terça-feira, 23 de agosto de 2011

Líbia: Filho de Khadafi aparece em liberdade e diz que o pai está a salvo em Trípoli




DULCE FURTADO - PÚBLICO

Saif al-Islam diz que os rebeldes caíram "numa armadilha" ao avançarem para a capital e negou "as mentiras" de ter sido detido pelos rebeldes. Afirmou que o pai está a salvo

Saif al-Islam, o filho de Muammar Khadafi que foi o principal rosto do regime depois do coronel ao longo dos seis meses de guerra civil na Líbia, apareceu esta madrugada em público, fazendo um discurso de desafio à rebelião, um dia depois de o movimento rebelde o ter dado como detido para ser julgado por crimes contra a humanidade.

“Partimos a espinha aos rebeldes”, afirmou à chegada, num veículo armado, a um hotel da capital que se encontra sob controlo de apoiantes do regime de Muammar Khadafi. Em tom confiante e optimista, Saif al-Islam disse que ao avançar sobre Trípoli os rebeldes “caíram numa armadilha”. “Demos-lhes muita luta e estamos a ganhar”, disse, sublinhando que estava ali – no hotel Rixos, onde estão alojados dezenas de jornalistas estrangeiros – para “refutar as mentiras [de que tinha sido preso pelos rebeldes]”.

O canal de televisão dos rebeldes, localizado em Doha, desvalorizou as declarações do filho de Khadafi, avaliando que “pouco importa que Saif al-Islam tenha aparecido na televisão ou não. O que conta é que os jovens de Trípoli libertaram a capital em menos de 48 horas. E é já uma questão de horas até os jovens prenderem o resto da família”.

Permanece ainda incerto se Saif chegou alguma vez a estar detido pelos rebeldes ou se conseguiu posteriormente escapar ou mesmo se a sua libertação foi negociada, dadas as várias informações contraditórias que emergiram do caos vivido nestes últimos dois dias em Trípoli. “Houve muita confusão e as linhas de comunicação são longas e dispersas. É inevitável nesta situação, com a guerra em curso no terreno, que se assista a alguma confusão, a um nevoeiro de guerra”, avaliou já esta manhã o secretário de Estado britânico para o Desenvolvimento Internacional, Andrew Mitchell, em entrevista na rádio BBC4.

A rebelião anunciara ainda na noite de domingo ter detido Saif assim como o seu irmão Mohammed e, ontem, outro dos filhos de Khadafi, Saadi. “Tivemos confirmação de que Saif al-Islam foi detido, mas não fazemos ideia nenhuma como é que escapou”, frisa hoje Waheed Burshan, membro do Conselho Nacional de Transição, citado pela Al-Jazira.

Segundo este canal também Mohammed terá conseguido escapar aos rebeldes a certa altura durante o dia de ontem. De todos os familiares do coronel que governa a Líbia há 42 anos apenas Saif – a par de Khadafi – enfrentam acusações e mandados de captura emitidos pelo Tribunal Penal Internacional. Questionado sobre estas acusações, Saif disparou: “Que se lixe o tribunal penal”.

O filho de Khadafi, de 39 anos e tido como o mais certo sucessor do coronel, garantiu ainda que o pai não abandonou Trípoli e que a luta prosseguirá. “Vocês puderam ver como o povo líbio se ergueu, homens e mulheres, todos juntos, para partir a espinha dos rebeldes, ratazanas e criminosos, tanto ontem como hoje”, sustentou em referência à ofensiva rebelde sobre a capital, em que o movimento de oposição ao regime conseguiu ganhar muito terreno em Trípoli mas não sem encontrar forte resistência.

Ambas as partes do conflito afirmam ter controlo agora da maior parte da capital, estando longe de ser claro onde está a verdade. Saif al-Islam quis fazer prova do seu controlo do terreno, levando um grupo de jornalistas estrangeiros em volta da cidade, num veículo armado, com paragens no complexo militar de Bab Al-Aziziya e outros quartéis no centro da cidade.

Segundo Saif, os rebeldes “apenas conseguiram entrar daquela maneira [na capital] graças a um ataque de propaganda”, no qual sugeriu a participação da NATO no que descreveu como um “assalto electrónico”: “Eles enviaram mensagens para o povo líbio através da rede [de comunicações móveis] Libyana. E interromperam as nossas transmissões televisivas. Fizeram uma guerra electrónica e de media para espalhar o caos e o medo na Líbia. E trouxeram grupos de criminosos, por mar e terra, para Trípoli”.

**Notícia actualizada às 10h50

Relacionados em Público:

Sem comentários:

Mais lidas da semana