sábado, 29 de outubro de 2011

ESPANHA E PORTUGAL PEDEM AJUDA FINANCEIRA PARA AMÉRICA LATINA





Durante Cúpula Ibero-americana no Paraguai, europeus recorrem a suas antigas colônias para tentar reerguer suas economias, abaladas pela crise da dívida na zona do euro. Brasil teria demonstrado interesse em ajudar.

A crise da dívida que atinge a Europa é assunto dominante nos dois dias da 21º Cúpula Ibero-americana, que termina neste sábado (29/10), em Assunção. Ainda sem encontrar uma saída definitiva para a crise enfrentada por alguns de seus países-membros, a zona do euro busca ajuda de economias emergentes com alta liquidez, como China e Brasil.

"Pela primeira vez a América Latina não é parte do problema, mas sim da solução", disse o titular da Secretaria-Geral Ibero-americana (Segib), Enrique Iglesias. O economista apelou aos países da América Latina por solidariedade para com Espanha e Portugal, países os quais, segundo ele, fizeram investimentos importantes e crescentes no continente americano.

"Agora o processo é inverso, o que vai criar um balanço positivo entre as duas partes", disse o economista. "Esta cúpula coincide com um dos momentos mais confusos e turbulentos da economia mundial nos últimos 70 anos", ressaltou.

O encontro na capital paraguaia reúne os chefes de governo dos 19 países latino-americanos, além de Espanha e Portugal. A situação dos europeus ainda preocupa. Portugal precisou de recursos do fundo de resgate do euro para alavancar sua economia e a Espanha implantou duras medidas de austeridade para tentar reconquistar a confiança de seus investidores.

Ajuda brasileira

Depois de Grécia e Irlanda, Portugal foi o terceiro país da zona do euro a se ver obrigado a apelar para o pacote de resgate europeu. Seus parceiros no bloco e o Fundo Monetário Internacional (FMI) autorizaram uma injeção financeira no país de 78 bilhões de euros.

Para o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, a crise mundial obriga os países afetados a rever sua gestão política e econômica a fim de que possam se manter competitivos. Antes de sua chegada em Assunção, Coelho e o presidente português, Aníbal Cavaco e Silva, visitaram São Paulo e Brasília, onde se reuniram com a presidente brasileira, Dilma Rousseff. O teor da conversa entre os chefes de Estado durante a visita não-oficial não foi divulgado, mas há especulações de que os portugueses tenham interesse na participação de empresas brasileiras em processos de privatização em Portugal.

O Brasil – sétima maior economia do mundo – teria apresentado, segundo o FMI, planos para comprar títulos da dívida europeia juntamente com outros integrantes dos BRICS (que, além de Brasil reúne Rússia, Índia, China e África do Sul). A proposta brasileira, no entanto, teria sido retirada após a manifestação morna de seus parceiros emergentes.

Os europeus querem incrementar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) por meio de um instrumento chamado "veículo de inversão com propósito especial" (SPIV, sigla em inglês). Fontes do governo brasileiro afirmaram que o país está disposto a ajudar a Europa por meio de um acordo com o FMI, descartando no momento, porém, investir no SPIV, já que os detalhes do plano ainda não estão claros. A maior economia da América Latina acredita que rota bilateral, no qual o FMI repassaria recursos brasileiros a um país atribulado, seria a forma mais rápida de ajudar os países da zona do euro, que tentam recuperar a confiança dos mercados.

Grandes expectativas

A Espanha ainda não precisou de ajuda do fundo. No entanto, após o estouro da bolha imobiliária, o país alcançou um máximo histórico em sua taxa de desemprego, que alcançou 21,5% da população economicamente ativa – o mais alto da União Europeia. Além disso, a população espanhola vem se submetendo a duras medidas de austeridade introduzidas por Zapatero. Os mercados financeiros ainda se mostram desconfiados e pedem altas taxas de juros em troca de capital. Já os bancos espanhóis também enfrentam um grande desafio: reunir 26 bilhões de euros para elevar sua taxa de capital básico.

"Esta crise nos mostra que não há saídas isoladamente, por mais poderosos que sejam os países", afirmou o presidente paraguaio, Fernando Lugo, anfitrião do encontro, em seu discurso de abertura.

Antes do início da cúpula, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, afirmou que as expectativas para a cúpula eram grandes. " A América Latina está passando por um momento muito bom e esperamos que este encontro sirva para fortalecer vínculos", disse.

Durante o encontro também foi debatidos o papel dos governos na atual conjuntura financeira. Apesar da crise financeira, a América Latina prevê alcançar um crescimento médio este ano de 6%, embora a prosperidade não chegue a todos os habitantes. Um em cada três habitantes do continente vive na pobreza. A região é considerada como uma das mais desiguais do mundo no que diz respeito à distribuição de renda.

Autora: Eva Usi (msb)

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