DIOGO J. F. ARAÚJO – LUÍS NASSIF ONLINE
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Deputada que estava dentro do quartel dos bombeiros diz que Bope disparou balas de fuzil**
Integrante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a deputada estadual Janira Rocha (PSOL-RJ) passou a madrugada acompanhando o protesto dos bombeiros dentro do Quartel General do Corpo de Bombeiros, no centro da cidade, e disse que só não houve uma tragédia porque o movimento é pacífico e porque os manifestantes tinham treinamento militar.
"Foi terrível o que aconteceu lá dentro. O Bope [Batalhão de Operações Especiais] invadiu por trás, jogando bombas de gás e disparando balas de verdade. Tem carros dos bombeiros lá dentro arrebentados a bala. Se os bombeiros não estivessem em movimento pacífico e ordeiro poderia ter ocorrido uma tragédia", afirmou a deputada, exibindo cápsulas deflagradas de fuzil e pedaços de bomba de efeito moral.
"Essas pessoas que estão sendo penalizadas são as mesmas que salvam vidas em incêndios e nas praias do Rio. Ganham o pior salário da categoria no Brasil. Quero saber se o governador (Sérgio) Cabral, responsável por essa operação, consegue se alimentar em Paris com os R$ 950 que são pagos a esses homens e mulheres."
Representantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também estão na porta do quartel do Batalhão de Choque, acompanhando a autuação dos bombeiros.
Crianças feridas
Manifestantes também afirmam que outras pessoas foram feridas, inclusive outras crianças, e a mulher de um cabo passou mal e teria perdido o bebê durante a confusão. A deputada estadual contou que a grávida sofreu um aborto espontâneo.O coronel Íbis Silva Pereira, porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, confirmou na manhã deste sábado (4) que uma criança deu entrada no Hospital Municipal Souza Aguiar após a invasão do Bope. Segundo ele, a criança teve um problema por inalação da fumaça, que provalvemente foi provocada pela granada usada pelo Bope para arrombar o portão do quartel, que havia sido trancado pelos manifestantes com uma barreira de carros de bombeiros.
Segundo funcionários do Hospital Municipal Souza Aguiar, pelo menos cinco crianças deram entrada atordoadas e com ferimentos leves. Elas foram acalmadas, medicadas e liberadas em seguida.
"Pior salário da categoria"
Não houve resistência dos manifestantes, mas durante a ação policial houve confusão e correria. A polícia convocou homens da tropa de elite da corporação, da cavalaria e helicópteros.
Hoje cedo, o Bope invadiu o local pelos fundos, usando uma escada. Eles também jogaram bombas de efeito moral contra os cerca de 2.000 manifestantes, de vários batalhões da cidade, que ocuparam o local na noite de sexta-feira (3), alguns acompanhados por familiares e até por crianças. Eles reivindicam um aumento de R$ 950 para R$ 2.000, além de melhorias em suas condições de trabalho.
"Nós temos o pior salário da categoria no país. Estamos há dois meses tentando negociar com o governo, mas até agora não obtivemos resposta," disse o porta voz do movimento, o cabo dos bombeiros Benevenuto Daciolo. "Nosso movimento é de paz e estamos em busca da dignidade e precisamos de uma solução".
600 bombeiros presos
De acordo com o coronel, a situação "está voltando a normalidade" e grande parte dos manifestantes já deixou o local. A PM informou que cerca de 600 manifestantes foram levados ao Batalhão de Choque, onde passarão por uma inspeção.
Em entrevista em frente ao quartel, na manhã de hoje, o coronel Mário Sérgio Duarte, comandante geral da Polícia Militar, afirmou que a negociação entre a PM e os bombeiros não saiu como ele gostaria, ou seja, sem a necessidade de uma ação efetiva da PM, mas que a operação de invasão foi feita com todo cuidado e não há informações sobre pessoas feridas com gravidade nem perfurações à bala.
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), já determinou a prisão de todos os bombeiros manifestantes. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, a quem os bombeiros são subordinados, os manifestantes seriam presos por invasão de órgão público, agressão a oficial e desobediência à conduta militar. No entanto, o comandante da PM, coronel Mario Sergio Duarte, informou que as prisões seriam analisadas caso a caso.
Cabral está reunido desde às 8h, no Palácio da Guanabara, com parte da cúpula do governo do Estado para avaliar o movimento de protesto dos bombeiros. O governador conversa com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame; com o vice-governador Luiz Fernando Pezão; com o secretário da Casa Civil, Regis Velasco Fichtner Pereira, e com o coronel Mário Sérgio Duarte.
* Com agências de notícias.
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