MARTINHO JÚNIOR
A “OBAMA DOCTRINE” A PLENO VAPOR
A “doutrina Obama” está a pleno vapor. Ela não só visa reduzir o esforço militar (e os gastos colossais que implicam), como “reformatar” as ingerências da hegemonia no mundo e ganhar tanto quanto o possível em eficácia, isto é, não deixando de manter os objectivos do “seu mando”, passar a garantir melhores resultados, com o mais baixo custo possível.
A “doutrina Obama” veio para substituir a “doutrina Bush”.
Essa “reformatação” fez com que as ingerências fossem cada vez mais discretas e dissimuladas, transferindo para a inteligência o que era feito com o aparato militar de guerra e a deslocação ostensiva de enormes capacidades ofensivas.
Para esse efeito, a dialéctica contraditória que nutre todo o tipo de manipulações vai passando do uso das forças militares, para processos inteligentes dirigidos para e por dentro das sociedades-alvo, visando salvaguardar no poder aqueles agenciados que dêem garantia de estarem completamente identificados com os interesses e conveniências da hegemonia, por que acoplam os seus próprios interesses e conveniências a elas.
É uma inteligência que privilegia de forma “reformatada” também os expedientes “HUMINT” nas áreas de impacto, pois só assim se poderão substituir os esforços militares que antes eram realizados por seus próprios efectivos, pelos locais agenciados e profundamente conhecedores “do terreno”.
A “democracia representativa” serve como padrão para a “rédea curta” em que tem obrigatoriamente de se manter, segundo a óptica da hegemonia, o poder em cada sociedade, mas há evidentemente excepções quando os interesses e conveniências têm de ser garantidos enquanto prioridade e as monarquias árabes, influentes em vastas regiões do planeta, são disso exemplo.
“Transformar a bel prazer” e de forma controlada as sociedades sim, mas “salvar os reis” é imprescindível, até por que os “reis” que garantem o grosso do petróleo, estão por detrás da própria fabricação dos radicalismos que interessa arregimentar, como por exemplo a Al Qaeda.
Fez parte da campanha eleitoral de Barack Hussein Obama a saída de tropas norte americanas e de seus aliados-fantoches do Iraque e do Afeganistão, paulatinamente e com a contrapartida de formar os instrumentos de poder de estado nesses países, em socorro dos poderes locais que foram sendo instalados neles.
Esse caminho está em curso e os Estados Unidos possuem programas de redução dos esforços militares, seus e de seus aliados-fantoches, para estes no quadro da OTAN e da ANZUS.
As experiências anteriores de ingerência foram por isso alvo dum severo balanço e os Estados Unidos, com a “doutrina Obama” estabeleceram um complexo programa padrão, desdobrável de acordo com a “latitude” antropológica, económica, financeira e sócio-política dos alvos, em relação ao qual evidencio uma quota parte minúscula dos seus aspectos:
- Evitar ao máximo a introdução directa de meios militares e, sempre que eles são introduzidos, reforçar as opções da panóplia de agentes locais mediante programas estabelecidos pela super estrutura (Pentágono e sistema de inteligência perfeitamente sincronizados com a acção política, económica, financeira e diplomática).
- Treinar efectivos dos instrumentos de poder de estado nos alvos já impactados, como nos casos do Iraque e do Afeganistão, implicando as políticas de reconstrução e recuperação de infra estruturas e estruturas de forma a tornar fluido o padrão de emparceiramentos com as elites locais.
- Gerar ao nível do Pentágono capacidades de propulsão desse tipo de esforços tirando partido de algumas iniciativas anteriores de George W. Bush, como o CYBERCOMMAND e o AFRICOMMAND, que à passagem do poder estavam em embrião.
- Investir na conexão das comunicações com as tecnologias de ponta empregues nas armas, o que inclui o emprego de satélites, de sofisticados programas de defesa e ataque tirando partido de novos “softwares” e “hardwares” aplicados a fins militares e de inteligência; forjar assim concepções novas de equipamentos, ferramentas e armamentos, a fim de integrar essas novas tecnologias nos programas de acção e ingerência…
- Investir nas capacidades de logística aferidas à tipologia de meios, equipamentos e tecnologias contemporâneas, de forma a com isso participar nas “reconstruções nacionais” e atrair os interesses locais à globalização feita sob sua responsabilidade, peso e medida.
- Introduzir de forma tão difusa quanto o possível as tecnologias que permitem substituir o homem nos teatros de operações e mobilizá-los nos impactos sociais, como por exemplo os “drones”, com prioridade ali onde há esforço militar, visando ao mesmo tempo diminuir as baixas próprias em combate, tentar aumentar a precisão dos golpes e preparar melhor a passagem do esforço militar para o esforço de inteligência, o que inclui a vigilância sobre seus próprios agentes e aliados-fantoches.
- Gerar um aumento de capacidade de forças especiais com possibilidade de actuação “deep inside” no corpo dos alvos, a fim de melhorar as “performances” das novas tecnologias de guerra de comunicação e de ligação; é imprescindível localizar, qualificar e quantificar os alvos, a fim de melhor estudar que tipo de meios se vão utilizar para os neutralizar, ou destruir, ou como se vai dirigir as acções, incluindo as que têm a capa duma “rebelião”.
- Decapitar os grupos terroristas radicais como a AL QAEDA, a fim de, acoplando suas células ao uso de forças especiais, participarem enquanto agentes nos teatros de operações que se transformaram em alvos dos interesses, das conveniências e das rapinas, conforme ao caso da Líbia e do que indicia estar em curso já na Argélia e na Nigéria, a uma escala menor do que se indicia na Síria.
- Substituir o manancial humano de suas tropas por este tipo de recrutamento agenciado, integrando nos processos manipulados de transformação do poder e das sociedades-alvo.
- Gerar ao nível da inteligência vínculos com esses sectores agenciados e afins, no poder ou nas oposições, de forma a balancear todo o tipo de cenários, manipulações e manobras destinados aos grandes alvos prioritários, como o são por exemplo os países produtores de petróleo e de gás, ou os países detentores de depósitos de minerais raros.
- Definir nesse âmbito as capacidades defensivas que por vezes têm até condicionantes históricas: “salvar os reis” decorre do Tratado Quincy, em socorro dos interesses comuns da hegemonia com recurso às monarquias árabes, a começar o recurso aos interesses da “casa Saud”.
- Definir as capacidades ofensivas a partir dessa “barricada”, de forma a integrar as potencialidades de mudança nas sociedades, garantindo ao mesmo tempo que o poder esteja sempre controlado pelos interesses e conveniências da hegemonia, por via de agentes-parceiros manipulados, actores dos cenários que são os próprios teatros alargados de operações.
- Explorar os vínculos dos agentes-parceiros para dentro das sociedades, de forma a alargar a margem de influência, de distribuição de expedientes, de ideologias e de conceitos.
- Reformular a contento os padrões de desestabilização, provocação e subversão que estão na base das “revoluções coloridas”, agregando a eles as capacidades humanas agenciadas no quadro de novos recrutamentos, bem como dos imensos recursos tecnológicos disponíveis, capazes de serem aplicados nos mais recônditos lugares da Terra.
- Aplicar o mesmo tipo de receitas a países fora do espaço islâmico, em África como na América Latina sobretudo, tendo em conta a proximidade físico-geográfica ao espaço hegemónico anglo-saxónico, o mesmo espaço do “comércio triangular” como no tempo em que a “civilização ocidental” foi capaz de levar a cabo o esclavagismo dos africanos.
A Líbia está a ser um dos últimos êxitos do programa da hegemonia e os métodos e processos empregues, pelo seu maquiavelismo, transcendem a brutalidade de qualquer ditador no Terceiro Mundo, inclusive o ditador despótico e sanguinário que os media querem fazer crer que Kadafi foi.
O ensaio da Líbia veio para continuar e vários alvos se poderão seguir, mesmo que hajam inteligências que filtrem a “ementa”: as sociedades dos países do “Terceiro Mundo” estão extremamente fragilizadas, são vulneráveis, moldáveis ao poder avassalador que utiliza o rótulo atraente da globalização e é possível gerar os cenários apropriados em relação a poderes teimosos que resistam aos programas da hegemonia, qualquer que seja o seu poder de manipulação de massas.
A “doutrina Obama” torna ao mesmo tempo o mundo num laboratório para a expansão de todo o tipo de ingerências, por quem não quer que esta “casa comum” que é o planeta, seja gerido com a inteligência que dê prioridade ao homem, que reflicta respeito pela Terra, que promova equilíbrio humano e ambiental: aqueles que se barricam no lucro desmedido do capitalismo que levaram à categoria do império, um capitalismo que devora os seus próprios postulados de concorrência (e o poder de Kadafi era apenas um mal disfarçado poder de concorrência), instrumentalizam todo o tipo de meios em prol de seu poder, “atacando” as sociedades com o uso de seus próprios agentes-fantoches, a coberto da “democracia representativa” (ali onde ela pode ser aplicada), da “liberdade”, dos “direitos humanos”, das “operações humanitárias”…
Mesmo as emergências multipolares estão a ser alvo dessas “experiências”, não conseguem fugir delas, por que gravitam numa órbita invariavelmente tão próxima que é alvo duma constante vigilância e observação, para que no essencial não desobedeçam aos interesses que a bem ou a mal conferem lucro à aristocracia financeira mundial eminentemente anglo-saxónica (e por isso permitem oligarquias submissas noutras aragens).
A “doutrina Obama” é uma extensão ultra refinada da “doutrina Bush”, também com outra “vantagem”: consegue cada vez mais partilhar os crimes contra a humanidade e o planeta, confundindo as oligarquias, as elites e até os povos, em função do seu recurso a uma capacidade tecnológica que muito poucos conseguem aperceber, mas que todos sentem à flor da pele, mesmo não saindo de sua casa, ou de sua cama.
Partilhar os crimes está a ser, para Obama enquanto Presidente dos Estados Unidos, a maneira mais versátil de ganhar um Nobel da Paz!
A IIIª Guerra Mundial não declarada mas omnipresente em todas as sociedades e em muitos alvos, grande parte deles desarticulados e à mercê do monstro (incluindo a sociedade norte americana), é desde logo uma guerra psicológica filtrada pelo poder dos “media” afins à aristocracia financeira mundial e à hegemonia unipolar, “media” que se assume como o grande mentor da propaganda, da desinformação, da mentira continuada, das manipulações e da formatação de milhões e milhões de cérebros, de vontades e capacidades que têm de ser agenciadas para que a causa do império não se esboroe e a delapidação da riqueza, tal como a rapina, passem pelos filtros que utilizam o espectro do medo e da dor.
Se o medo pode ser dimensionado e doseado à escala terrestre, a dor deve ser cirúrgica e tanto quanto o possível ir mudando de lugar, década a década, conflito após conflito, pois a perseverança da dor sempre sobre o mesmo local, pode constituir a melhor das formas para haverem resistências difíceis de vencer.
O poder dessa delapidação, com o medo instalado em todo o planeta e a dor ciclicamente repartida pelos mais diversos lugares, está à medida dum planeta muito maior do que a Terra, aproxima-se às potencialidades dum planeta com as dimensões de Júpiter e isto quer dizer que a ruptura com a humanidade e com o planeta duma hegemonia com essa natureza, ou é vencida pelas sociedades com consciência de suas responsabilidades, ou a humanidade, tal qual hoje a conhecemos, está a caminho do seu desaparecimento com um cortejo nunca visto de sofrimentos, sem possibilidades de redenção, retorno ou recuperação!
A “doutrina Obama” está no refinado sentido da morte, não no sentido da vida que nutre as aspirações rebeldes daqueles que lutam pelo equilíbrio, pela justiça social, pela paz sem fronteiras, pela não degradação do ambiente, pelo respeito consciente e cientificado pela Mãe Terra!
Nota:
A ilustração é o escudo do CYBERCOMMAND... sem mais comentários
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