Chefe do fundo de resgate europeu, Klaus Regling, viaja a Pequim e tenta atrair investimentos para salvar economia do bloco em crise. Cautelosos, chineses preferem esperar por detalhes sobre plano de recuperação do euro.
Ainda sem enxergar uma solução efetiva para pôr fim à crise da dívida que ameaça as economias do continente, a Europa busca ampliar ajuda externa. Nesta sexta-feira (28/10), o chefe do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), Klaus Regling, esteve em Pequim para buscar apoio financeiro da China. Nenhum acordo ainda foi fechado, mas Regling afirma estar confiante que o gigante asiático continuará comprando títulos emitidos pelo fundo de resgate.
O encontro com os chineses aconteceu um dia após líderes da zona do euro terem anunciado medidas para a busca de uma solução para a crise. Os chefes de governo e de Estado acertaram o perdão de 50% da dívida da Grécia e o fortalecimento do FEEF, que passará dos atuais 440 bilhões de euros para 1 trilhão de euros.
Assim que os europeus chegaram a um acordo em Bruxelas, nas primeiras horas da última quinta-feira (27/10), o presidente francês, Nicolas Sarkozy, já começou a buscar ajuda financeira na China por telefone, afirmando que Pequim "tem um papel importante a desempenhar".
O vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Fu Ying, cumprimentou os europeus pelo "resultado positivo" da cúpula do euro. Antes de ampliar seus investimentos no agora reforçado fundo europeu, porém, o país pretende aguardar os detalhes técnicos sobre o funcionamento do novo mecanismo, disse o vice-ministro chinês de Finanças, Zhu Guangyao. Ele classificou sua conversa com Regling como "bastante profissional".
A China é atualmente o mais importante investidor em títulos do FEEF. Guangyao espera que as novas condições para investimento sejam finalizadas entre o final de novembro e o início de dezembro.
Joseph Jannig, diretor de Estudo no Centro de Políticas Europeias em Bruxelas, ressalta os investimentos da China costumam ser dirigidos politicamente. Segundo ele, os europeus querem agora convencer os chineses que "eles têm interesse em contribuir para a estabilidade do sistema internacional".
Interesses comuns
Os líderes da zona do euro agora estão sob pressão para concluir rapidamente os detalhes do fundo, a fim de melhor convencer a China e outros eventuais investidores a apoiarem o bloco. Os ajustes finais do FEEF devem esclarecer a maneira como serão alavancados recursos. Espera-se que ele ofereça alternativas de investimento mais atraentes do que os títulos estatais.
"Todos nós sabemos que a China tem uma necessidade particular de investir seu superávit", afirmou Regling em uma coletiva de imprensa. A China é o país com o maior volume de reservas em moeda estrangeira no mundo – 3,2 trilhões de dólares. O chefe do FEEF ressaltou que o resgate à Grécia foi um caso excepcional, e que não deve se repetir com outros países.
Especialistas acreditam que a negociação deve ser produtiva e os europeus receberão dinheiro asiático. Para Jonathan Holslag, do Instituto de Estudos Contemporâneos sobre a China em Bruxelas, os chineses devem acabar investindo no fundo, ainda que para eles não seja "uma questão de escolha, mas sim de necessidade".
"Sabemos que eles estão tentando diversificar seus investimentos globais e não apenas colocar todos os ovos na cesta do dólar", avalia Holslag. "Eles têm que participar de uma maneira ou de outra da estabilização do euro se quiserem manter sua atual política monetária".
Holslag admite, porém, que a zona do euro não é tão atrativa quando os líderes europeus tentam destacar, e que o entusiasmo asiático é bem menor que há alguns anos. "Os chineses perderam sua confiança na Europa como um ator político, uma economia de liderança, e como um modelo para construir um estado de prosperidade e desenvolvimento social", afirma Holslag. Ele acredita ainda que os chineses hoje em dia enxergam o Velho Mundo como um "grupo arruinado de países decadentes, que não merecem o produto do árduo trabalho da China".
Toma lá, dá cá
O professor de Estudos Europeus do Instituto de Estudos Estrangeiros de Pequim, Liu Liqun, confirma o ceticismo chinês, mas ele também acredita que o país deve ajudar, embora não incondicionalmente. "Se ajudarmos, vamos esperar algo em troca", diz ele, citando como exemplo o fim da "política discriminatória" contra Pequim, revogando o embargo de armas e também elevando seu status para economia de mercado – pedidos que os líderes europeus talvez não estejam dispostos a atender.
O vice-diretor da consultoria econômica Brügel, Guntram Wolff, avalia que a Europa pode se beneficiar de algumas concessões. "É óbvio que se você fornece dinheiro a alguém, vai querer algo em troca. Mas talvez seja possível que os chineses contentem-se com os lucros dos juros e de certas reformas estruturais, como na Itália e em outros países da zona do euro, o que vai garantir a segurança de seus investimentos. E isso não seria nada mal", diz Wolff.
Papel de avalista
Para o ministro francês das Finanças, François Baroin, investimentos da China, "o terceiro maior acionista da Fundo Monetário Internacional", ajudariam a inspirar a confiança de outros investidores na Europa. "O que está acontecendo na Europa e criando instabilidade é que investidores públicos e privados estão pulando fora", afirmou Baroin.
Muitos mercados financeiros estão preocupados que o fundo não seja amplo o suficiente para cobrir eventuais dificuldades da Itália e da Espanha, caso os dois países se afundem ainda mais na crise.
A Suíça afirmou estar avaliando a possibilidade de participar do FEEF por meio de um investimento especial. A ideia, porém, tem grandes chances de encontrar barreira na oposição por conta do tradicional ceticismo suíço com relação ao euro.
A Noruega, porém, cujo fundo de petróleo de 572 bilhões de dólares é o maior investidor em ações europeias, disse ter menos de 100 milhões de euros em investimentos no FEEF e afirmou que não investe em qualquer esquema de resgate do euro que tenham elementos de auxílio.
MSB/dw/rts/dpa - Revisão: Francis França
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