Na sua terceira passagem pelo Brasil, secretário-geral das Nações Unidas vai se encontrar com Dilma Rousseff. Visita também é importante para o próprio sul-coreano, prestes a obter segundo mandato.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, visita o Brasil num contexto diferente do das duas passagens anteriores pelo país. O novo posicionamento brasileiro e dos demais países emergentes tem ficado cada vez mais claro no cenário internacional e despertado um certo incômodo nas nações que sempre tiveram mais representatividade na ONU.
O sul-coreano chega ao Brasil nesta quinta-feira (16/06), encontra-se com a Presidente da República, Dilma Rousseff, e, como adiantou o Ministério das Relações Exteriores, será cobrado para que institua reformas no sistema das Nações Unidas e no Conselho de Segurança.
"Essa visita mostra que Brasil passa a ter um tratamento diferenciado – o secretário-geral não sai visitando todos os países. Geralmente, ele aparece mais em situações de pós-crise, para chamar a atenção para algum país que precise de ajuda internacional. E esse não é o caso do Brasil", avalia Pio Penna Filho, especialista em segurança internacional da Universidade de Brasília.
De Berlim, Elisabeth Schöndorf, pesquisadora do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), enxerga a visita sob um outro ângulo. "Mais até do que para o Brasil, essa passagem pelo país é importante para o próprio Ban Ki-moon porque ele está prestes a obter um segundo mandato à frente da ONU. E o apoio brasileiro é importante."
Ponto crítico
Visto por muitos observadores internacionais como uma figura pacata e contida, Ban Ki-moon viu o tom dos emergentes subir na última reunião dos Brics, em março último, na China. Na ocasião, Rússia, Índia, China e África do Sul, pela primeira vez, se mostraram favoráveis a uma possível candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança.
"Acredito que o Brasil esteja pronto para assumir essa posição", opina Jonathan Warren, chefe do departamento de Estudos Brasileiros da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Os americanos, juntamente com Rússia, China, França e Reino Unido, são os únicos com poder de veto no Conselho de Segurança. As demais dez nações que compõem o grupo são eleitas a cada dois anos. Atualmente, Bósnia-Herzegovina, Alemanha, Portugal, Brasil, Índia, África do Sul, Colômbia, Líbano Gabão e Nigéria são membros rotativos.
No entanto, é consenso que ainda levará algum tempo para que essa ambição brasileira se realize. "É uma meta, um objetivo brasileiro ganhar um assento permanente, mas não há a esperança de que isso vá acontecer repentinamente", pontua Penna Filho.
Warren também não arrisca fazer previsões, mas afirma que não ficará surpreso se o Brasil ganhar um status mais elevado num futuro próximo: "Especialmente porque a China já é um membro-permanente. Já é notável a diferença que os chineses fazem em alguns debates, por exemplo, na atual nomeação de líder no FMI. Há uma enorme pressão para que um europeu não ganhe o posto", diz o norte-americano.
Reforma e rivalidade
Para que qualquer mudança no Conselho de Segurança aconteça é preciso que a própria ONU se submeta a uma reforma ampla. "E se isso acontecer, o Brasil será um membro-permanente do Conselho, sem dúvidas. O problema é: quando ocorrerá uma reforma? É um tema difícil, já em debate há muito tempo, mas todas as tentativas de mudanças falharam", considera Schöndorf.
A especialista da SWP levanta ainda um outro ponto critico: a possível concorrência entre Brasil e México por uma vaga que represente a América Latina. "Mas acho que, nesse caso, o Brasil ganharia o assento porque é um poder emergente, talvez a força mais importante na América do Sul."
O que consta na pauta
Ban Ki-moon esteve pela primeira vez no Brasil em novembro de 2007 e retornou em maio de 2010 – nas duas ocasiões ele se encontrou com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com Dilma, o secretário-geral deve discutir a preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em 2012, os progressos brasileiros no cumprimento das metas de desenvolvimento do milênio e a participação brasileira na missão do Haiti.
A força militar no país caribenho é, aliás, um assunto contraditório entre os brasileiros. "Nós entramos nessa missão e, agora, o problema é como vamos sair. Estamos cumprindo um papel lá que tem a ver com esse objetivo político de ganhar destaque maior, de uma participação mais efetiva nos assuntos internacionais. Mas é uma missão muito incômoda que o Brasil tem feito um esforço grande para mantê-la funcionando", critica Penna Filho.
Para Dilma, o primeiro encontro com Ban Ki-moon tem uma importância diplomática. Como afirma Schöndorf, apesar da necessidade de reformas do sistema ONU, todos os líderes se preocupam em manter boas relações com o chefe máximo das Nações Unidas.
Autora: Nádia Pontes - Revisão: Alexandre Schossler
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