O autor do elogio a Xanana Gusmão no seu doutoramento “Honoris Causa”, em Coimbra, realçou hoje o empenho do primeiro-ministro de Timor-Leste na escolha do Português como língua oficial do país, a par do tétum, após a independência.
“Foi esta língua que os timorenses escolheram conscientemente, na senda, aliás, de todos os Estados que nasceram em África em resultado da descolonização portuguesa”, disse José Augusto Cardoso Bernardes.
Nesta escolha, o papel de Xanana Gusmão “foi da maior importância”, acrescentou este professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), pela qual o antigo líder da guerrilha timorense foi distinguido esta manhã com o grau de doutor “Honoris Causa”.
Além dos “motivos políticos”, terão pesado também “motivos de natureza afetiva” no empenho de Xanana Gusmão para consagrar o Português como língua oficial na Constituição da República Democrática de Timor-Leste, disse.
“A língua portuguesa não era apenas a língua do antigo colonizador. Era também o idioma do seu melhor aliado na luta pela libertação nacional e tinha sido já a língua adotada pela resistência armada ao novo colonizador” indonésio, afirmou José Augusto Cardoso Bernardes.
Na sua opinião, “embora pudesse revelar-se mais compensadora do ponto de vista económico, qualquer outra escolha implicaria necessariamente a perda de referências identitárias”.
No entanto, “quem tanto lutou pelas armas não poderia capitular de outra forma”, referiu, admitindo que este “tipo de pensamento” terá ocorrido “ao espírito dos responsáveis timorenses”.
No elogio ao ainda dourorando Kay Rala Xanana Gusmão, que pouco depois recebeu as insígnias doutorais das mãos do reitor João Gabriel Silva, José Augusto Bernardes recordou que, durante os longos anos de resistência ao invasor indonésio, o atual primeiro-ministro timorense escreveu poesia em Português, com destaque para a obra épica “Mauberíadas”, editada em 1975.
“Não admira assim que esses poemas escritos nas montanhas possam ser lidos como uma extensão da própria luta que então levava a cabo por outros meios”, observou, lembrando ainda que Xanana Gusmão também pintou quadros, sobretudo nos anos em que esteve preso na cadeia de Cipinang, na Indonésia.
O elogio ao apresentante do doutorando, o ensaísta Eduardo Lourenço, coube a António Sousa Ribeiro, também professor catedrático da FLUC.
“Ouso julgar que Eduardo Lourenço não se sentirá mal nesta vizinhança e poderá reconhecer-se amplamente nesta conceção das Humanidades como pensamento de fronteira”, disse, ao justificar a distinção de Xanana Gusmão por iniciativa da Faculdade de Letras.
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