quinta-feira, 11 de agosto de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 29




MARTINHO JÚNIOR

“EFEITOS DOMINÓ” PARA ÁFRICA A SUL DO SAHARA

I

O que está a ocorrer no Nordeste e Norte de África inter relacionando com as questões correntes inerentes à evolução da situação no Médio Oriente e Ásia Central) é de se ter em consideração para o resto do continente, em especial para a região do Sahel, para a África Ocidental, para o Golfo da Guiné e para a África Central (incluindo a Região dos Grandes Lagos).

Em “A Conferência do Pentágono para África” faltou-nos abordar o papel dum aliado-fantoche da hegemonia que possui também um papel muito activo em África: Israel.

Israel está sob os pontos de vista geo estratégico, físico-geográfico e humano no centro do triângulo em que a crise atingiu, de há dois anos a esta parte, a maior intensidade, um triângulo cujos vértices são a Líbia, o Sudão (dois países africanos) e a Síria (no Médio Oriente), estando o Irão na “lista de espera”…

Em qualquer um desses vértices, o poder em Israel está apostado em criar o máximo de tensões e divisões a fim de debilitar o potencial árabe e islâmico, uma manobra que está sincronizada com os esforços em relação a Gaza, à Palestina e ao Líbano, esforços que chegaram ao delírio e evidência do “apartheid” em pleno século XXI.

O papel de Israel ajusta-se ao jogo da hegemonia e interliga-se com o papel dos Estados Unidos e de seus aliados-fantcohe no Médio Oriente, na Ásia Central e a partir do Nordeste – Norte de África em direcção ao resto do continente.

Israel é uma parte activa dos “Jogos Africanos”, parafraseando Jaime Nogueira Pinto e como tal desempenha um papel importante na formação das novas elites africanas, para além das questões geo estratégicas, físico-geográficas e sócio-político-religiosas correntes que se apresentam ao Nordeste e ao Norte de África.

Em “Como perderam os árabes o Sul do Sudão” Lamis Andoni (tradução para castelhano via Rebelión), considera: VER AQUI.

A inteligência israelita, completamente integrante do poder dos falcões, tem procurado perceber todas as fragilidades do pan-arabismo, como dos islamitas e explora as brechas em relação às minorias, conforme a fenómenos que ocorrem em cada um dos vértices do triângulo que acima referenciei (e na sequência da história contemporânea do Iraque), a fim de, ao provocar tensões, conflitos, e manipulações no sentido de enfraquecer seus inimigos, potenciais ou reais, obrigar ao redesenhar dos mapas e aproveitar a “fermentação” das novas elites em ascensão para procurar melhor colocar seus agentes de influência.

Em “A balcanização do Sudão: um novo desenho para o Oriente Médio e o Magrebe”, Mahdi Darius Nazemroaya (tradução para castelhano pelo Rebélion), detalha: VER AQUI.

As situações que se põem ao Norte de África, ao Mahgreb, à vasta região do Sahel e na profundidade em direcção ao Golfo da Guiné e África Central, não podem deixar de ser vistas, sob os pontos de vista prospectivo e geoestratégico, como abertas à sequência dos acontecimentos no Nordeste de África, particularmente ali onde “lobbies” como o do petróleo e o dos minerais são mais interventivos.

Os êxitos que a hegemonia obtiver no Nordeste – Norte de África serão levados em consideração no resto do continente africano, naturalmente com tónicas mais acentuadas em alguns lugares que noutros.

Ao redor e no Golfo da Guiné, motivações para redesenhar o mapa sócio-político-cultural não faltam.

II

A costa ocidental africana a sul de Marrocos, incluindo a que inclui o Golfo da Guiné, possui um conjunto de fenómenos humanos que favorecem a oportunidade para o redesenhar do mapa do continente, muito em especial se houverem interesses externos poderosos vocacionados para isso.

Para as multinacionais que historicamente têm explorado as riquezas africanas, na medida do possível, para que haja uma diminuição de custos de exploração e uma maior garantia de lucros, os estados nacionais tutelares dos territórios onde são feitas as explorações, são sempre mais fáceis de manipular se suas economias se mantiverem subdesenvolvidas, se suas culturas (sob o ponto de vista antropológico) estiverem enfraquecidas, se proliferarem divisões e contradições, ou se conseguirem manter condições e conjunturas de opressão, submissão, vassalagem, ou dependência.

É evidente que, se para além das sequelas redundantes da Conferência de Berlim, forem aplicados estímulos pela hegemonia no sentido de se acentuarem as manipulações, as tensões e os conflitos de acordo com projectos que implicam um redesenhar de mapas conforme ao que denuncio como “Conferência do Pentágono para África”, é todo o continente africano que sofre as consequências directas e indirectas de impactos dessa natureza.

Ao situarmo-nos nos exemplos que perfiguram os interesses dos falcões israelitas num quadro como esse, é toda a África que está em risco de vir a sofrer com a prospecção de cenários como os que estão a ocorrer particularmente no Nordeste, não só por causa do “efeito dominó”.

Em África, dadas as características fisico-geográficas, históricas, económicas e demográficas, as possibilidades de sobrevivência das populações que beneficiam do contacto com o mar é muito maior, pelo que os países interiores, em especial aqueles que não possuam recursos hídricos importantes, são os que mais problemas têm, pelo que são países que são fonte de migração (possuem tensões internas que são “exportadas” para outros africanos e para alguns europeus.

Os relatórios anuais dos Índices de Desenvolvimento Humano espelham sob o ponto de vista estatístico o conjunto de fenómenos que concorrem para o aumento de precariedade no interior do continente, em especial em países do Sahel, ou situados noutras áreas desérticas, ou semi desérticas.

Tomando como base o relatório de 2010, no que diz respeito aos IDH baixos há 41 países dos quais 35 são africanos e destes, 13 sem acesso directo ao mar oceânico.

Em relação aos IDH médios só há 10 países africanos, 7 deles interiores, entre 42 países.

Com o IDH considerado elevado entre 43 países só há 3 africanos, nenhum deles interior.

No que diz respeito ao IDH muito elevado, não há país africano algum.

Esses dados estatísticos dão-nos uma ideia relativa da situação de África, mas não transmite ideia suficiente em relação a outros fenómenos.

Por exemplo, há países que tendo costa oceânica são desérticos, ou semi desérticos, como a Mauritânia, ou a Somália.

Há ainda casos cujas costas oceânicas são diminutas se considerarmos sua extensão, como o caso da República Democrática do Congo.

Os problemas de subdesenvolvimento crónico são graves em países africanos situados no interior, como por exemplo o Zimbabwe, o Níger, o Burundi, o Chade, o Burkina Faso, o Mali, a República Centro Africana, a Etiópia, o Malawi, o Ruanda, a Zâmbia, o Uganda e o Lesoto.

Praticamente de todos eles há correntes migratórias que se dirigem para países com litoral oceânico e, naqueles situados mais ao norte, há correntes que procuram também dirigir-se para a Europa (Níger, Chade e Mali, a título de exemplo), explorando quase sempre possibilidades que se oferecem por outros países.

Devido à situAÇÃO NA Líbia, muitos migrantes africanos que trabalhavam naquele país, face ao conflito, procura a todo o transe alcançar as ilhas italianas do sul.

Em África, as migrações do interior para o litoral influem na situação humana em países como o Senegal, a Guiné Conacry, a Costa do Marfim, ou a Nigéria.

Os migrantes, quase todos professando o islamismo, pressionam as comunidades cristãs do litoral.

A Costa do Marfim, onde durante muitos anos floresceram as culturas do café e do cacau, é um país que atraiu migrações de toda a África Ocidental e em especial de países interiores próximos, sobretudo do Burkina Faso, o que tem influído no espectro sócio-político de tal forma que isso joga com factores étnicos e religiosos (cristãos predominantemente no litoral e muçulmanos no interior).

O deteriorado ambiente sócio-político tem conduzido a conflitos nas disputas pelo poder, havendo conexões externas, inclusive de fora do continente, em relação às tendências partidárias que espelham as divisões étnico-religiosas.

As conexões de inteligência de Israel no continente possuem nexos com esses movimentos migratórios.

Esses conflitos podem ser explorados para fragmentar o espaço nacional da Costa do Marfim.

O caso da Nigéria é também exponencial: há questões históricas (tentativa de secessão do Biafra), religiosas (conflitos sangrentos entre cristãos e muçulmanos) e económicas (caso do delta do Níger onde existem grande parte das instalações de exploração do petróleo e do gás), que contribuem para o estado de precariedade que se torna permanente apesar da Nigéria ser um Estado Federal.

As tensões e os conflitos fluem também do facto da Nigéria ter uma enorme população (é o mais populoso país de África) que vive em subdesenvolvimento crónico inclusive nas grandes cidades como Lagos, à mercê do aumento de preços dos produtos alimentares a nível internacional e sem possibilidades de os produzir internamente para toda a sua população.

Quer a Costa do Marfim como a Nigéria, possuem populações cristãs predominantemente no litoral e muçulmanas no interior.

As correntes migratórias são hoje de tal maneira fortes do interior para o litoral que atingem Angola, um país onde antes da independência não haviam praticamente comunidades muçulmanas.

Os fluxos de migrantes provenientes do Mali e do Níger, assim como da região dos Grandes Lagos (neste caso predominantemente cristãos), têm tido bastante expressão em Angola desde a década de 90 do século passado.

As potencialidades humanas disponíveis para prospecções de cenários tendentes ao redesenhar do mapa de África existem e, em países como a Costa do Marfim, a Nigéria e a República Democrática do Congo podem vir a constituir mais riscos, em particular se houverem estímulos de entidades de fora do continente, estados ou multi nacionais agressivas em função de geo estratégias que considerem interesses concorrentes a eliminar.

A viagem do líder da extrema direita de Israel a África em 2009, englobou a Nigéria e o Gana, no Golfo da Guiné, depois de passar por países do Nordeste de África (Etiópia, Quénia e Uganda).

Israel, no que diz respeito a relações diplomáticas com países africanos fora da região Nordeste, tem embaixadas no Senegal, na Costa do Marfim, na Nigéria, nos Camarões, em Angola e na África do Sul.

Nota:

Chamo a atenção para a necessidade de se comprar o mapa de Holly Lindem referenciado em “A Conferência do Pentágono para África” com o mapa representativo da presença israelita em África de 2009, a fim de se tirarem melhores conclusões prospectivas. O caso da África Austral (África do Sul e Angola), merecem um tratamento distinto.

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