quinta-feira, 15 de setembro de 2011

É DESTACADO “INTERESSE ESTRATÉGICO” DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL





O fortalecimento internacional da língua portuguesa tem "interesse estratégico" para o Brasil, disse, nesta quarta (14), o diretor de Relações Internacionais do Ministério da Cultura, Marcelo Dantas, em audiência pública promovida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

Ele alertou para o risco de ampliação da influência dos países que utilizam os idiomas inglês e francês, especialmente junto às nações africanas de expressão portuguesa.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) inclui oito países em quatro continentes, reunindo cerca de 250 milhões de pessoas, dos quais quase 80% no Brasil. Nos próximos 50 anos, previu o diretor, Angola e Moçambique devem dobrar a população. Mas apenas 40% a 50% dos habitantes de Angola e cerca de 10% dos habitantes de Moçambique têm atualmente o português como língua materna. Além da influência crescente sobre esses países lusófonos de nações de língua inglesa, disse Dantas, existem organismos internacionais que tentam "boicotar o português".

- O francês e o inglês estão tentando deslocar o português na África. Se a nossa comunidade se enfraquece, o Brasil perde expressão internacional e perde mercados e contratos às vezes bilionários. Angola vai se tornar um dos países mais ricos da África. Podemos ter com eles um projeto de desenvolvimento verdadeiro, equilibrado e conjunto - afirmou Dantas, durante a audiência sobre "A criação e a implementação de um programa de colaboração e intercâmbio de conteúdos culturais entre Estados que integram a CPLP", presidida pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

Televisão internacional

Autor da proposta de realização da audiência, juntamente com a senadora Ana Rita (PT-ES), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), concordou com Dantas. O senador defendeu a implantação de uma televisão internacional de língua portuguesa e um maior intercâmbio entre escritores e estudantes dos países da CPLP.

- Temos que resistir à avassaladora força imperialista do inglês e, daqui a pouco, do mandarim, que vai se transformar em um idioma importante na África - alertou Cristovam.

O presidente do Instituto Cultural Brasil Plus, Túlio Gontijo Rocha, apresentou durante a audiência o projeto de uma televisão via internet para cobrir todos os países da CPLP. Ele pediu apoio aos integrantes da comissão na busca por um patrocínio cultural de R$ 5,4 milhões para colocar a emissora no ar.

Por sua vez, o gerente institucional e de negócios da TV Brasil Internacional, Phidias Barbosa, informou que os governos do Brasil e de Portugal firmaram acordo para um trabalho conjunto entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a Rádio Televisão Portuguesa (RTP).

Porém, o acordo ainda não foi posto em prática porque existem dúvidas se a RTP virá a ser privatizada pelo novo governo português.

Integração acadêmica

A integração acadêmica entre os países de língua portuguesa foi defendida por três expositores. O reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira (Unilab), Paulo Speller, informou que a universidade, que terá campi no Ceará e na Bahia, pretende alcançar em uma primeira etapa 5 mil estudantes.

O secretário de Ciência e Tecnologia de Niterói (RJ), José Raymundo Romêo, disse que a Associação das Universidades da CPLP, que ajudou a fundar, já abriga 131 instituições, após 24 anos de funcionamento. O vice-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, Deonísio da Silva, afirmou "já estar na hora" de o Brasil assumir maior compromisso em relação aos países de língua portuguesa.

Na opinião de Ana Rita, as universidades têm cumprido "papel necessário e importante" não só na integração interna brasileira, mas também com a América Latina e os países africanos. Por sua vez, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) sugeriu que os integrantes da comissão façam uma visita às sedes da Unilab, em Redenção (CE), e da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), para conhecer os primeiros resultados dessas "duas grandes iniciativas".

Marcos Magalhães / Agência Senado

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