segunda-feira, 24 de outubro de 2011

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 53




MARTINHO JÚNIOR

REINVENTANDO MAQUIAVEL – OS PIORES FINS JUSTIFICAM OS MELHORES MEIOS

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
 
Dizia eu em “Dilatar a fé e o império” (Rapidinha 51) e eu lembro:

“Compreende-se agora melhor que nunca a razão da ditadura de Salazar ter sido o único fascismo aceite na fundação da NATO: 60 anos depois, uma tenebrosa ditadura financeira, aquela que move o império tisnado de cultura anglo saxónica, impõe o fim da soberania das "velhas" nações europeias e Portugal constituir um dos primeiros sinais dessa decadência e desse colapso, mais ainda que no tempo do ultimatum britânico ao mapa cor de rosa!

Nesse aspecto a super estrutura ideológica do estado fascista de Salazar foi um precursor da ideologia fomentada na origem pelo par George Bush e Tony Blair, para promoverem sucessivamente as ingerências nos Balcãs, no Iraque, no Afeganistão e na Líbia, em nome duma civilização ocidental que não passa duma manipulação da poderosa aristocracia financeira mundial, evidenciando uma espécie de feudalismo adaptado ao século XXI, tão do agrado de algumas das correntes católicas inerentes ao próprio Vaticano, como à arcaica sociedade portuguesa, cuja mentalidade-padrão remonta aos tempos da Inquisição e dos Cristão Novos!”

Poderão alguns dizer que eu me esteja a manifestar de forma subjectiva, o que eu todavia repudio: há de facto argumentos muito objectivos que me obrigam à conclusão a que fui chegando e de entre eles não posso esquecer quanto a super estrutura ideológica, tanto das classes dominantes como das classes menos favorecidas em Portugal, inclusive sintomaticamente por via dos partidos mais conservadores, recorre às correntes mais fundamentalistas da Igreja Católica Apostólica Romana, para fazerem prevalecer essa sua própria “representatividade” nas instituições “democráticas” ou não, dentro e fora do estado.

Ao mesmo tempo que enormes substratos da sociedade portuguesa reflectem “na transversal”, a mentalidade medieval transportada de geração em geração pelos fieis, esses partidos, ao reinterpretar a mentalidade padrão cultivada através das formas de agir, de pensar e de se comportar desses substratos, assim como de muitos usos e costumes que foram sendo “respeitados”, estimulam na super estrutura ideológica e nos instrumentos de poder do estado procedimentos que lhes são aferidos e muitas vezes lhes são afins.

A “civilização ocidental” tem muito que ver com a ideologia dominante que a Igreja Católica Romana impregnou, de forma tão persuasiva, influente e paciente, “transmitindo de acordo com os seus ensinamentos”, inclusive e sobretudo para dentro das instituições castrenses, com reflexos na própria história do país.

A Concordata assinada a 7 de Maio de 1940 entre o Estado Novo de Salazar e a Santa Sé (http://pt.wikisource.org/wiki/Concordata_de_1940) diz o seguinte em relação aos capelães militares:

“Artigo 18°

A República Portuguesa garante a assistência religiosa em campanha, às forças de terra, mar e ar e, para este efeito, organizará um corpo de capelães militares que serão considerados oficiais graduados. O Bispo que desempenhar as funções de Ordinário Castrense, será nomeado pela Santa Sé de acordo com o Governo. Para as expedições coloniais poderá ser nomeado Ordinário Castrense um Bispo que tenha sede na respectiva colónia. O Ordinário Castrense pode nomear, de acordo com o Governo, um Vigário Geral. Os capelães militares serão nomeados, de entre os sacerdotes apurados para os serviços auxiliares, pelo Ordinário Castrense, de acordo com o Governo. Os capelães militares têm jurisdição paroquial sobre as suas tropas, e estas gozam, quanto aos seus deveres religiosos, dos privilégios e isenções concedidos pelo Direito Canónico”.

Foi com essa Concordata em vigor que Portugal entrou na NATO a 4 de Abril de 1949, o único estado de carácter fascista a tornar-se membro fundador dessa Organização (“60 anos de parceria” – http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=8787:portugal-e-nato-60-anos-de-parceria&catid=46:direitos-nacionais-e-imperialismo&Itemid=61) e foi com essa Concordata em vigor que Portugal levou a cabo a guerra colonial de durou pouco mais de 13 anos em três territórios africanos tão distintos como Angola, Moçambique e Guiné Bissau!

Para lá da integração dos capelães nos efectivos que embarcavam para o “ultramar”, o recrutamento obrigatório beneficiava dos jovens que se formavam nas escolas católicas mais diversas e até nos seminários.

Muitos desses jovens faziam o curso de oficiais e sargentos milicianos e, colocados nas sub unidades ao nível de companhia ou batalhão, compunham uma parte substancial da hierarquia comprometida com a concepção e execução operacional!...

Se essa situação foi alterada com o 25 de Abril, o conservadorismo político-social português em novo figurino voltou a firmar, de forma um pouco mais refinada, a nova Concordata com a Santa Sé assinada a 18 de Maio de 2004 (http://pt.wikisource.org/wiki/Concordata_de_2004), que em relação ao quadro de capelães militares estabelece o seguinte:

“Artigo 17

1. A República Portuguesa garante o livre exercício da liberdade religiosa através da assistência religiosa católica aos membros das forças armadas e de segurança que a solicitarem, e bem assim através da prática dos respectivos actos de culto.

2. A Igreja Católica assegura, nos termos do direito canónico e através da jurisdição eclesiástica de um ordinário castrense, a assistência religiosa aos membros das forças armadas e de segurança que a solicitarem.

3. O órgão competente do Estado e a autoridade eclesiástica competente podem estabelecer, mediante acordo, as formas de exercício e organização da assistência religiosa nos casos referidos nos números anteriores.

4. Os eclesiásticos podem cumprir as suas obrigações militares sob a forma de assistência religiosa católica às forças armadas e de segurança, sem prejuízo do direito de objecção de consciência”.

Com uma sociedade tão conservadora sob o ponto de vista sócio-cultural, não serão assim tantos os militares que não são fieis.

Julgo também que não há outro documento similar entre o estado português post 25 de Abril e outra qualquer religião!

Por outro lado muitos símbolos militares não sofreram alteração sequer com o 25 de Abril e entre eles destaco o da cruz de Cristo: quer nas brancas velas da Sagres, quer nas asas dos aviões de combate portugueses.

O que é facto, ainda agora sublinhado em plena época de crise-recessão, é que o eleitorado português prefere os partidos conservadores no poder, que a busca de qualquer outra alternativa: quantas vezes não terá o povo português, sem pestanejar nem hesitar, de dar a cara às mais brutais bofetadas que lhe têm vindo a ser infligidas?

Perante esta situação, as Forças Armadas Portuguesas, ao nível de sub unidades (companhia e batalhão), só estão a cumprir missões militares operacionais fora de Portugal, não mais no âmbito das vocações nacionais próprias, mas ao serviço da NATO, nos Balcãs, no Iraque, ao largo da costa da Somália e no Afeganistão, ou seja: essa Concordata serve também aos efectivos portugueses presentes nos compromissos internacionais da NATO e por conseguinte “abençoa” as acções e enredos da própria NATO!

George Bush e Tony Blair sabiam muito bem o que faziam quando a partir dos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001 estimularam a “cruzada” contra o “terrorismo” e contra os “infiéis fundamentalistas muçulmanos”; sabiam-no tão bem que não foi difícil levar a NATO para teatros de operações fora da amplitude original dessa organização, em reforço do seu potencial militar hegemónico!

Foto: Navio escola Sagres, embaixador de Portugal nos mares do mundo e navio emblemático da mais antiga Marinha de Guerra do Mundo.

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