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A política de internamento compulsivo de crianças e adolescentes dependentes de crack no Rio de Janeiro completou três meses e, apesar de ser bastante criticada, existem hoje 85 crianças internadas à força para tratamento.
Os abrigos para tratamento de adolescentes dependentes de crack, na cidade do Rio de Janeiro, apostam nas brincadeiras para livrar as crianças do vício. "Quando eu falar já, joga o bambolê no chão, dá um pulo e grita 'eu sou feliz'!". É assim que começam as atividades no Centro Especializado de Atendimento à Dependência Química Bezerra de Menezes, localizado em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, onde ficam abrigadas crianças e adolescentes apanhados nas operações conjuntas da Secretaria Municipal de Assistência Social nas chamadas 'cracolândias', geralmente localizadas em favelas violentas.
O que é para ser brincadeira é levado a sério e deve haver disciplina até na hora de brincar. "Está faltando sorriso no rosto de vocês... 1, 2 e já...!", exalta o palhaço Rogério Rodrigues, que consegue convencer as meninas a participar nas brincadeiras.
O sorriso e o bambolê são as principais armas no tratamento de meninas menores de 18 anos dependentes de crack.
A Lusa visitou uma das quatro unidades de internamento compulsivo da Prefeitura do Rio de Janeiro para onde são encaminhados os adolescentes menores de idade. De lá, os adolescentes só saem ao cumprirem 18 anos ou por determinação do tribunal de menores após comprovarem, a partir de uma equipa multidisciplinar, ter deixado o vício.
O tempo de internamento varia de criança para criança: no mínimo três meses, mas algumas chegam a ficar um ano.
Quase todas as 40 meninas acolhidas neste centro de tratamento têm um histórico de vício em crack e consumo de outras drogas pesadas. Com uma filha de dois anos e sete meses, a adolescente E.S, de 18 anos, mais conhecida como Bombom, foi recolhida na operação realizada na favela de Manguinhos, em junho deste ano. "Não adianta mentir, eu sou uma viciada. Está a ser boa a experiência aqui, mas quero ir embora, a minha filha está entre a vida e a morte por causa de mim", disse à Lusa Bombom.
A sua filha pequena sofre até hoje as consequências do crack consumido pela mãe durante a gravidez. A adolescente, com os recém cumpridos 18 anos, consome drogas desde os 13. "Fumei crack, depois experimentei também o 'capetinha' que é a nicotina do cigarro com o crack".
Há um mês já no abrigo, Bombom conta que até ser encontrada ficou muito tempo na rua, e já nem se lembra da última vez que esteve em casa. "Desejo morar com a minha mãe e ser feliz com a minha família, não quero voltar para as drogas, se eu quisesse já teria fugido daqui", disse.
O abrigo possui cerca de 30 profissionais entre educadores, assistentes sociais e psicólogos. As atividades diárias para ocupar as crianças são várias: oficinas de dança, canto, teatro, brincadeiras e momentos de reflexão.
A educadora Siomara Pimentel, conhecida como Tia Mara, trabalha no abrigo há um ano e já trata de dependentes químicos há quase 10. Ela conta que as meninas chegam muito debilitadas e muitas estão infetadas com doenças sexualmente transmissíveis, doenças de pele, tuberculose e pneumonia. "Na rua, o crack tira toda a fome, a sede, não dormem e passam o tempo todo a consumir", disse à Lusa.
As primeiras operações conjuntas de combate ao crack começaram em março deste ano e visam sobretudo comunidades pobres e violentas.
Segundo a Secretaria de Assistência Social, em todas as operações já foram retiradas de 'cracolândias' mais de 1.300 pessoas.
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