sábado, 28 de maio de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 17




MARTINHO JÚNIOR

HONDURAS – A PAZ COM JUSTIÇA E EQUILÍBRIO SOCIAL NO HORIZONTE

A paz é por definição em pleno século XXI, uma das aspirações mais intensas de todos os Povos da Terra e aqueles que perseguem o sentido ético e moral da vida só podem, pela via da paz, assumirem-se com toda a legitimidade perante os iguais, perante a humanidade e em respeito ao planeta.

A aspiração à paz no século XXI é tanto mais legítima quanto o potencial de riscos cresceu em ordem geométrica com o teto nas possibilidades de “guerra das estrelas” com recurso a armas atómicas milhares de vezes mais potentes que as lançadas em Hiroshima e Nagasaki!

A paz deve pois ser exercida enquanto prevenção, exercida com justiça social e fomento de equilíbrio nas sociedades: é pura demagogia, ou pura propaganda, afirmar-se que é possível construírem-se sociedades harmónicas se esses quesitos fundamentais não forem efectivamente tidos em consideração e implementados com obras que o justificam no eixo das iniciativa se estratégias com sinal prioritariamente humano.

Não há “socialismo democrático” algum que se justifique, por mais bem pintado que seja, nem capacidade de Reconciliação Nacional fecunda, sem se assumir na via do sentido da vida, na via do aprofundamento da democracia cidadã e participativa, pois quando na verdade ele se torna fachada do poder duma elite ou duma oligarquia egoísta e agenciada, perante o resto da sociedade em que esse poder se exerce, fazendo prevalecer desequilíbrios típicos dos “mercados” capitalistas, provocando o aumento do foço das desigualdades, incentivando o espectro da injustiça social, envergando a máscara da caridade até à náusea, reprimindo as classes menos favorecidas, assumindo uma prática de mentira pungente e continuada, esse “socialismo democrático” não passa duma arma de guerra psicológica contra os interesses da esmagadora maioria, quantas vezes contra os próprios interesses nacionais…

O socialismo do século XXI, aquele de que se está a perder a oportunidade de implementar no lado leste do Atlântico, por exemplo em Angola, por causa do capitalismo de “mercado” e da “democracia representativa” impostos pelo império, nada tem a ver com o “socialismo democrático” doente de oportunismo, de corrupção, da mentira continuada e dos interesses exclusivos e egoístas que nele se tornam os únicos a efectivamente se reverem e a se maquilharem nos espelhos do poder e de seus instrumentos (médias próprios e afins incluídos, como é evidente).

Em época da globalização segundo óptica implementada pela aristocracia financeira mundial, as oligarquias assumem-se agenciadas pela via dos “mercados”capitalistas e dos moldes outorgados às “democracias representativas” na maior parte dos casos “abertas” pelo neo liberalismo contra as estratégias que defendemos interesses nacionais: tornam-se mercenários os componentes dessas oligarquias, dessas elites e cada vez menos são patriotas convictos, sinceros, solidários e amantes do seu Povo!

Antes, no quadro do movimento de libertação alguns dos membros das actuais elites africanas foram exemplares na sua conduta e atitude para com seu Povo, para com a sua Pátria, para com a humanidade, mas agora é cada vez mais triste a figura que fazem!

Não há Tribunal Penal Internacional algum, mesmo este actual que é um instrumento “fantoche” da aristocracia financeira mundial, que consiga obter matéria para levar ao banco dos réus alguém que ao longo de sua trajectória à frente de algum estado ou instituição, tenha cultivado o espírito da paz com sentido de vida, por mais dependente ou frágil que seja sua posição conjuntural, ou enquanto entidade política e pública.

Os países que compõem a “ALBA-TCP”, “Aliança Bolinarias para os Povos da nossa América – Tratado de Comércio dos Povos” em função da cultura de paz com que impregnaram os relacionamentos a nível interno de suas sociedades, bem como no que diz respeito aos seus relacionamentos externos, estão na vanguarda dos estados com políticas que perseguem o sentido da vida enquanto aprofundamento da democracia, abrindo-se às garantias de mais cidadania e de mais participação deforma a reduzir a “representatividade”,o campo de manobra dilecto da aristocracia financeira mundial, das oligarquias das elites, onde quer que elas estejam instaladas e se façam sentir.

As Honduras têm demonstrado ser, pela sua história contemporânea, um dos elos mais frágeis da “ALBA”, mas nem por isso, muito pelo contrário, deixa de ser um belo exemplo ético e moral de busca de justiça social, da procura dum maior equilíbrio para a sociedade, num quadro de aprofundamento da democracia pela via da cidadania e da participação...

As batalhas à volta do carácter de sua Constituição são disso prova.

Desde que na sociedade hondurenha começou a ganhar sustentabilidade o sentido da vida, a filosofia e a ideia propulsora da liberdade e da democracia cidadã e participativa, que o projecto nacional integrado na “ALBA” tem vindo a evidenciar o contraste com o passado dominado por uma oligarquia agenciada pelo império, ele próprio instrumento poderoso de ingerência, de manipulação e de divisionismo à mercê dos critérios da aristocracia financeira mundial.

Por outro lado o comportamento eminentemente progressista da “FNRP”, a “Frente Nacional de Resistência Popular”,está a possibilitar que nas Honduras haja uma força cuja energia se aplica na via da paz, na batalha das ideias, na mobilização da vontade popular, uma energia que torna possível alterar profundamente a situação dando outra qualidade à democracia, como se finalmente fosse possível a independência 200anos depois das bandeiras nacionais terem sido hasteadas nos mastros América.

As oligarquias latino americanas que procuram resistir a uma ordem política que aprofunda a democracia conferindo espaço à cidadania e à participação, esgotaram sua filosofia, esgotaram seu argumento e esgotam-se no seu empenho de manter poderes instrumentalizados pelo império e sem outro sentido que não o exclusivo benefício dos interesses e das conveniências egoístas do império, por arrasto de seus próprios interesses e conveniências mercenários.

A luta na América Central tem sido longa, mas pouco a pouco o espantalho das “repúblicas bananeiras” está a ser ultrapassado, mesmo em “baluartes” tão aparentemente fortes como as Honduras: apesar do poder e dos vínculos da oligarquia nacional por dentro dos instrumentos de poder de estado (forças armadas e polícia nacional), nada impede a indómita vontade popular de, utilizando as armas do labor, da persistência, do sacrifício, se erguer intensa e emocionalmente coerente, implicando-se cada vez mais no poder democrático amplo, na integração e na independência coerente e efectiva.

Desde que o golpe se consumou que são os “sargentos às ordens” do império e da oligarquia nacional que estão em cheque, em cheque politicamente, em cheque económica e financeiramente, em cheque sobretudo pelo carácter que deram ao seu poder repressivo contra o povo hondurenho, contra a sociedade do seu próprio país, contra os direitos humanos de que se arrogam quantas vezes de enunciar na ânsia vã de se ocultarem e de se mascararem em reflexo de seus próprios espelhos.

No dia 28 de Maio vai ser dado mais um pequeno passo no longo caminho da afirmação nacional das Honduras e no âmbito da integração latino americana, com vontade de justiça social, com vontade de solidariedade e de equilíbrio e o Presidente que sofreu o golpe da oligarquia com todos os agravos, bem como cerca de 200 de seus aliados, vão finalmente voltar.

Ao império torna-se contraproducente produzir mais assassinatos como o de Salvador Allende, como o de Pablo Neruda…como se torna contraproducente levar a cabo “operações”conformes ao carácter da “operação Condor”…

A “FNRP”,“Frente Nacional de Resistência Popular”,reforçará o seu papel no contexto sócio-político-institucional nacional e regional, ombreando com honra com outros parceiros que lutam pelo socialismo do século XXI, como no outro lado da fronteira, a “Frente Sandinista de Libertação Nacional”.

A “ALBA”assume-se ainda com mais legitimidade democrática à medida que na conjuntura hondurenha e na da América Central se for saindo da dura prova que os Povos da região têm sido submetidos ao longo de séculos e particularmente nos últimos anos na disputa pelas grandes decisões nos conteúdos democráticos, na essência, nos fundamentos e em torno do poder.

O Mundo todo deve inspirar-se neste exemplo de persistência e de abnegação em busca de paz com justiça social, com solidariedade, com sentido de vida e inclinar-se perante os custos humanos, os custos suportados com o empenho da própria vida dos heróis hondurenhos e de tantos outros heróis, sem outra arma que não seja suas firmes convicções, heróis caídos no caminho desta saga centenária que nos leva à independência real e não à ficção e à utopia gerada pelo capitalismo imposto pelo império.

Quando se observa a espontaneidade das revoltas populares nas nações árabes e agora no sul da Europa, se bem que se vá identificando muita coisa que mexe com e nas sociedades desses países, os cidadãos do mundo deverão ponderar não só nos riscos que enquadram a resistência do império ao aprofundamento das democracias pela via da cidadania da participação (alguns desses riscos integrando por vezes as condutas geradas por dentro das revoltas), como devem fazer um sério balanço sobre a potencialidade das organizações e instituições eminentemente sociais e populares, bem como da correlação de forças em relação ao poder das oligarquias e das suas inteligências.

A lição das Honduras obriga-nos também a uma reflexão: as oligarquias não vão nunca desistir do exercício agenciado do poder e por isso, quem luta com sentido de vida deve colocar a aristocracia financeira mundial, as oligarquias e as elites e só elas, com a responsabilidade e com os ónus de sangue, da rapina e da morte.

São as oligarquias e as elites agenciadas formatadas no capitalismo do império que são corruptas e aqueles que se assumem na democracia cidadã e participativa como vanguarda dum figurino de poder respeitador de todo o seu povo (e não de meia dúzia de interesses e interesseiros)e da natureza, devem sobre si manter um comportamento e uma atitude consciente, rigorosa e exigente no que diz respeito ao acesso à riqueza do princípio ao fim de suas vidas.

Nesses termos, esse carácter de consciência rebelde, é prova constante de vida e de amor para com toda a humanidade e a residência mais legítima da perene chama que nutre o sentido devida, de pátria, da própria humanidade e do respeito para com a Mãe Terra!

Foi esse o sentido que ensinou o movimento de libertação e é isso que põe em causa as culturas que expandem o que é residência do mercenário, do seu irmão gémeo, o oportunista, dos “vendilhões do templo” e de todos aqueles que afinal o têm vindo a atraiçoar!

O poder das democracias que se nutrem e fazem prevalecer o sentido de vida seguindo a trilha da cidadania e da participação, terá nessa luta a implantação dos alicerces de sua própria sustentabilidade e é esse o único socialismo possível do século XXI.

Em relação a esse socialismo, não há “socialismo democrático” que o valha, emespecial quando é forjado pelo “mercado”capitalista, a “abertura” neo liberal e a formatada “democracia representativa”,o pacote imposto pelo império!

Martinho Júnior - 25 de Maio de 2011.


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