sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Brasil: PT elogia combate à corrupção mas aponta ‘faxina’ como ardil da direita




CORREIO DO BRASIL - de Brasília

A primeira edição do discurso petista a ser apresentado no quarto Congresso Nacional da legenda, o partido faz uma enfática defesa das medidas moralizadoras tomadas pela presidenta Dilma Rousseff, mas aproveita para demarcar diferenças e fazer um alerta: a tentativa de aproximação de setores do PSDB e da “mídia conservadora” em torno da “faxina” ética não passa de um golpe para solapar a base de apoio no Congresso e paralisar o governo. O documento preliminar toma o cuidado de igualar Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no combate aos malfeitos.

“Nunca na história deste país a corrupção foi combatida com tanta profundidade e sem protecionismos partidários como nos governos Lula e Dilma”, afirma o texto. No entanto, o PT fixa limites ao dizer que o combate à corrupção “há de ser honrado sem desconstruir o Estado de Direito ou sonegar as garantias individuais. Sem esvaziar a política ou demonizar os partidos, sem transferir acriticamente para setores da mídia que se erigem em juízes da moralidade cívica”.

Mesmo sem citar nominalmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, o texto manda um recado sobre o que pensa o partido da recente troca de afagos entre Dilma e o tucanato.

“A oposição, apoiada – ou dirigida – pela conspiração midiática que tentou sem êxito derrubar o presidente Lula apresenta-se agora liderando uma campanha de ‘apoio’ à presidenta Dilma, para que esta faça uma ‘faxina’ no governo. Mesmo sem credibilidade, omissos que são no combate à corrupção nos seus próprios Estados e muitas vezes coniventes que foram nos governos federais dos quais participaram, esses políticos intentam, dissimuladamente, dissolver a base parlamentar do governo Dilma, a fim de bloquear suas iniciativas e neutralizar seus avanços”.

No item 92 do texto, o partido deixa claro que vai assumir a defesa de integrantes da base aliada denunciados pela imprensa.“O PT deve repelir com firmeza as manobras da mídia conservadora e da oposição de promover uma espécie de criminalização generalizada da conduta da base de sustentação”.

A expressão “mídia conservadora” é citada inúmeras vezes nas 24 páginas do documento. O texto esclarece a mudança estratégica de posição do partido em relação ao controle da mídia.

Enquanto Dilma mandou arquivar o projeto do ex-ministro da Comunicação Institucional Franklin Martins sobre o tema, o PT decidiu que o palco de atuação será o Congresso, onde o partido vai tentar aprovar um “marco regulatório” para os meios de comunicação e regulamentar artigos da Constituição ainda pendentes sobre o tema. A expressão “controle social” da mídia foi abandonada e as manifestações sempre são acompanhadas do repúdio total à censura.

“É uma tarefa do PT fazer o debate sobre o marco regulatório. A sociedade pode constituir um conselho para discutir o que seria algo razoável”, disse o secretário nacional do Comunicação do PT, André Vargas.

Embora o clima geral seja de indignação quanto à reportagem de capa da revista Veja que chama o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de “poderoso chefão”, o texto base não cita nenhum nome ou episódio pontualmente. No entanto, não está descartada a aprovação de uma moção de apoio a Dirceu e repúdio à Veja durante o Congresso.

O texto será submetido aos 1.350 delegados da etapa extraordinária do 4º Congresso nacional do PT que acontece entre sexta-feira e domingo em Brasília.

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1 comentário:

Anónimo disse...

Petistas que não querem se identificar asseguram que José Dirceu pressionou o quanto pôde o comando do partido para que a crítica “à mídia” fosse um dos pontos centrais do documento do 4º Congresso, que começa hoje e se estende até domingo. O “Zé” ainda queria forçar a mão para que lhe fosse feita uma moção de desagravo. Isso provavelmente ficará por conta da iniciativa de algum “companheiro”, e o texto deve, então, contar com a aprovação dos demais. Mas a coisa não pára por aí.

A turma do Zé também conseguiu emplacar uma crítica à dita “faxina” promovida por Dilma e ressuscitou a tese de que tudo não passa de sabotagem da oposição, apoiada pela “conspiração midiática”, que teria tentando derrubar Lula. Ressuscita a tese inventada para enfrentar a denúncia do mensalão. Como vocês lerão no post abaixo deste, os petistas não querem agora controlar apenas a radiodifusão. Em seus planos, está meter as patas também nos jornais, nas revistas e na Internet, que não são concessões públicas (não que eu defenda o controle das outras).

A Executiva Nacional do partido, que havia desistido oficialmente da tese do controle da mídia, em encontro realizado no começo do mês passado, mudou de idéia e endossa, agora, o documento bucéfalo. Vale dizer: o Zé parou de conspirar no quarto do hotel, saiu do cafofo e, agora, conspira abertamente dentro do PT mesmo.

O texto faz questão de ressaltar os esforços de Lula no combate à corrupção e diz que sua continuidade depende da reforma política, o que é uma piada macabra. A proposta do partido para a dita-cuja reforça o que pode haver de pior no sistema proporcional de votos. Se o PT conseguir emplacar a sua tese, o que é ruim vai piorar. Já demonstrei isso aqui. O que motiva a crítica à faxina — e esse é um movimento combinado com o Babalorixá de Banânia — é o temor de que a demissão de alguns larápios acabe carimbando no governo Lula a pecha de “corrupto”.

A presidente também já afirmou que não aceita o controle da mídia, como quer o PT, o que é referendado pelo ministro Paulo Bernardo, que agora vem sendo atacado pela Al Qaeda Eletrônica criada ao tempo em que Franklin Martins era o ministro da Supressão da Verdade. Mas o Zé conseguiu. O documento do PT vai:

- atacar, na prática, a liberdade de imprensa e pressionar o Planalto a apoiar o “controle da mídia”;

- atacar a “faxina”, sugerindo que isso decorre da “conspiração midiática”;

- fazer um desagravo branco a Lula, numa espécie de recado velado a Dilma.

E, depois desses recados todos, vai cantar as glórias da presidente, é claro!

Do blog do Reinaldo Azevedo

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