segunda-feira, 25 de julho de 2011

Angola: MILITANTES DA UNITA EXIGEM DEMISSÃO DE SAMAKUVA




IRINEU MUJOCO - O PAÍS (Angola)

Um grupo de 24 militantes da UNITA exige a demissão incondicional do seu líder, Isaías Samakuva, acusando-o de impedir a realização do décimo primeiro Congresso, numa altura em que expira, hoje, dia 22, o mandato da actual direcção.

A contestação vem expressa num memorando elaborado por Joaquim Muafumba e Américo Chivukuvuku, irmão de Abel Chivukuvuku, uma influente figura do topo do “Galo negro”. Em posse de O PAÍS, o memorando, diz inicialmente que os seus proponentes estão apreensivos com as constantes declarações de Isaías Samakuva em que condiciona a convocação e, consequente, realização do conclave à uma disponibilidade financeira.

“Acompanhamos com muita apreensão as intervenções do presidente do partido que insinuam as dificuldades financeiras como causas da não realização do Congresso em tempo estatutário”.

Esta situação, prossegue o documento “descredibiliza o partido e retira a condição de alvorada na implementação dos princípios da vanguarda democrática”.

Os mentores que alegam contar com o apoio de outras figuras políticas, como Samuel Chiwale, Paulo Lukamba “Gato” Jaka Jamba, Abel Chivukuvuku, Marcial Dachala, Horácio Junjuvile, Anastácio Ruben Sicato e Eugénio Manuvakola, advogam os estatutos, no seu artigo 22, para pressionar Samakuva a convocar o Congresso.

O artigo diz que “o Congresso reúne, ordinariamente, de quatro em quatro anos, por convocação do presidente do partido, ouvida a Comissão Política”, acrescentando que desde a tomada de posse do actual presidente até ao dia 22 de Julho do corrente ano, são decorridos quatro anos.

Caso não se concretize a convocação do conclave, segundo ainda o documento, Samakuva estaria a atropelar o espírito democrático que esta organização política advoga como sua marca.

O documento de dez páginas, caracteriza a agressão a Joaquim Muafumba protagonizada por um seu colega, durante uma reunião de alto nível orientado pelo próprio presidente do partido, Isaías Samakuva, na semana passada, como um acto de intimidação contra todos os que defendem a realização do Congresso. Os proponentes, que se autodenominam também de “grupo de reflexão”, acusam ainda o seu líder de pretender perpetuar o poder.

O grupo em causa, aponta alguns colaboradores directos de Isaías Samakuva, entre os quais Demóstenes Chilingutila, Mártires Correia Víctor, Isaías Chitombi, Daniel Maluka, Cláudio Silva, Manuel Savihemba, Sabino Sakutala, Júnior João e Franco Marcolino de encorajar o presidente do partido para protelar o Congresso.

Intolerância política

O grupo denuncia ainda que reina no interior do partido um “clima de intolerância política” conduzida pelo seu líder, queixando-se da falta de liberdade de expressão, pois, em seu entender, Samakuva não aceita críticas e os que se opõem às suas ideias são repreendidos com agressões verbais ou físicas, tal como como aconteceu com o ex-ministro do Comércio, Joaquim Muafumba.

Isaías Samakuva, que dirige a UNITA, há dois mandatos, em substituição de Jonas Savimbi, em 2003, no nono Congresso ordinário, é acusado de recorrer à instrumentalização, intimidação e aliciamento de alguns militantes e quadros.

Contra o líder pendem ainda graves acusações de institucionalizar a violência política contra os que exprimem pontos de vistas diferentes.

O grupo de reflexão diz que Samakuva perdeu a legitimidade e a confiança dos militantes, assim como a idoneidade moral de conduzir a organização até ao décimo primeiro Congresso.
Prevê-se a criação de uma Comissão de Gestão para conduzir o partido até à realização do próximo conclave, que deve ter lugar ainda este ano, numa altura em que se registam os preparativos para a realização das eleições legislativas no terceiro trimestre de 2012.
A comissão de gestão poderá ser liderada pelo vice-presidente, Ernesto Mulato, como coordenador, tendo como adjunto, Lukamba Gato, e Rafael Massanga, secretário-geral, e Luís Francisco Kissanga, seu substituto.

Rafael Massanga, é um dos filhos de Jonas Savimbi, o fundador da UNITA e é membro do Comité Permanete da Comisssão Política (CPCP).

A comissão tem, entre outras atribuições, a tarefa de conduzir o partido até à eleição e tomada de posse da nova direcção, garantir o cumprimento escrupuloso dos estatutos e unir o partido.

Sakala reage

Alcides Sakala, o porta-voz do partido, contactado a propósito, disse haver precipitação e má fé de algumas pessoas que pretendem denegrir a imagem da UNITA e do seu líder para fins inconfessos, numa altura em que se avizinham as próximas eleições. “ Não sei qual é a intenção de tal grupo. Na última reunião do CPCP decidiu-se que na próxima reunião, em Setembro, será escolhida a data consensual para a realização do Congresso, ainda este ano”, justificou.

Disse que um dos mais interessados para realizar o Congresso “ é o próprio presidente Samakuva, que já manifestou reiteradas vezes esta intenção publicamente, e que isso não é segredo para ninguém.

A última vez reafirmou numa entrevista que concedeu recentemente a um semanário luandense, onde abordou vários aspectos da vida interna do partido”, afirmou o porta-voz da UNITA.

Sakala não acredita no tal manifesto, argumentando que se trata de uma brincadeira de mau gosto e que não tem fundamento algum, mas tão-somente pretender tirar proveito político dos seus mandantes.

Sobre o “Caso Muafumba,” um acto de pancadaria que envolveu o antigo ministro do Comércio e um colega, o portavoz disse estar já em curso um inquérito no Conselho Jurisdicional para se apurar o que realmente se passou e o prevaricador será punido, com base no que recomenda os estatutos.

Negou ter havido cenas de pugilato no interior da sala, mas fora dela e no momento de intervalo. Desmentiu que tivesse havido orientação do líder para agredir Joaquim Muafumba.

“Isto não passa de uma cabala urdida pelos inimigos do partido para manchar o presidente e o seu elenco.

Nunca foi prática da UNITA resolver assuntos pessoais, recorrendo à pancadaria. Somos um partido adulto e temos um projecto para a sociedade.

“O companheiro Muafumba não foi agredido a mando do presidente nem de ninguém”, rematou sem mais pormenores.

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