segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cabo Verde: É PRECISO TER LATA SENHOR PRIMEIRO MINISTRO



LIBERAL, Editorial

JOSÉ MARIA DAS NEVES CONTINUA A DORMIR

O Primeiro-ministro vem dar agora o dito por não dito, desmontando ele próprio o país das maravilhas que vendeu aos cabo-verdianos durante os 10 anos do seu mandato, quando a Oposição já alertava para a crise que hoje assola a economia cabo-verdiana

Na semana passada, José Maria Neves, contrariando declarações demagógicas, eleitoralistas e mentirosas dele próprio e da sua ministra das Finanças, Cristina Duarte – de que a economia cabo-verdiana estava “blindada” ao tsunami financeiro internacional –, veio falar da crise, de como ela “começa” a afecta Cabo Verde e das medidas a adoptar pelo seu Governo.

JMN, que andou a dormir e a mentir quando outros já previam o inevitável face aos desmandos da sua governação, chegando mesmo a apelidá-los de mensageiros da desgraça, anti-patriotas, de só quererem o mal para os cabo-verdianos, vem dar agora o dito por não dito, desmontando ele próprio o país das maravilhas que vendeu aos cabo-verdianos durante os 10 anos do seu mandato.

Ao referir que “é preciso ter consciência de que nos últimos seis meses houve uma profunda deterioração da crise internacional que já está a ter reflexos em Cabo Verde”, o Primeiro-ministro não só contradiz as previsões do Governo feitas há um ano, como vem dar razão ao líder da oposição, Carlos Veiga, que já em Setembro de 2010 havia alertado o país para o perigo de se acreditar em quem “não é capaz, não tem coragem de assumir responsabilidades, preferindo viver numa gaiola dourada sob a intensa luz dos holofotes da comunicação social pública, umas vezes parecendo estar a participar em filmes épicos, outras vezes em ácidos arremedos contra a oposição, construindo cenários idílicos futuros que não resistem, infelizmente, à triste realidade”.

E é esse alerta que, hoje, infelizmente, se comprova inteiramente pelas próprias palavras de José Maria Neves ao reconhecer que os efeitos da crise – por ele sempre ocultados vergonhosamente aos cabo-verdianos sentem-se “na ajuda orçamental e nos donativos e também nos empréstimos”, reconhecendo, inclusive, já haver “impactos nos investimentos externos aqui”, e que por isso “temos de analisar toda a situação nacional e ver que medidas e soluções temos de tomar internamente para prevenir os impactos negativos da crise no país”. Tarde, muito tarde sr PM.

Já antes, a 3 de Julho de 2010, Carlos Veiga havia feito o alerta: “O Estado abandonou as empresas à sua sorte em plena crise, alimenta-se delas o mais que pode e enquanto pode, pouco se importando se fecham, se despedem pessoal ou se incumprem contratos em cascata. Interessa-se apenas pelos fluxos de financiamentos externos. Porque, com eles, o Governo sustenta o sistema no qual as pessoas se mantêm sujeitas e subordinadas ao Poder e a classe média e empresarial dependente de favores, benesses ou acessos privilegiados aos centros de poder”.

Agora, “com as calças na mão”, JMN vem dizer ao país que afinal o que prometeu era tudo mentira. Vem dizer que o que ele vai fazer afinal “tomar um conjunto de outras medidas para evitar que haja salários exorbitantes na função pública e duplicação de salários na administração pública”, querendo com isto dizer que durante estes longos 10 anos JMN duplicou salários aos seus camaradas, familiares e amigos.

Mas, o Primeiro-ministro, ainda há poucos meses, tendo já consciência da crise, resolvendo mentir aos cabo-verdianos. Dizia ir implementar o salário mínimo, conceder o 13º mês, multiplicar as bolsas de estudo, as barragens e muitas outras coisas.

Nessa mesma altura, JMN cortava as pernas às empresas nacionais e abria os braços aos amigos de negócios estrangeiros como foi o caso de Jorge Coelho da Mota Engil – sem regras, sem ética e sem espírito patriótico.

Só agora, dois anos depois, é que o PM descobre que “já há uma clara redução dos investimentos externos, a crise do sector imobiliário já é evidente e já há uma ligeira diminuição das receitas globais do Estado com a redução dos donativos”.

E, que nem Chico Esperto, JMN começou a piscar o olho aos empresários nacionais, esperando que estes – já suficientemente endividados e prejudicados por uma década de ataque à economia nacional – venham a correr para lhe salvar a pele e a face de vendedor de ilusões.

Só agora, dois anos depois, é que o o ilusionista da Prainha descobre que “há ainda compromissos não assumidos por outros países”, e que “estamos a entrar em 2012 com muitas incertezas”, insultando a inteligência dos cabo-verdianos, fazendo de conta que nunca havia vendido um país das maravilhas que só existia na verborreia demagógica da propaganda e na falácia das declarações públicas dos seus ministros.

Mas Carlos Veiga já havia dito que “a história do Mundo e de Cabo Verde mostra aonde nos levarão tais políticas. Como no passado, ao beco da estagnação económica e do retrocesso social; a mais desemprego e pobreza; a um fosso cada vez maior entre um pequeno grupo à volta do poder, que vive e prospera da reciclagem da ajuda externa, e a maioria da população, que verá a sua vida cada vez mais difícil e sem perspectivas de desenvolvimento; a um plano cada vez mais inclinado para o precipício do subdesenvolvimento profundo”.

Nessa altura, a arma de arremesso do Governo invectivava a Oposição de “rabentola”, de mensageiros da desgraça e outros epítetos, acusando Veiga de querer dar uma má imagem internacional de Cabo Verde que no dizer de JMN estava na moda. O mesmo Governo que, agora, porque preferiu o primado da propaganda à atitude séria de não mentir ao cabo-verdianos, vem agora revelar a sua impotência, assumindo-se dependente das esmolas da comunidade internacional, fazendo de conta que a crise que vivemos é apenas resultante da conjuntura externa a que o Primeiro-ministro e o Executivo seriam alheios.

É preciso ter lata senhor Primeiro Ministro.

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