quarta-feira, 28 de setembro de 2011

XANANA GUSMÃO É UM BÊBADO, ALKATIRI É ARROGANTE, HORTA NÃO TEM ESPELHOS EM CASA!




Presidente de Timor-Leste Descarrega sobre seus Rivais
                              
Philip Dorling – Asian Sentinel - 22 setembro 2011 – em inglês no original
    
Telegramas da WikiLeaks pintam Ramos Horta como insolente, raivoso com líderes do governo

O parlamento Timorense é “corrupto e ineficaz,” o Primeiro-Ministro Xanana Gusmão tem problemas com álcool, enquanto que o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri é “arrogante e insultuoso,” de acordo com o Presidente Timorense José Ramos-Horta.

Estas observações privadas e cáusticas do Presidente Horta sobre políticos de Timor-Leste foram reveladas em fugas de informação dos telegramas da Embaixada dos Estados Unidos que foram publicadas pela WikiLeaks.

Mesmo assim, o presidente não saiu incólume, havendo registos de que a Igreja Católica critica duramente o veterano líder Leste Timorense. Um oficial sénior do Vaticano é citado por diplomatas dos EUA como tendo observado que “Ramos-Horta começou com boas intenções mas deixou que o seu Prémio Nobel lhe subisse à cabeça,” e provavelmente notou que um encontro com o Papa Benedict XVI em Outubro de 2006 “grandemente em termos de como isso poderia ajudá-lo politicamente no seu país.”

Apesar dos telegramas diplomáticos dos EUA vazados para a WikiLeaks terem sido libertados há duas semanas, 390 relatórios oriundas da Embaixada Americana em Díli não têm atraído até agora a media, não obstante a sua cabala de perspectiva de Timor-Leste como um “estado falhado” sido ensanduichado entre a Austrália e a Indonésia.

Horta, descrito como um “negociador lendário internacional,” estava particularmente cândido nas suas discussões com diplomatas Americanos, providenciando comentários detalhados sobre momentos políticos críticos, explicando o seu próprio pensamento e dando o seu ponto de vista sobre as intenções e motivações de outros, especialmente Gusmão e Alkatiri.

Descrevendo “todos os principais intervenientes políticos como seus velhos amigos ou conhecidos, que remontam há anos,” Horta descreve Gusmão como “arrogante, mas gosta mostrar-se humilde, ao contrário de Alkatiri, que nem sequer finge ser outra coisa senão mostrar-se arrogante.”

Em discussões com diplomatas dos EUA Horta torna claro a sua admiração por Gusmão, o líder da resistência clandestina de Timor-Leste durante a ocupação Indonésia, mas manifesta reservas crescentes sobre o desempenho do seu amigo no cargo político.

Em Maio de 2008, no decurso de um telegrama que discutia tensões entre “estilo de liderança de mão-pesada” de Gusmão, a Embaixada dos EUA reportou contactos parlamentares Leste Timorenses como tendo sugerido que o Primeiro-Ministro “pode ter um problema de álcool que está prejudicando as suas relações com os outros.” A embaixada acrescentou que “durante um encontro em 5 de Maio com [oficias da Embaixada dos EUA], James Dunn, escritor e observador de longa data de Timor, relatou que  o Primeiro-Ministro irritou o Presidente Ramos-Horta por ter aparecido ‘visivelmente embriagado’ numa recepção em honra do Príncipe Alberto do Mónaco no dia 6 de Abril.”

Horta é crítico contundente de Alkatiri, a quem o substituiu como primeiro-ministro em Junho de 2006, descrevendo Alkatiri como “arrogante e insolente,” e sugerindo que “o segredo para conhecer Alkatiri” envolveu “o conhecimento das suas raízes Iemenitas, que são diferentes da maioria dos Timorenses, e dos seus anos de exílio em África.”

“Ramos Horta observou que se na Indonésia os Muçulmanos Javaneses são antipáticos para com os Iemenitas, ‘imagine num país Católico,’ reportou a embaixada. “Ele observou também a personalidade obstinada de Alkatiri, que é diferente da dos Timorenses em média. A população aqui gosta de sorrir e ele nunca o faz, nem mesmo a fingir.”

Os telegramas vazados registaram ainda o desprezo de Horta pelo parlamento de Timor-Leste, que ele em privado classifica de “corrupto e ineficaz” depois de Deputados o terem criticado em Setembro de 2009 sobre as suas viagens ao estrangeiro.

O Presidente, “conhecido em preservar-se a si próprio e às suas credenciais, incluindo o Prémio Nobel da Paz, em elevada consideração,” chamou representantes de governos estrangeiros em Díli e “sem conseguir controlar a sua ira, disse aos diplomatas que o parlamento estava ‘a brincar com o fogo’ ao fazer joguetes políticos com ele. Este parlamento está corrupto e ineficaz, acusou Ramos-Horta, que precisa ser limpo e ‘dar-lhes uma lição’ nos próximos meses.”

Os telegramas fornecem um relato detalhado dos acontecimentos conduzindo à resignação em Junho de 2006 de Alkatiri, sob a ameaça de demissão pelo então Presidente Gusmão, ao mesmo tempo que multidões violentas e saques e queimadas decorriam em Díli.

Gusmão estava “particularmente insistente” em que Alkatiri tinha que resignar ou seria imediatamente demitido.

No meio da crise a Embaixada dos EUA reportava: “Ramos-Horta falou candidamente sobre o que ele assumia como sendo as causas da situação actual. … [Ele] disse o Presidente estava pronto para demitir Alkatiri a semana passada, mas que ele tinha persuadido o Presidente a ‘não demitir o governo no meio da crise de segurança. Eu disse a Xanana; não tomemos quaisquer medidas imprudentes. Estamo-nos abeirando dele.’ No entanto, ele observou que o presidente está absolutamente determinado a demitir Alkatiri, primeiramente por causa das evidências que foram apresentadas ao Presidente sobre o envolvimento pessoal de Alkatiri na distribuição de armas, incluindo algumas de que foram alegadamente usadas para matar gente.”

Gusmão finalmente segurou a resignação de Alkatiri após a difusão do documentário Four Corners da ABC TV que continha alegações ligando o primeiro ministro ao grupo de milícia que reclamava que Alkatiri e o Ministro do Interior Rogério Lobato lhes deu dinheiro e armas e deram-lhes ordens para matar certos oponentes de Alkatiri.

Após uma reunião com Gusmão no dia 19 de Junho de 2006, o Embaixador dos EUA reportou “o presidente disse que amanhã de manhã ele ia enviar a Alkatiri um videotape ou DVD do programa [Four Corners] dessa noite. … O Presidente também dirá a Alkatiri, por carta ou por telefone, que embora não querendo prejudicar a inocência ou culpa de Alkatiri enquanto se aguarda por processo judicial, há já evidência bastantes que ‘eu não posso ter mais confiança em si.’ Ele irá portanto pedir que Alkatiri resigne imediatamente como Primeiro-Ministro.”

O Embaixador dos EUA reportou também que Gusmão procurou segurar o apoio do chefe dos militares de Timor-Leste o Brigadeiro General Taur Matan Ruak.

Os telegramas revelaram também que o contingente  em Timor-Leste da Australian Defence Force estava directamente envolvido nas manobras políticas.

Num parágrafo classificado secreto, o Embaixador dos EUA reportava que: “O Presidente disse que ele tinha discutido brevemente com o Brigadeiro Mick Slater da ADF, o comandante [da Task Force Conjunta], sobre a possibilidade da demissão de Alkatiri, e que ele tinha tido vários reuniões recentes com outro oficial sénior da ADF para explicar o seu plano em detalhe Estes oficiais não levantaram objecções ao plano e parecia terem entendido e aceite o plano. Amanhã de manhã o Presidente irá reunir-se com o General Slater para apresentar o plano detalhado, incluindo o horário.”

Num comentário adicional, a Embaixada observou que “fontes da ADF têm sugerido em várias ocasiões [a oficiais da Embaixada] que substituir Alkatiri pode ser um passo para a restauração da estabilidade em Timor-Leste.”  A Embaixada reportava também que tinha recebido “um report credível (favor proteger estritamente) de que o Ministro dos Negócios Estrangeiros Australiano, Alexander Downer, convocou a Companhia de Radiodifusão Australiana e deu ‘uma ordem para ver a evidência’ infrutífera que seria apresentada no programa Four Corners sobre Alkatiri e o grupo armado.”

Alkatiri finalmente apresentou a sua resignação no dia 26 de Junho e Horta foi indicado por Gusmão como primeiro-ministro. Ambos os líderes aprovaram apressadamente um aumento da intervenção da tropa Australiana para suprimir a desordem civil em Díli. As alegações contra Alkatiri, seriamente negadas pelo antigo primeiro ministro, não foram testadas em tribunal. Horta foi posteriormente eleito Presidente e Gusmão nomeado primeiro ministro chefiando uma coligação governamental depois das eleições de Timor-Leste em Junho de 2007.

Os telegramas da Embaixada dos EUA também vieram lançar luz sobre o envolvimento profundo da Igreja Católica na política de Timor-Leste, com líderes políticos descritos por oficiais do Vaticano como “incompetentes” e “não-sérios.” 

Um report diplomático dos EUA de 2005 a partir de Roma confirma o papel activo dos dois bispos Católicos de Timor-Leste na orquestração dos protestos contra o governo de Alkatiri, e as subsequentes preocupações no Vaticano de que os bispos estavam “excessivamente combativos” nas suas actividades políticas.

Em Dezembro de 2005 o director residente do Vaticano em Timor-Leste Luis Montemayor disse privadamente a diplomatas dos EUA que a orquestração dos protestos pelos bispos contra uma proposta de abolição do ensino religioso nas escolas do estado era vista com alarme pelo Vaticano, e que “enquanto os bispos se mantiverem a estar “envolvidos em batalhas políticas com o governo da Fretilin … se não forem para além do incitamento de demonstrações similares às do mês de Maio, as suas acções são aceitáveis.”

Montemayor manifestou a esperança de que os dois bispos estariam “mais prudentes” no futuro e reconheceu que “a igreja deveria ser uma voz do povo, mas ela não fala em nome de todo o povo.”

Uma outra fonte do Vaticano, o Padre Jesuíta Leste Timorense João Piedade, foi ainda mais longe, reclamando que os Bispos Nascimento e da Silva estavam “excessivamente combativos nas relações com o governo Fretilin, e consequentemente negligenciaram os seus papéis como pastores.”

Telegramas subsequentes dos EUA reportam a satisfação da Igreja Católica com a resignação política de Alkatiri em Junho de 2006. Contudo o Bispo Nascimento, descrito pela Embaixada dos EUA em Díli como sendo “entre os mais astutos e informados observadores socio-políticos em Timor-Leste,” depressa manifestou insatisfação com ambos, Horta e Gusmão, os quais ele via como politicamente fracos e indecisos com “tendência a compromisso mesmo quando a situação exige firmeza.”

As divulgações da WikiLeaks providenciaram também uma nova perspectiva às tentativas de Horta em negociar com o líder militar rebelde Leste Timorense, Major Alfredo Reinado, incluindo o envolvimento de diplomatas dos EUA como intermediários, mesmo enquanto as tropas Australianas estavam na tentativa de caçar e matar Reinado.

Em Junho de 2007 a embaixada reportou que Horta tinha pedido ao comandante Australiano da Força Internacional de Estabilização para suspender a perseguição a Reinado para que ele pudesse convencer o rebelde a entregar-se. Horta “afirmou que os apoiantes de Reinado estavam a abandoná-lo, e disse que a sua estratégia era isolar Reinado da sua base de apoio enquanto simultaneamente negociava com ele para se render.”

Contudo, no dia 11 de Fevereiro de 2008, Horta foi gravemente ferido numa tentativa de assassinato por Reinado; um incidente que também resultou na morte do líder rebelde.

Numa discussão no dia 18 de Março no Hospital de Darwin o presidente disse ao Embaixador dos EUA que ele era “incapaz de explicar as motivações dos seus atacantes,” mas estava “confiante de que ele fora vítima de ‘intenções hostis’ pelo Major Reinado.”

Horta acrescentou que ficou deitado sangrando por “20 ou 30 “ minutos depois de ter sido atingido, antes “que chegasse uma maltratada ambulância com um condutor mas sem médico.”

Horta estava rispidamente crítico da [Força Internacional de Segurança] e do Ministério da Saúde pelo pobre tratamento médico de emergência que recebera (ele alegou ter perdido quatro litros de sangue) e por ter falhado em perseguir os seus atacantes,” reportou o embaixador.

No rescaldo da tentativa de assassinato de Fevereiro de 2008, a Embaixada dos EUA deu uma sombria avaliação da estabilidade económica e política de longo prazo de Timor-Leste.

“O acontecimento de 11 de Fevereiro lembrou-nos tragicamente da fragilidade da experiência democrática Timorense. O risco de colapso cresceu nesse dia, assim como o espectro de um estado falhado ensanduichado entre o nosso aliado Austrália e a parceira Indonésia. Felizmente, as instituições Timorenses aguentaram-se em 11 de Fevereiro, embora isto não seja necessariamente uma predição confiável de comportamentos futuros. Esforços promissores visando reconciliação política entre os partidos governantes e da oposição, e entre líderes políticos chave, para terminar com as suas infindáveis brigas – citado por muitos Timorenses como uma importante fonte de instabilidade – ficaram paralisadas quando o seu arquitecto, José Ramos-Horta, foi baleado.” 

“Finalmente, o governo encara as tarefas urgentes de melhorar a sua prestação de serviços públicos e investimentos e de enfrentar o enorme desafio de criação de emprego, assim como impulsionar o crescimento económico. Timor-Leste permanece um país extremamente pobre, com uma capacidade de gestão de lâmina fina; taxas surpreendentemente elevadas de desemprego/mortalidade infantil/analfabetismo; desemprego juvenil crescente; demografia explosiva à medida como a população cresce 4% anualmente; infra-estruturas pobres, de tirar o fôlego; estado de direito inadequado e direitos incompletos de propriedade; e, à excepção de exportações de petróleo e café, não existe alguma ligação significativa para a economia regional ou global.”

A embaixada reportou subsequentemente em Setembro de 2009 que “as relações entre os líderes políticos seniores de Timor-Leste (Gusmão, Ramos-Horta e Alkatiri) têm azedado notoriamente, reacendendo as mesmas rivalidades a nível da elite que provocaram conflitos violentos no passado.”

James Dunn, um observador de longa data da política Leste Timorense e confidente do Presidente Horta, disse ontem que muito dos reports da Embaixada dos EUA eram “bastante perceptivos.”

 As próximas eleições de Timor-Leste estão programadas para terem lugar em meados de 2012.

*Publicado no Asian Sentinel em inglês – Tradução de LP – Revisão de AV – Título PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana