sexta-feira, 26 de agosto de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 32




MARTINHO JÚNIOR

A VINGANÇA “AFRICOM”

África está a pagar, em função do caso da Líbia, o seu tributo de submissão por ter até hoje inviabilizado que a sede do AFRICOM, uma das últimas “heranças” de George W. Bush, tenha sido transferida para o continente.

Todas as missões que foram enviadas pela Unidade Africana à região, no sentido de se encontrarem plataformas de diálogo para a Líbia, evitando a efusão de sangue em mais uma dilacerada latitude do continente, esbarraram na “pétrea” posição dos rebeldes: missão africana alguma foi recebida por eles em Benghazi ou em qualquer outra parte e nunca houve vontade de se enveredar por outra opção que não fosse o uso das armas para a conquista do poder e, com isso, estabelecer o figurino dos interesses do quadro da hegemonia.

Mesmo as iniciativas do Presidente Sul Africano Jacob Zuma para chegar a Tripoli, foram sempre condicionadas às agendas militares da OTAN relativas à abertura ou não do espaço aéreo.

Pelo contrário, foram sempre bem sucedidos os contactos dos rebeldes com os estados europeus seus tutores, particularmente os que se vinculam à OTAN, garantes do êxito de sua própria instalação no poder em Tripoli pela via das armas.

Dos países que foram reconhecendo os rebeldes, a maior parte são europeus e monarquias árabes.

Essa decisão por parte dos rebeldes, é evidente que faz parte dum conjunto de respostas ajustadas aos interesses dos seus tutores, os Estados Unidos, a Europa, Israel e a OTAN, como também às monarquias árabes, em especial a casa de Saud da Arábia Saudita, o Qatar, a Jordânia e todas as monarquias “intocáveis” cujo poder assenta nos negócios do petróleo e do gás.

Cada vez há mais evidências que esses interesses têm tido expressão do lado dos rebeldes e isso corrobora o que desde o início da “crise” foi minha denúncia: há que salvar o(s) rei(s) (3 de Março de 2011) – http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-os-reis.html.

Dizia eu na altura:

- As monarquias árabes, apesar das revoltas que vão eclodindo no norte de África e no Médio Oriente, estão ainda para durar: as explosões sociais em estados republicanos ou em países periféricos da Arábia Saudita, possibilitam à hegemonia anglo-saxónica, pelo menos por agora, “salvar o(s) rei(s)”, fazendo muitas contas à vida para manter o espectro colonial.

Um dia que as revoltas estalem na Arábia Saudita, todo o mundo será economicamente afectado, menos aqueles que se têm dedicado há dezenas de anos à especulação financeira, entre eles George Soros!

Por isso mesmo não é por acaso que os revoltosos da Líbia se estejam a propiciar rever na bandeira do Rei Idris: por muitos erros que Kadafi tenha cometido, uma revolta conservadora só poderá perfilhar os interesses das multinacionais anglo-saxónicas, aquelas que menos representatividade tiveram com o regime que querem agora apear, ou seja, “salvar o(s) rei(s)” por que com eles “salvam” o que lhes vai na alma – uma ilimitada, obsessiva e opressiva vontade de domínio absoluto nos acessos e nas vias disponíveis para a exploração e transporte do petróleo em todas e por todas as latitudes da Terra. -

A vontade de “salvar a Líbia” (artigo publicado a 5 de Março do ano corrente http://pagina--um.blogspot.com/2011/03/salvar-libia.html), por outro lado, se a houve em África, limitou-se à tímida expressão político-diplomática: os países africanos estão não só tolhidos pelas condições de subdesenvolvimento e apatia psicológica de seus povos, uma apatia a tocar a resignação e a fatalidade, mas também por que a lógica capitalista e o poder dos “lobbies” coíbe a criatividade e o poder de outras opções para além dos esforços que foram feitos.

Escrevi ainda na altura:

- Os países do sul precisam de aumentar as suas integrações e os seus intercâmbios políticos e institucionais principalmente para fazer face a todo o tipo de pressões e de crises a que estão sujeitos por via de suas frágeis capacidades políticas, económicas, financeiras e outras, sob pena de se tornarem ainda mais pasto de manipulações, tensões e conflitos de todo o tipo.

Precisam também de capacidade para agir rapidamente quando surgem situações do género daquela que deflagrou na Líbia, que se distingue daquelas da Tunísia e do Egipto: até a hora em que escrevo, não há reacção significativa da União Africana, como se o continente estivesse sempre à espera de terceiros para seguir ou “alinhar”.

África continua ideologicamente enferma, neo colonizada, em estado de choque permanente e as suas elites estão tolhidas pelas políticas neo liberais que chegam impostas do exterior com as quais vão-se emparceirando sem melhor opção ou alternativa, sendo capturadas nas armadilhas e pisando as minas que ajudaram a instalar. –

A “nova Líbia” está entrosada às estratégias inter conectadas dos Estados Unidos e seus aliados-fantoche na Europa e Médio Oriente e de costas voltadas para os relacionamentos seguido por Kadafi em relação ao continente-berço, como se a margem sul do Mediterrâneo, Cartago, tivesse sido tomada pela versão “moderna” do império romano!

Os países africanos perante as evidências nem sequer vão optar em relação às representações diplomáticas do regime que os anglo-saxónicos pela via do AFRICOM e da OTAN acabam de inaugurar em Tripoli: serão os fantoches líbios mais determinados, fechando aquelas representações que se encontrem em países “que não dêem lucro”, ou simplesmente mudando a bandeira nas embaixadas, conforme já ocorreu em Harare, no Zimbabwe. mesmo que isso contribua para aumentar as situações de sofrimento em África.

A questão da Líbia, por fim, não levará país africano algum a rever os seus relacionamentos com os Estados Unidos, com a União Europeia, com as monarquias árabes e até mesmo com o AFRICOM e a OTAN: as missões “partnership” e os exercícios militares que antes recebeu Cabo Verde (antes do incremento da intervenção da OTAN no Médio Oriente e Índico Norte) continuarão tão “persuasivas” quanto sempre, como se nada tivesse acontecido em África!

A IIIª Guerra Mundial, decidida apenas por quem comanda a hegemonia está aí: para uns casos (como o da Líbia) há esforço militar, para outros casos basta a dominância no comércio, nos relacionamentos dos fortes para com os fracos, na determinação que é colocada nas torneiras financeiras que se abrem ou fecham conforme os interesses das multinacionais e das potências que as abrigam…

África está a mercê dos abutres e suas “novas elites” são agentes desse poder, alegadamente para que dessa forma se evite o pior: evitar-se mais uma guerra que penderá sempre sobre as cabeças dos africanos.

Os abutres do AFRICOM e da OTAN, estão prontos para as futuras acções:

Aguarda-se a próxima Líbia: ela poderá ocorrer não só na Síria ou no Irão, mas também dentro do continente africanos!

Martinho Júnior - 24 de Agosto de 2011

2 comentários:

Anónimo disse...

ÁFRICA APANHADA NAS SUAS CONTRADIÇÕES.

1 ) Quando há golpes de estado pela força das armas, África impõe normalmente sanções, bloqueios e move-se para repor a paz, o diálogo e a "legalidade democrática".

2 ) No caso da Líbia há há rupturas: a Etiópia e a Nigéria já reconheceram o "novo regime" líbio.

3 ) Agora:

- Como é que ficamos em relação à Guiné Conacry?

- Como é que ficamos em relação a Madagascar?

- Como é que ficamos em relação ao AFRICOM/OTAN?

Martinho Júnior.

Luanda.

Anónimo disse...

Líderes africanos debatem posição comum sobre Líbia

Addis Abeba - Uma reunião de alto nível do Conselho de Paz e Segurança (CPS) da União Africana (UA) sobre a Líbia realizou-se hoje (sexta-feira) em Addis Abeba, na Etiópia, para discutir sobre uma posição comum africana face à crise neste país.

Alguns países africanos, dos quais a Etiópia e a Nigéria, já reconheceram o Conselho Nacional de Transição (CNT) como a autoridade legítima da Líbia, uma posição contestada por outros países como a África do Sul.

A reunião do CPS, que se realiza a nível dos chefes de Estado, deverá pronunciar-se sobre o reconhecimento ou não do CNT por África.

Mas, entre os 15 membros do CPS, apenas três estão representados pelos seus chefes de Estado - Jacob Zuma da África do Sul, Yoweri Museveni do Uganda e Omar Guelleh, do Djibuti.

A secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Rose Migiro, está presente na reunião para encorajar uma posição comum entre a organização mundial e a Comissão da UA.

"A União Africana sempre foi uma das parceiras estratégicas mais importantes da ONU e continuará a sê-la. Quando a ONU e a UA trabalharem juntos nós teremos êxito", declarou Migiro aos líderes africanos a quem ela transmitiu uma mensagem do Secretário-Geral da organização universal, Ban Ki-moon.

"Juntos devemos encorajar a emergência de uma nova liderança (na Líbia)", acrescentou a responsável da ONU, o que assemelha a um encorajamento a reconhecer o CNT.

A UA tentou levar as duas partes em conflito na Líbia à mesa das negociações para resolver pacificamente a crise.

Mas, o presidente da Comissão da UA, Jean Ping, declarou à reunião que os seus esforços não deram os resultados esperados.

Zuma, que à semelhança de Museveni está oposto ao reconhecimento do CNT, declarou que a UA está preocupada com a situação prevalecente e reclamou por uma transição rápida na Líbia.

"Nós devemos pôr termo a isto (a guerra na Líbia) ", disse o Presidente sul-africano.



http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/2011/7/34/Lideres-africanos-debatem-posicao-comum-sobre-Libia,658d0a0f-fb4e-4295-8e39-0b1458a87bbe.html

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