso.

Nesta unidade hospitalar, os médicos efectuaram a primeira cirurgia que permitiu reverter o quadro em que se encontrava o paciente. Na manhã do dia seguinte, os familiares de Manuel Trindade ficaram bastante felizes ao constatarem sinais de melhoria.

“Como olhava para ele com ar de tristeza, ele disse-me: estou vivo, estás a pensar que eu morri ou quê?”, recordou a mãe, revelando que a alegria terminou quando foi informada no final do dia que o quadro clínico do seu filho se tinha agravado e que seria submetido a mais uma intervenção cirúrgica, que veio a durar cerca de cinco horas.

A esposa de Manuel Trindade foi acompanhando o desenvolvimento do seu estado clínico através da sogra, por ter sido expulsa de casa por uma das suas cunhadas.

O actor faleceu no dia 26 de Abril numa das camas do Hospital Militar.

Depois de ter feito diversas participações na série Makamba Hotel, trabalhou durante alguns meses como segurança na discoteca Palo´s, mas posteriormente tornou-se relações públicas de uma empresa sul-africana.

O malogrado não deixou filhos.


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