quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Angola: Regime está "fragilizado" e acabará no prazo de dois anos - Carbono Casimiro




CFF - LUSA

Lisboa, 20 out (Lusa) -- O "rapper" Carbono Casimiro, um dos líderes da contestação anti-governamental em Angola, defendeu que o regime do Presidente José Eduardo dos Santos "está fragilizado" e vaticinou o seu fim no prazo de dois anos.

"Acredito que muito antes de dois anos venha a acabar. Só há duas opções: sair ou partir com violência para cima das populações. Esse regime está fragilizado e o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) é um gigante com pés de barro", disse Carbono Casimiro em entrevista à agência Lusa, por telefone, a partir de Luanda.

Dionísio Casimiro, mais conhecido como Carbono Casimiro, é um dos líderes da contestação ao regime angolano e integrava um grupo de 21 jovens detidos a 03 de setembro em Luanda durante uma manifestação anti-governamental. Julgado sumariamente a 12 de setembro, foi condenado, por ofensas corporais e danos materiais, a 90 dias de prisão, e libertado na sexta-feira passada, 41 dias após o veredito do tribunal.

O jovem ativista garante que o movimento de contestação ao Presidente angolano está a crescer e que não faltam argumentos aos angolanos para se manifestarem.

"Vivemos num país em que falta a energia todos os dias, falta água corrente, faltam casas, falta o básico. [...] O Presidente prometeu na campanha para as eleições de 2008 um milhão de casas em 2012. Estamos em 2012 e nenhuma pessoa que votou no MPLA beneficiou de tais casas", disse.

Como exemplo, lembrou que está em construção uma "nova cidade" onde a casa mais barata custa 125 mil dólares, num país em que, lembrou, o salário mínimo é de 150 dólares.

"Temos motivos mais que suficientes para nos manifestarmos todos os dias. O problema é que o MPLA sempre implantou a cultura do medo. As pessoas acreditam que manifestar-se é crime, é guerrear, que causa mortes. Mas estamos a provar que manifestações não matam ninguém", afirmou.

Ainda assim, garante, as pessoas estão a "acordar" e a perceber que podem manifestar-se pelos seus direitos.

Sobre o futuro do movimento, que desde o início do ano tem organizado manifestações anti-governamentais, Carbono Casimiro diz que é essencial manter a independência dos partidos.

"É a primeira vez que surge em Angola um movimento totalmente civil, com pessoas sem cunho partidário e esse teor tem que continuar. O movimento tem que continuar a ser apartidário porque também é um inimigo novo para o MPLA, que sempre esperou partidos e associações, mas nunca que o povo se unisse", sublinhou.

Questionado sobre a postura do regime de desvalorizar o movimento de jovens, Carbono Casimiro afirmou ter dúvidas sobre as verdadeiras intenções desta atitude.

"Não sei se desvalorizam se propagam que desvalorizam e, no fundo, temem. Na primeira manifestação popular em Angola, a 07 de março, prenderam 17 pessoas, e antes desse dia o MPLA organizou uma marcha em que gastaram milhões de dólares", recordou.

"Dizem que somos arruaceiros, criminosos, mas a cada ação nossa fazem uma contra-ação que envolve milhões de dólares e campanhas de semanas na televisão. Como é que se dá tanta importância a alguém que não é uma peça a considerar no xadrez?", questionou.

"Se fossemos insignificantes não era para causarmos as inquietações que causamos ao regime", concluiu.

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