quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Eduardo dos Santos quer esquecer Cabinda. Mas o Povo, esse não deixa que isso aconteça




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Eduardo dos Santos, tal como Cavaco Silva, nada aprenderam com o regime colonial português. E o que aprenderam o poder apagou.

O presidente de Angola, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, não teve nem coragem politica nem a hombridade moral para, no seu discurso sobre o Estado da Nação, esclarecer o que quer que fosse sobre a situação politica e militar na colónia de Cabinda.

Eduardo dos Santos, em mais uma amostra da sua pequenez como estadista, varreu o assunto para debaixo do tapete onde esconde os podres do seu regime, calculando que por não se falar do assunto… ele deixa de existir.

Está, obviamente, enganado. O Povo de Cabinda continua vivo e disposto a lutar pelos seus históricos e inalienáveis direitos, por muito que isso custe a todos aqueles que se julgam donos das pessoas. É certo que o regime angolano tem conseguido comprar o silêncio do mundo. Mas até isso tende a terminar.

É certo que o poder bélico do regime, sustentado e municiado com parte das riquezas (petróleo, por exemplo) roubadas em Cabinda, pode até silenciar os que estão de armas na mão. Mas a máquina opressora e colonialista do MPLA nunca calará a voz dos que só aceitam estar de joelhos perante Deus.

O regime colonial angolano, tal como nos tempos do seu congénere português, aposta na razão da força (militares, polícia e similares) para calar a força da razão. Esquece-se, tal como aconteceu em Angola durante a ditadura portuguesa, que não há maneira de derrotar a identidade de um Povo, a secularidade de uma nação.

Eduardo dos Santos deixa, como sempre fazem os ditadores, que o problema se arraste, pondo a máquina de propaganda do regime a trabalhar no sentido de fingir que o problema não existe. Foi, aliás, isso que Portugal fez em Angola durante muitos anos, mas o resultado final é o que se conhece.

Pelas razões históricas que envolvem Cabinda, ao querer resolver o problema pela via militar, Eduardo dos Santos quer ser o primeiro político no mundo a derrotar a força do mar e dos ventos. O resultado é previsível. De um momento para o outro um qualquer tsunami vai varrer a ditadura e instituir o direito do povo, neste caso o de Cabinda, escolher livremente o seu destino.

E não é com medidas cosméticas ou até com obras que o regime vai manter eternamente a escravatura que impôs em Cabinda. O regime colonial português também fez obra em Angola, mas quando chegou a altura nada disso contou para um povo que, como o de Cabinda, queria ter o direito sagrado de escolher o caminho a seguir.

Creio, aliás, que Eduardo dos Santos sabe que nunca conseguirá derrotar os cabindas. Sabe que esse nobre Povo nunca será derrotado porque nunca deixará de lutar. Apesar da força opressora, os cabindas estão e estarão bem vivos.

Os  cabindas apenas querem que a sua questão seja suscitada, discutida calma e serenamente e as responsabilidades apuradas e assumidas sem preconceitos nem caça às bruxas, acusações ou insultos.

Há alguns anos, o governo belga apresentou ao Povo da República Democrática do Congo desculpas formais e oficiais pelo seu envolvimento no assassinato de Patrice Lumumba, herói da independência daquele país africano e chefe do seu primeiro governo.

Para os cabinda, não é necessário que Portugal e Angola cheguem a tanto, embora fosse da mais elementar justiça. Apenas querem a verdade. Não só não exigem desculpas, como nem as esperam.

Os cabindas são o único povo do planeta a quem é negado, sistemática e terminantemente, a compreensão, a amizade e a solidariedade. O único povo cujos mais elementares direitos são espezinhados. O único que, contra o direito e a sua própria vontade, é empurrado para soluções extremas, como se o objectivo fosse arranjar um pretexto para os eliminar  da face da terra.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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