segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Portugal: DAR O EXEMPLO CONTRA O MEDO DA RUA





Pedro Passos Coelho, percebeu-se ontem, tem receio da rua. Por isso, na rentrée política do PSD, no Pontal, optou por falar directamente para os parceiros sociais em geral e para os sindicatos em particular. O primeiro-ministro, carregado de boas intenções e preocupado com a imagem externa do País - "o mundo está de olhos postos em nós", repetiu várias vezes -, apelou para que Portugal não se transforme na Grécia no que à contestação diz respeito.

Ao discurso do chefe do Executivo, mobilizador e verdadeiro, e catalisador da energia dos portugueses, faltou, porém, passar das boas intenções à prática. Quase dois meses depois de ter tomado posse, Passos Coelho garante que o Governo "dá o exemplo", corta "todos os dias despesa" e, por isso, "tem moral" para pedir sacrifícios aos portugueses. Ora o que é facto é que, até agora, nada sabemos sobre onde, de facto, se cortou nas "gorduras do Estado" nem, tão-pouco, na despesa primária. Sabemos apenas que, depois de dois aumentos de impostos - a sobretaxa do subsídio de Natal e o IVA do gás e da electricidade -, da subida do preço dos transportes e dos anunciados aumentos das taxas moderadoras e da carga fiscal em 2012, os ministros continuam a não dizer onde pretendem cortar. E assim não há moral que resista. Para estancar a rua é necessário, de facto, que o Governo dê o exemplo. A fazer fé nas palavras do primeiro-ministro, talvez fiquemos a conhecer em Setembro um primeiro programa de ajustamento da despesa dos ministérios. Mas isso não basta. Se os gastos têm sido reduzidos "todos os dias", é preciso que se diga onde e em quê. Só assim os portugueses terão a percepção de que os indispensáveis sacrifícios, a imperiosa "mudança de vida" - isto é, gastar menos do que aquilo que se pode -, é mesmo para todos.

Não o fazer é dar espaço à rua e à contestação que tanto se teme. Não o fazer é não dar o exemplo.

A Líbia não é o Egipto

Há seis meses, a comunidade internacional foi surpreendida pela coragem dos líbios que saíram à rua na cidade de Bengazi, leste do país, para protestar contra a prisão de um activista dos direitos humanos. A iniciativa seria duramente reprimida, o que levaria à convocatória de um "Dia da Ira" contra o regime ditatorial de Muammar Kadhafi.

A insurreição armada para fazer cair o homem que há 42 anos controla o país com mão-de-ferro era a consequência lógica da sua recusa em ouvir o povo. Rebeldes e comunidade internacional - ainda extasiados com as recentes vitórias dos populares tunisinos e egípcios que, sem armas, fizeram cair os seus ditadores - acreditaram que o coronel seria facilmente alijado do poder. Era uma questão de semanas. E mesmo quando Kadhafi, embora sofrendo revezes nas primeiras semanas da rebelião, conseguiu dar luta aos seus opositores e fazê-los recuar, subestimou-se a sua capacidade de resistência e sobrevalorizou-se a capacidade de combate dos rebeldes. E continuou-se a acreditar que a derrota do regime estava para breve. É com essa convicção que a comunidade internacional privilegia um discurso musculado com Tripoli em detrimento de uma solução política negociada. É assim que, fazendo cumprir a decisão do Conselho de Segurança da ONU de defender e proteger os civis líbios da violência de Kadhafi, a NATO - ainda a braços com o esforço que desenvolve no Afeganistão - se vê envolvida em mais um teatro bélico...

Seis meses depois, Kadhafi continua em Tripoli. Seis meses depois e os rebeldes, reconhecidos pela comunidade internacional como interlocutores políticos, continuam a tentar expulsar o ditador enquanto começam a revelar sinais de pouca coerência política, dando razão a Kadhafi quando afirmava que a "Líbia não é o Egipto".

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