MARTINHO JÚNIOR
CUBA ESCLARECIDA E ESCLARECEDORA
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Em cima da chegada das forças coligadas AFRICOM/OTAN e “rebeldes” agregados no espaço do Conselho Nacional de Transição líbio a Tripoli, Cuba retira o seu embaixador na capital da Líbia e emite um Comunicado esclarecido e esclarecedor sobre a situação.
Vale a pena lembrar o Comunicado do MINREX Cubano (Declaración del MINREX: Cuba no reconoce al Consejo Nacional de Transición – http://www.cubadebate.cu/noticias/2011/09/03/declaracion-del-minrex-cuba-no-reconoce-al-consejo-nacional-de-transicion/):
“O Ministério das Relações Exteriores efectuou a retirada do seu pessoal diplomático na Líbia, onde a intervenção estrangeira e a agressão militar da NATO agudizaram o conflito e impediram o povo líbio de avançar para uma solução negociada e pacífica, no pleno exercício da sua autodeterminação.
A República de Cuba não reconhece o Conselho Nacional de Transição nem nenhuma autoridade provisória e só dará o seu reconhecimento a um governo que se constitua nesse país de maneira legítima e sem intervenção estrangeira, mediante a vontade livre, soberana e único do povo irmão líbio.
O embaixador Víctor Ramírez Peña e o primeiro secretário Armando Pérez Suárez, acreditados em Tripoli, mantiveram uma conduta impecável, estritamente apegada ao seu estatuto diplomático, correram riscos e acompanharam o povo líbio nesta trágica situação. Foram testemunhas directas dos bombardeamentos da NATO sobre objectivos civis e da morte de pessoas inocentes.
Com o grosseiro pretexto da protecção de civis, a NATO assassinou milhares deles, desconheceu as iniciativas construtivas da União Africana e de outros países e, inclusive, violou as questionáveis resoluções impostas pelo Conselho de Segurança, em particular com o ataque a objectivos civis, o financiamento e fornecimento de armamento a uma parte, bem como a instalação de pessoal operacional e diplomático no terreno.
As Nações Unidas ignoraram o clamor da opinião pública internacional, em defesa da paz, e tornaram-se cúmplices de uma guerra de conquista. Os factos confirmam as advertências prévias do comandante em chefe Fidel Castro Ruz e as oportunas denúncias de Cuba na ONU. Agora sabe-se melhor para que serve a chamada responsabilidade de proteger nas mãos dos poderosos.
Cuba proclama que nada pode justificar o assassinato de pessoas inocentes.
O Ministério das Relações Exteriores reclama a cessação imediata dos bombardeamentos da NATO que continuam a ceifar vidas e reitera a urgência de que se permita ao povo líbio encontrar uma solução pacífica e negociada, sem intervenção estrangeira, no exercício do seu direito inalienável à independência e à autodeterminação, à soberania sobre os seus recursos naturais e à integridade territorial dessa nação irmã.
Cuba denuncia que a conduta da NATO destina-se a criar condições semelhantes para uma intervenção da Síria e reclama o fim da ingerência estrangeira nesse país árabe. Apela à comunidade internacional a impedir uma nova guerra, insta as Nações Unidas a cumprirem seu dever de salvaguardar a paz e proteger o direito do povo sírio à plena independência e autodeterminação.
Havana, 3 de Setembro de
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A posição cubana é convincente, esclarecida e esclarecedora, tendo em conta a manipulação conseguida pelo império na Líbia, conforme meu comentário ao artigo no Cubadebate (Cuba retira sua missão diplomática na Líbia – http://pt.cubadebate.cu/noticias/2011/09/04/cuba-retira-sua-missao-diplomatica-da-libia/#comment-49):
1 ) Um conjunto cada vez maior de notícias conduzem à conclusão que o processo líbio é resultado duma enorme manipulação do império.
2 ) O regime de Kadafi, desde o momento que se aproximou do ocidente, permitiu a infiltração de inúmeros agentes, que provocaram a sua implosão, simultânea ao saque das enormes reservas financeiras depositadas nos Estados Unidos, na Grã Bretanha e no resto da Europa, Suiça incluída (que também por eles, ou sob sua influência, foi preparada).
3 ) Da implosão à situação de conflito foi apenas um passo e isso explica o desboroar da resistência, apesar de alguns núcleos duros darem continuidade à saga de Kadafi.
4 ) Essa implosão obrigou à emergência da Libya Islamic Fighting Group, cuja trajectória indicia estar historicamente ligada à Al Qaeda e cujo papel não está, por essa e outras razões, ainda suficientemente definido, apesar dos indícios nos conduzirem a que suas principais figuras sejam agentes do império.
5 ) A evolução por dentro do Conselho Nacional de Transição e na sua sequência, indiciam que o sangue continuará a ser derramado na Líbia, mesmo se a resistência de Kadafi e de seus seguidores chegar ao fim!
6 ) Cuba assumiu a posição mais esclarecida; se cada vez mais se deveria manter uma expectativa apreensiva em relação a Kadafi, agora que as manipulações do império estão a ser consumadas, Cuba fez o que devia: romper com elas!
Fim de citação.
Julgo que África, que está a ser sujeita a processos de manipulação do império análogos ao “caso líbio”, não pode deixar de aprender a lição em relação às motivações sócio-políticas inerentes a cada um e a todos os seus povos, tendo em conta o carácter da “Obama doctrine”, as “revoluções coloridas” e o sangue que tem derramado em vão desde a independência da longa noite colonial e do fim do “apartheid”, tendo em conta em aditamento cronológico e histórico todas as suas sequelas!
O que está em jogo é a paz precária de África, uma paz que seguindo a lógica capitalista e neo liberal, está a ser deliberadamente “construída” sobre desequilíbrios enormes, “construída” abrindo espaço à rapina de suas riquezas e pela via de expedientes elitistas de concepção do poder que só conduzem a rupturas teleguiadas e estimuladas a partir do império.
O objectivo dessa “construção”, em termos de manipulação do império, visa provocar a implosão dos regimes sincronizadamente à agitação particular da juventude dos “alvos” e dos substratos sociais mais pobres, marginalizados e economicamente mais vulneráveis.
Desse modo as “revoluções coloridas” têm “pernas curtas” e passos controlados pela hegemonia: mudam-se as moscas com muita emoção, tensões, conflitos e sangue e perde-se a longa batalha contra o subdesenvolvimento e pelo sentido de vida em benefício dos povos africanos, da energia que advém afinal do movimento de libertação.
A manipulação do império, por ausência, ou fraqueza da alternativa em relação à lógica capitalista neo liberal, absorve por inteiro o contencioso entre poder e revolta das massas até se alcançar o antagonismo do sangue, como única fórmula de dialéctica social e de renovação do poder que tem como rótulo a rotação prevista pelo quadro da “democracia representativa”!
A ruptura do poder em função dessa manipulação do império, implica o semear dos agentes que garantirão a consolidação do processo envenenado do exercício do poder local, da formação de novas elites, da institucionalização da “democracia representativa” de acordo com seus interesses e conveniências (ao invés do interesse e conveniência de África e dos seus povos) e da continuação do saque, da rapina, da miséria e do sangue, numa palavra, “tornar perpétuo” o subdesenvolvimento, por muito insustentável que esse exercício pareça ser.
África está frente ao beco sem saída do império com capacidades extremamente reduzidas de luta, por que ao não estimular outra lógica senão a do capitalismo, é ela que, de forma “teleguiada”, semeia as próprias minas e armadilhas que está a pisar e a fazer explodir!
Martinho Júnior - Luanda.
Foto:
Abdelhakim Belhaj – líder da Libya Islamic Fighting Group, “freedom fighter” da era Reagan no Afeganistão e indiciado como estando ligado à Al Qaeda; é o actual comandante de Tripoli (o que comandou a “ofensiva rebelde” contra a capital antes controlada pelo regime de Kadafi).
Consultar “Abdelhakim Belhaj, le retour d’Al-Qaeda » - http://www.liberation.fr/monde/01012356209-abdelhakim-belhaj-le-retour-d-al-qaeda
1 comentário:
Consultar ainda:
- Comment les hommes d’Al-Qaida sont arrivés au pouvoir en Libye - http://www.voltairenet.org/Comment-les-hommes-d-Al-Qaida-sont
- L’avenir de la Libye selon les plans de l’OTAN -
http://www.voltairenet.org/L-avenir-de-la-Libye-selon-les
- A US military base in Africa -
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26411
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