segunda-feira, 25 de julho de 2011

NORUEGUÊS E BIN LADEN ERAM LOUCOS POR… TIMOR




LEONÍDIO PAULO FERREIRA – DIÁRIO DE NOTÍCIAS, opinião

Faltavam ainda oito anos para o assassino da Noruega nascer quando Ben Laden esteve na vizinha Suécia, numas férias retidas na célebre foto em que o líder saudita da Al-Qaeda surge adolescente, a sorrir, vestido com calças azuis à boca-de-sino e camisola verde. Mas se isto foi o mais perto de se cruzarem as vidas dos dois fanáticos, uma pequena ilha na remota fronteira entre a Ásia e a Oceânia prendeu a atenção de ambos: a luta do povo de Timor pela independência foi vista como um caso de choque de civilizações tanto pelo recém-famoso fundamentalista cristão como pelo recém-abatido fundamentalista islâmico.

Para os dois, a batalha que ali se travava não era entre a Indonésia e os timorenses, mas sim entre o islão e o cristianismo, espécie de reedição das Cruzadas mil anos após as originais.

Anders Breivik fala dos muçulmanos indonésios terem matado um terço dos católicos timorenses. É uma das muitas frases bombásticas nas 1500 páginas do seu manifesto descoberto na Internet horas após ter assassinado 93 pessoas e garantido destaque na galeria dos monstros da história recente.

Aliás, a ambição de fama mórbida é confessada no tal manifesto em inglês, onde fica óbvio o ódio ao islão, que acusa de tentar colonizar a Europa.

Timor também fazia parte das obsessões de Ben Laden. Dois meses depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, num vídeo transmitido pela televisão Al-Jazeera desafia o Ocidente e promete que a fúria dos guerreiros do islão se fará sentir sobre os agressores. E cita a Chechénia, Caxemira e a Palestina como pontos do globo onde os muçulmanos são agredidos, num caso pelos russos, num outro pelos indianos, noutro ainda pelos israelitas. Claro, tudo argumentos a reforçar a tese do cerco ao islão, com ataques dos ortodoxos, dos hindus e dos judeus. Sobre a antiga colónia portuguesa, o líder da Al-Qaeda acusa as tropas internacionais, no caso australianas, de serem cruzados que desembarcaram nas costas indonésias "para separar Timor-Leste, que é uma parte do mundo islâmico".

Que a esmagadora maioria dos timorenses seja católica, fruto de quatro séculos de colonização portuguesa, foi pormenor que não interessou a Ben Laden, morto em Maio deste ano. Também em Maio, mas de 2002, Timor tornou-se independente e, hoje, com as Filipinas, é uma das duas nações de maioria cristã na Ásia.

Das religiões pode-se extrair tudo, desde a mensagem de paz que a maioria dos crentes segue até ao apelo ao ódio que os extremistas preferem reter. Para estes, a história fornece abundantes argumentos para atiçar o ódio ao inimigo. Mas tanto o loiro de olhos azuis como o moreno barbudo insistiam em estar atentos à actualidade, olhando para o planeta como se fosse um tabuleiro de jogo onde cristianismo e islão se defrontam. E o minúsculo Timor valia muito. É a prova de que os fanáticos têm um problema em perceber os limites.

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