domingo, 18 de setembro de 2011

Rio de Janeiro: Em 3 meses, 85 crianças viciadas em crack foram internadas compulsivamente




SIC NOTÍCIAS

A política de internamento compulsivo  de crianças e adolescentes dependentes de crack no Rio de Janeiro completou  três meses e, apesar de ser bastante criticada, existem hoje 85 crianças  internadas à força para tratamento

Os abrigos para tratamento de adolescentes dependentes de crack, na  cidade do Rio de Janeiro, apostam nas brincadeiras para livrar as crianças  do vício. "Quando eu falar já, joga o bambolê no chão, dá um pulo e grita 'eu  sou feliz'!". É assim que começam as atividades no Centro Especializado  de Atendimento à Dependência Química Bezerra de Menezes, localizado em Guaratiba,  zona oeste do Rio de Janeiro, onde ficam abrigadas crianças e adolescentes  apanhados nas operações conjuntas da Secretaria Municipal de Assistência  Social nas chamadas 'cracolândias', geralmente localizadas em favelas violentas.

O que é para ser brincadeira é levado a sério e deve haver disciplina  até na hora de brincar. "Está faltando sorriso no rosto de vocês... 1, 2 e já...!", exalta o  palhaço Rogério Rodrigues, que consegue convencer as meninas a participar  nas brincadeiras. 
 
O sorriso e o bambolê são as principais armas no tratamento de meninas  menores de 18 anos dependentes de crack. 

A Lusa visitou uma das quatro unidades de internamento compulsivo da  Prefeitura do Rio de Janeiro para onde são encaminhados os adolescentes  menores de idade. De lá, os adolescentes só saem ao cumprirem 18 anos ou por determinação  do tribunal de menores após comprovarem, a partir de uma equipa multidisciplinar,  ter deixado o vício. 

O tempo de internamento varia de criança para criança: no mínimo três  meses, mas algumas chegam a ficar um ano.  

Quase todas as 40 meninas acolhidas neste centro de tratamento têm um  histórico de vício em crack e consumo de outras drogas pesadas.  Com uma filha de dois anos e sete meses, a adolescente E.S, de 18 anos,  mais conhecida como Bombom, foi recolhida na operação realizada na favela  de Manguinhos, em junho deste ano. "Não adianta mentir, eu sou uma viciada. Está a ser boa a experiência  aqui, mas quero ir embora, a minha filha está entre a vida e a morte por  causa de mim", disse à Lusa Bombom.
  
A sua filha pequena sofre até hoje as consequências do crack consumido  pela mãe durante a gravidez. A adolescente, com os recém cumpridos 18 anos, consome drogas desde  os 13. "Fumei crack, depois experimentei também o 'capetinha' que é a nicotina  do cigarro com o crack".   

Há um mês já no abrigo, Bombom conta que até ser encontrada ficou muito  tempo na rua, e já nem se lembra da última vez que esteve em casa. "Desejo morar com a minha mãe e ser feliz com a minha família, não  quero voltar para as drogas, se eu quisesse já teria fugido daqui", disse.

O abrigo possui cerca de 30 profissionais entre educadores, assistentes  sociais e psicólogos. As atividades diárias para ocupar as crianças são várias: oficinas de  dança, canto, teatro, brincadeiras e momentos de reflexão. 

A educadora Siomara Pimentel, conhecida como Tia Mara, trabalha no abrigo  há um ano e já trata de dependentes químicos há quase 10. Ela conta que  as meninas chegam muito debilitadas e muitas estão infetadas com doenças  sexualmente transmissíveis, doenças de pele, tuberculose e pneumonia. "Na rua, o crack tira toda a fome, a sede, não dormem e passam o tempo  todo a consumir", disse à Lusa. 

As primeiras operações conjuntas de combate ao crack começaram em março  deste ano e visam sobretudo comunidades pobres e violentas. 

Segundo a Secretaria de Assistência Social, em todas as operações já  foram retiradas de 'cracolândias' mais de 1.300 pessoas. 

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