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Díli, 27 mai (Lusa) -- Um ex-milícia acusado de crime contra a humanidade pela participação num homicídio em Liquiçá, nos distúrbios após o referendo de 1999, começou a ser julgado em Díli, Timor-Leste.
O julgamento do processo, que já havia sido adiado, teve finalmente início devido à decisão judicial de separar os processos relativamente aos dois arguidos, já que um deles se encontra ausente, supostamente na Indonésia.
Valentim Lavio, membro da milícia "Besi Merah Putih" (BMP), começou a ser julgado em processo comum pelo Coletivo Especial para os Crimes Graves, enquanto Alfonso de Jesus, o outro arguido, deverá ser julgado se voltar a entrar no país.
Segundo a acusação da Procuradoria, a milícia Besi Merah Putih realizou ataques generalizados e sistemáticos no distrito de Liquiçá, entre janeiro e setembro de 1999, agindo com total impunidade e em colaboração íntima com os soldados indonésios (TNI).
"Patrício Sarmento Viegas, tido como apoiante da independência, ao perceber que se deterioravam as condições de segurança em Timor-Leste, decidiu partir com a família para a fronteira", segundo a acusação.
A vítima partiu a 05 de setembro num "comboio" de cerca de 50 viaturas, mas ao chegar ao mercado de Liquiçá estava uma barreira montada por milícias da BMP, que o forçaram a sair do carro, espancaram e levaram para ser interrogado, tendo-lhe a BMP confiscado a viatura.
Acabou por regressar com os familiares a Díli, para conseguir uma "autorização de viagem" do líder da milícia Aitarak, Eurico Guterres, e já com o documento, fez-se de novo ao caminho com a família, sendo intercetado outra vez pela milícia BMP, junto ao mercado de Liquiçá.
Foi forçado a sair do veículo e levado até à Praia de Pala, onde Patrício Viegas foi alvejado na cabeça por Alfonso de Jesus com um tiro de espingarda SKS, refere a acusação.
"Patrício Viegas ainda respirava, mas Valentim Lavio, que agora está a ser julgado, terá agarrado numa faca e cortou-lhe a garganta", acrescenta.
O primeiro dia do julgamento foi destinado a ouvir o arguido Valentim Lavio, que se dispôs a falar perante o coletivo, para negar os factos da acusação que lhe dizem respeito, alegando que nessa data não se encontrava em Timor-Leste, pois já tinha partido para a Indonésia.
O julgamento deverá prosseguir no dia 02 de junho, tendo já mais três sessões marcadas para os dias seguintes, para ouvir as testemunhas.
Só a acusação reuniu 41 declarações testemunhais, além de relatórios forenses e provas documentais, estando a defesa de Valentim Lavio a cargo do defensor público José da Silva.
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