quarta-feira, 14 de setembro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO 42




MARTINHO JÚNIOR

AS NOVAS GRILHETAS DE ÁFRICA

Para o USAFRICOM e ingerência na Líbia em nada afectou os programas dirigidos para África, nem os seus relacionamentos (http://www.africom.mil/).

De facto ninguém espera que os africanos façam perguntas de fundo, explorando as revelações que têm sido feitas no que toca ao caso da Líbia, onde efectivos de forças especiais da OTAN, se misturam com os antigos “freedom fighters” que tiveram (ou têm) ligações à Al Qaeda (The "Liberation" of Libya: NATO Special Forces and Al Qaeda Join Hands – Michel Chossudovsky – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26255).

A ausência de questionamentos prova que o rótulo da luta contra o terrorismo, não passa dum papel celofane que embrulha as verdadeiras intenções e conteúdos desenvolvidos pelos Estados Unidos em relação a África utilizando a panóplia de capacidades que incluem o USAFRICOM, num momento em que as disputas sobre as matérias primas, particularmente o petróleo e o gás, assumem cenários dramáticos, conformes ao que tenho qualificado como IIIª Guerra Mundial não declarada, na sequência do 11 de Setembro de 2001.

O ano de 2011 contempla nada mais nada menos que 13 exercícios militares com os “parceiros” africanos, cobrindo cirurgicamente vastas parcelas do continente de norte a sul, de leste a oeste, criando a “cultura de segurança” da feição do império (Fact sheet – 2011 – Exercises – http://www.africom.mil/fetchBinary.asp?pdfID=20110713140246).

O Exercício que está em curso é o "Natural Fire 1", que está a ser realizado em Zanzibar, na Tanzânia, envolvendo os países da CEA, a organização que cobre o Leste de África.

Segundo a ANGOP:

“Os oficiais do Quénia, do Uganda, do Rwanda, do Burundi e da Tanzânia são esperados desde hoje, sábado, em Zanzibar para assistir à abertura oficial desta ocorrência.

Mais de 300 militares provenientes dos cinco países parceiros e da AFRICOM vão participar nestas manobras com o objectivo de garantir a segurança e incentivar a estabilidade regional, segundo o secretariado da CEA”.

Ao invés de encontrar soluções na profundidade institucional, política, económica e social a fim de fazer face às terríveis condições que propiciam a catástrofe da fome no corno de África, o USAFRICOM cumpre indiferente com um programa de acordo com os objectivos tutelares da hegemonia em toda a região Leste de África.

O programa de Exercícios do USAFRICOM prova quanto África está vulnerável à tipologia dos conceitos dinamizados no âmbito do Pentágono e da OTAN, conceitos que obedecem à mesma cultura de ingerências envolvidas por rótulos atractivos que correspondem aos grandes interesses e quanto as elites africanas, elites militares incluídas, são receptivos a esses estímulos.

Para o Pentágono e a OTAN, os custos desses Exercícios são certamente justificáveis, pelos ensinamentos que são obtidos através deles, não só relativamente aos ambientes físico-geográficos, como também em relação às potencialidades das forças armadas africanas.

Por outro lado, os enlaces humanos assim conseguidos, visam fortalecer as ligações dos diversos componentes, reforçando a passagem das mensagens ideológicas e de decisão para o quadro das elites africanas a partir do “trampolim”  que integra as estruturas e os meios operacionais colocados à disposição do USAFRICOM.

Este é de facto mais um expediente elitista que está em curso e ilustra quanto os Estados Unidos e os seus aliados-fantoches estão empenhados na criação de impactos que recriem em África novas elites dóceis, com possibilidades de serem manipuladas e absorvidas por inteiro à hegemonia por via da “globalização”.

Entretanto, crescem as indicações, por via de alguns analistas independentes, da possibilidade de vir a ser o Botswana o país escolhido pelo USAFRICOM para instalar a sua sede em solo africano, o que segundo alguns ocorrerá em 2012.

O Global Research mantém atenção em relação a iniciativas do AFRICOM que tenham esse objectivo e, na África Austral há mesmo possibilidades de haverem algumas tensões por causa disso (Final Conquest For Pentagon's Global Military Sphere Of Influence – A US military base in África – Felix Mjini – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26411).

O Botswana, um país que ao receber investimentos da De Beers tornou-se não só o 1º produtor mundial de diamantes jóia, mas uma plataforma de elitismo que está a servir ao “lobby dos minerais” para catapultar iniciativas mais para norte, sem perder as conotações históricas e humanas à África do Sul forjada a partir das estratégias de Cecil John  Rhodes, desde os tempos da British South Africa Company, possui como trunfo o seu papel melhor estruturado por exemplo sobre a Okawango and Upper Zambezi Tourism Inniciative, acerca do qual se estabeleceu muito recentemente um Tratado em Luanda, por ocasião da Reunião da SADC.

Até que ponto as geo estratégias do USAFRICOM se poderão interligar com as geo estratégicas elitistas que se expandem a partir da África do Sul e do Bostwana?

Para o “lobby dos minerais” não há contradição sem solução entre os projectos dos Parques Naturais Transfronteiriços e a presença dum Quartel General do USAFRICOM no Botswana, (numa posição geográfica que poderia colocar alguns incómodos à África do Sul emergente e a pelo menos a alguns dos estados que um dia compuseram a Linha da Frente contra o “apartheid”)…

Explorar até aos limites os desequilíbrios, controlando todas as capacidades disponíveis inclusive aquelas que provêm das ciências e das tecnologias (ainda que muitas delas não sejam “massificadas”), é a única fórmula que o império conhece, num momento em que o mundo deveria ser encarado efectivamente como a nossa única casa comum disponível.

A saga das guerras neo coloniais em África com ingerências originadas em outros continentes, por muito que alguns mais esclarecidos dirigentes africanos tentem evitar, ainda mal começou!

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