terça-feira, 24 de maio de 2011

BRASIL: REVOLTA DE TRABALHADORES EM RONDÔNIA





Fábricas Ocupadas - No dia 15 de março teve início uma revolta dos trabalhadores no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Jirau, em Rondônia, por causa das péssimas condições de trabalho. Aproximadamente 12 mil trabalhadores foram expulsos do canteiro de obras com a ajuda da Polícia Militar e 600 homens da Força Nacional.

A rebelião dos trabalhadores dos canteiros-de-obra da Usina Hidrelétrica Jirau expôs de forma contundente o que os consórcios responsáveis e os apoiadores destes empreendimentos vêm tentando esconder com o blá-blá-blá do “desenvolvimento” e do “progresso”: o seu potencial de destruição. Embora os prejuízos causados pelas usinas do rio Madeira – um dos maiores projetos de investimento no mundo atualmente – venham sendo denunciados desde 2000 por movimentos sociais, organizações nacionais e internacionais, pesquisadores e até mesmo órgãos do Estado, a revolta dos trabalhadores dos canteiros-de-obra desencadeou uma repercussão nacional e internacional.

A superexploração do trabalho nos canteiros-de-obra do rio Madeira, envolvendo violência, trabalho escravo e até mesmo mortes, é apenas uma das faces da tragédia causada pelo barramento de um dos maiores afluentes do rio Amazonas. Os danos ambientais são graves. A mortandade de onze toneladas de peixes ocorrida em 2008, ainda na etapa inicial das obras, é um indicativo do processo de degradação ambiental em curso. Do lado das comunidades atingidas, a violência se expressa pelo deslocamento obrigatório de milhares de pessoas, que tiveram suas casas inundadas pelas barragens. Dentre as opções oferecidas, estão a indenização em forma de carta de crédito ou o reassentamento nas “casas de placa”, das agrovilas. Ficar não é uma opção, já que as “casas de placa” esquentam muito no calor amazônico e são de péssima qualidade.

Poucos dias antes da revolta explodir, a página virtual do PT exibia uma matéria com um vídeo do prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, falando bem do “jeito petista” de fazer barragem, marcado pelo “pleno emprego e pelo desenvolvimento social e ambiental”, em oposição aos projetos executados durante a ditadura militar. Mas a democratização do país não alterou, de forma significativa, os procedimentos do setor elétrico em relação aos seus efeitos sociais e ambientais. Os projetos de vida das comunidades ameaçadas por estas obras são descartados. Os argumentos técnicos sobre a inviabilidade dos projetos hidrelétricos são ignorados, como ocorreu no rio Madeira. A decisão é política e tomada, sem muita margem pra negociação.

Longe de se configurar num caso isolado, os conflitos no rio Madeira se inserem num contexto de expansão de hidrelétricas rumo à Amazônia e está articulado com planos de integração regional envolvendo a infra-estrutura dos países sul-americanos, conduzidos pelos Estados e por grandes corporações nacionais e internacionais. A tragédia do rio Madeira ilustra, de forma exemplar, os efeitos perversos das políticas do setor elétrico no Brasil, marcados pelo descompromisso com padrões mínimos de dignidade humana e ética ambiental. Se por um lado, desperta preocupação, ao apontar para o que virá com a euforia de fazer barragens que mais uma vez ganha força em nosso país, por outro lado, aponta caminhos para uma possível aproximação entre a luta dos atingidos por barragem (MAB) e a luta dos trabalhadores dos canteiros-de-obra.

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Potencial hidrelétrico

No Brasil, está praticamente esgotado o potencial hidrelétrico dos melhores eixos da região Sudeste, a indústria barrageira tem se voltado para a Amazônia, caracterizada como uma nova fronteira hidrelétrica, detentora de 44% do potencial total do país. Embora seja comentado o quanto as hidrelétricas irão levar de energia à população, o principal motivo que determina a pressa na conclusão das obras é utilizar a energia gerada para abastecer as grandes indústrias nacionais e internacionais, que consomem muito, como na produção de bauxita/alumínio.

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