segunda-feira, 5 de setembro de 2011

CPLP deve ter "existência real com ações concretas" para estreitar laços no mundo lusófono




FO - LUSA

Rio de Janeiro, 05 set (Lusa) -- A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deve ter uma "existência real com ações concretas" e não ser um pretexto para reuniões de alto nível, defendeu Pepetela, que esteve no Rio de Janeiro na Bienal Internacional do Livro.

Segundo o autor angolano, que participou domingo no debate sobre "África -- Brasil: transas literárias, transes existenciais", uma das formas de pagar a "dívida histórica" do Brasil em relação ao continente africano seria manter o esforço de tornar a sociedade brasileira mais igualitária em direitos dos afro descendentes.

"Há muito a fazer dos dois lados para estreitar cada vez mais as relações, criar uma ponte, não tanto no sentido único, como está a acontecer por parte do Brasil. Os escritores já estão a fazer a pequenina coisa que poderiam fazer", argumentou Pepetela.

O Prémio Camões discutiu ainda o preconceito que existe sobre a África e a história do continente.

"Há pessoas que pensam em África como um país. Realmente há muitas literaturas africanas, como há muitas Áfricas. Ainda aos olhos do mundo aparece mais como um continente do que as diferenças dos países", analisou, ao falar perante cerca de uma centena de pessoas que encheu o espaço do "Café Literário" da Bienal.

A opção de Pepetela de reescrever a história por meio da ficção deve-se à vontade de querer "dar voz ao perdedor" com a própria visão do povo.

"Há muitas verdades, sobretudo quando se escreve sobre a história. Geralmente o que fica é a história do vencedor. Eu gosto de pegar nessas coisas e virar ao contrário, tentar compreender qual seria a visão do perdedor. No caso de Angola, a visão do colonizado que não tinha direito a palavra. A verdade é um diamante, conforme a luz bate, reflete de maneira diferente", argumentou.

Pepetela admitiu que sente uma grande vontade de "inventar a história" como uma forma de chamar a atenção.

A transição da história para a ficção foi a maneira que o autor angolano encontrou de dar a conhecer ao maior número de pessoas "o que havia passado e o que as pessoas não conheciam".

Segundo o escritor, há bem pouco tempo não havia uma história de Angola feita por angolanos.

"Uma forma de dar a conhecer dados históricos é através da ficção. Sinto-me absolutamente livre para inventar", disse.

Pepetela admitiu que a literatura africana de autores de língua portuguesa é mais conhecida em Portugal do que no Brasil e criticou o desequilíbrio da relação entre os dois países.

"Não há uma relação igualitária entre Brasil e Angola, não só pela demografia que é 10 vezes mais que Angola e a potência económica do Brasil. Parece que os angolanos olham mais para o Brasil. Já existem empresários brasileiros que estão a descobrir que afinal Angola tem algumas riquezas que podem interessar, e não só o petróleo".

Contudo, segundo Pepetela, a relação que se estabelece é sempre de "dependência" por parte de Angola e, a nível da difusão literária, isso também ocorre.

Pepetela foi um dos 20 escritores internacionais convidados para participar da Bienal Internacional do Livro, que decorre até 11 de setembro, no Rio de Janeiro com um público estimado em 600 mil pessoas.

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