À medida que vários educadores Bahá’ís são levados a tribunal no Irão, dois prémios Nobel criticaram duramente o governo iraniano, comparando as suas acções à da “Idade das Trevas na Europa” e à “Inquisição Espanhola”. Estes comentários do Presidente Timorense, José Ramos-Horta, e do Arcebispo anglicano Desmond Tutu surgiram numa carta aberta ao mundo académico, publicado no jornal “Huffington Post”, sob o título “A Guerra do Irão contra o conhecimento”.
Na carta, os dois laureados apelam ao governo iraniano para que liberte incondicionalmente e retire todas as acusações contra sete membros da Comunidade Bahá’í actualmente a ser julgados devido à sua colaboração com o projecto educativo BIHE (Bahá’í Institute for Higher Education).
"O progresso da humanidade nos últimos séculos tem sido alimentado, mais do que qualquer outro factor, aumentando o acesso à informação, acelerando a troca de ideias, e na maior parte do mundo, através da educação universal", declaram os autores.
"Por esse motivo, é particularmente chocante quando déspotas e ditadores do século XXI tentam subjugar suas próprias populações, negando-lhe a acesso à educação ou à informação”.
"Não só é inútil a longo prazo, mas também faz com que eles pareçam ter medo da época em que vivem, e assombrados por novos pensadores no meio deles."
"O exemplo, talvez mais gritante, desse medo é hoje a negação do ensino superior aos membros da Fé Bahá'í no Irão - uma religião pacífica, sem agenda política, que reconhece a unidade de todas as religiões", afirma-se na carta.
AUDIÊNCIAS NO TRIBUNAL
A publicação desta carta aberta coincidiu com relatos que indicam que já começaram os julgamentos de alguns educadores Bahá’ís que colaboravam com o BIHE (Baha’i Institute for Higer Education), uma iniciativa de professores Bahá’ís expulsos das universidades iranianas que proporcionava uma forma de estudo alternativa aos estudantes Bahá’ís impedidos de entrar nas universidades iranianas.
"As pessoas que foram presas não eram líderes políticos nem religiosos", salientam Ramos-Horta e Desmond Tutu na sua carta. "Eles eram professores de disciplinas como contabilidade e odontologia, e hoje enfrentam a perspectiva de décadas na prisão O crime de que são acusados: proporcionar ensino superior à juventude Bahá’í".
"O advogado que se preparava para os defender está agora, ele próprio, na prisão; ontem, dois dos detidos terão tido audiências no tribunal; hoje, outros dois devem ter audiências; e amanhã, será a vez de outros dois; um outro terá sido levado a tribunal na semana passada", disse Bani Dugal, a principal representante da Comunidade Internacional Bahá'í nas Nações Unidas.
"Tudo indicia que não podemos esperar um julgamento justo ", acrescentou.
Falando em nome da Comunidade Internacional Bahá'í, a Sra Dugal agradeceu a tomada de posição de Ramos-Horta e Desmond Tutu: "Agradecemos-lhes, assim como agradecemos a todos os governos, organizações e pessoas de boa vontade em todo o mundo, cujos esforços transmitem uma mensagem clara às autoridades iranianas de que as suas acções estão a ser vigiadas de perto e são condenadas".
EXPULSOS DEVIDO ÀS SUAS CRENÇAS
A carta aberta também destaca a situação de outros que foram expulsos das universidades "devido às suas crenças ou por defender pontos de vista considerados contrários ao do partido no poder, incluindo pontos de vista pró-reformista."
"Acreditamos que é importante reconhecer que estas acções não são o resultado, ou ditames, da fé islâmica. Basta olhar para a Idade das Trevas da Europa ou a Inquisição espanhola para ver que Aiatolas iranianos não são certamente os primeiros a usar a religião como pretexto para tentar suprimir pela força ideias e conhecimento que eles temem poder ameaçar o seu poder. As ricas tradições filosóficas e artísticas iranianas, os contributos de estudiosos iranianos em todo o mundo, e as acções de membros da comunidade muçulmana, que vieram em auxílio e apoio do BIHE, são um testemunho do facto de que as acções dos seus líderes não são o reflexo da fé muçulmana nem dos muitos muçulmanos de boa vontade nas comunidades iranianas", diz a carta.
"E enquanto nós acreditamos que, tanto historicamente, quanto no mundo interligado de hoje, é inútil suprimir a busca do conhecimento, existem muitas pessoas no Irão, cujas vidas estão ameaçadas ou afectadas por essas tentativas.
"Eles precisam do nosso apoio."
Os prémios Nobel convidam a comunidade académica para transmitir aos seus homólogos iranianos o seu desacordo e desaprovação com qualquer política que impeça os indivíduos de aceder ensino superior, devido à sua religião ou convicções políticas.
Vídeo: O Presidente de Timor-Leste, Jose Ramos-Horta, defende os Baha'is do Irão e exige a libertação de todos os colaboradoses do BIHE (from Education Under Fire on Vimeo).
Sem comentários:
Enviar um comentário